Nascido em Arequipa, em 28 de março de 1936, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 2010
Por Maria José Rocha Lima - 17/04/2025 10:31:47 | Foto: Reprodução
“Ninguém nos representou tanto quanto ele no mundo por sua obra em geral, sua teimosia, sua limpeza, sua enormidade”, declarou o escritor peruano Alfredo Bryce Echenique.
Nascido em Arequipa, em 28 de março de 1936, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 2010. O escritor peruano morreu neste domingo, em Lima, aos 89 anos. Seu funeral será reservado, coerente com o que escreveu em A Sociedade do Espetáculo. Vargas Llosa declarou certa vez que gostaria de ser lembrado por sua escrita e seu trabalho, apesar de seu engajamento político e social, também presente em sua obra.
Foi agraciado por renomadas instituições acadêmicas. Recebeu os prêmios Rómulo Gallegos (1967), Princesa das Astúrias (1986), Planeta (1993), Miguel de Cervantes (1994), Jerusalém (1995), National Book Critics Circle Award (1997), PEN/Nabokov (2002), Mundial Cino Del Duca (2008) e o Nobel (2010). Em 2011, foi elevado à nobreza espanhola pelo rei Juan Carlos I, com o título hereditário de Marquês de Vargas Llosa. Detinha a cidadania espanhola desde 1993, sem renunciar à peruana. Nesse ano, publicou Peixe na Água, onde narra sua campanha presidencial de 1990, a derrota, memórias da infância, a vida na Europa e o retorno à literatura em tempo integral.
Recebeu diversos títulos de doutor honoris causa por universidades da Europa, América e Ásia. Era membro da Academia Peruana de Línguas desde 1977, da Real Academia Espanhola desde 1994, e da Academia Brasileira de Letras desde 2014. Em 2023, tornou-se o primeiro escritor sem obra em francês a ingressar na Academia Francesa. A instituição anunciou sua morte com um comunicado: “Com sua obra, ele opôs a liberdade ao fanatismo, a ironia aos dogmas, um ideal tenaz diante das tempestades do século”.
Ao receber o Nobel, foi destacado por sua “cartografia das estruturas de poder e imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual”. Vargas Llosa afirmou: “Sou um escritor e gostaria de ser lembrado – se for lembrado – pela minha escrita e pelo meu trabalho. Quando escrevo literatura, as ideias políticas são secundárias. A literatura compreende um horizonte mais vasto da experiência humana”. Mas reconhecia que, para um latino-americano, era difícil evitar a política, dado o peso dos problemas sociais, cívicos e morais.
Ainda jovem, apoiou Fidel Castro e a Revolução Cubana, mas depois tornou-se defensor da democracia liberal. Candidatou-se à presidência do Peru em 1990 por uma coligação de centro-direita, enfrentando Alberto Fujimori. Sua mudança de posição política gerou polêmicas, mas Vargas Llosa manteve-se crítico a ditaduras de qualquer viés, como a de Cuba e a do Chile de Pinochet.
Começou influenciado pelo existencialismo de Sartre. Seu segundo romance, A Cidade e os Cães (1963), projetou sua fama. Vieram obras como A Casa Verde (1966), Conversa na Catedral (1969), A Tia Júlia e o Escrevedor (1977).
Em 1981, lançou A Guerra do Fim do Mundo, baseado na Guerra de Canudos, dedicado a Euclides da Cunha. Para escrevê-lo, percorreu arquivos no Rio e em Salvador, embrenhou-se no sertão baiano e sergipano. A obra tornou-se um épico latino-americano. “Peregrinei por todas as vilas onde, segundo a lenda, o Conselheiro pregou”, escreveu. Em sua narrativa, Antônio Conselheiro ganha nova dimensão, com olhos que “flamejavam com um fogo perpétuo”, liderando seus seguidores à morte. A obra trata o conflito como choque entre modernidade e tradição.
Publicou dezenas de livros, entre eles A Sociedade do Espetáculo, e em 2024 lançou seu último romance: Dedico-lhe o Meu Silêncio. O funeral, conforme sua vontade, será discreto.
Chefes de Estado, escritores e instituições lamentaram sua morte. O presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo, chamou-o de “mestre da palavra e intérprete da América Latina”. Gabriel Boric, do Chile, disse: “Vargas Llosa foi um gigante, que descreveu a América Latina com uma caneta de lágrimas reais em uma ficção delicada e questionadora”. Emmanuel Macron o chamou de “gênio das letras”. Pedro Sánchez, da Espanha, declarou: “Um mestre universal da palavra”. Álvaro Uribe, ex-presidente da Colômbia, escreveu: “Nos deixa obra, admiração e exemplo. Um rumo para o futuro”. A Fundação Gabo o chamou de “mestre e figura fundamental da literatura latino-americana”.
“Meu pai era uma pessoa universal, então é natural essa comoção além das fronteiras. Mas nunca imaginamos que tomaria essa proporção. Só temos gratidão pelas mensagens do mundo inteiro. Decidimos viver esse luto de forma reservada. Por isso, optamos por velá-lo em casa e pedimos que respeitem essa privacidade”, disse seu filho Álvaro, emocionado:
“Só posso dizer que o Peru perdeu um de seus melhores homens e nós, um ser humano infinito. Mas nos resta a lembrança do grande pai que ele foi.”
Comentários para "Por Maria José Rocha Lima: Vargas Llosa; um luto que atravessa as fronteiras do mundo":