Por João Zisman: Mudança no I.R. soa como promoção enganosa com cheiro de eleição 2026

A alegria é minha, o troco é seu.

Por João Zisman: Mudança no I.R. soa como promoção enganosa com cheiro de eleição 2026
Por João Zisman: Mudança no I.R. soa como promoção enganosa com cheiro de eleição 2026

Por João Zisman - 02/04/2025 11:25:22 | Foto: Divulgação

Anunciar isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil soa como música aos ouvidos de quem passa o mês tentando equilibrar a planilha da vida com o extrato do banco. É uma medida simpática, generosa no tom e quase irresistível do ponto de vista político. Mas quando o Estado alivia de um lado, pode apostar que está com a outra mão no bolso de alguém.

Claro que é justo desonerar os que ganham menos. Já passou da hora de o sistema tributário brasileiro reconhecer que a classe média baixa não pode continuar bancando a farra de um Estado pesado, ineficiente e cada vez mais dependente de jeitinhos para fechar as contas. Mas a proposta vem embalada numa lógica que parece mais preocupada com a próxima eleição do que com a próxima geração.

A pergunta que não quer calar é: quem vai pagar a conta? Porque a conta existe, e virá. O governo fala em aumentar a tributação dos mais ricos, o que, em tese, soa como justiça social. Mas até hoje não conseguiu encarar os verdadeiros intocáveis, quem vive de lucros e dividendos, heranças vultosas, estruturas de planejamento sofisticadas e uma legislação feita sob medida para manter tudo como está.

No meio do caminho, sobra pra quem ganha um pouco mais, mas não o suficiente para contratar um bom planejador tributário. O sujeito que estudou, batalhou, subiu um ou dois degraus na vida e agora vai ser promovido à nova elite tributável. Essa é a armadilha da “justiça de ocasião”, alivia os de baixo, mas penaliza quem está ao alcance do fisco, e não quem realmente poderia contribuir mais.

Além disso, há o componente simbólico. Uma medida que deveria nascer de uma ampla reforma do sistema, com base em critérios técnicos e visão de longo prazo, é apresentada em ano pré-eleitoral como um trunfo de popularidade. E o Brasil já viu esse filme antes, prometer muito, executar pouco e deixar a conta para quem vem depois.

No fim das contas, talvez seja mesmo como aquelas promoções enganosas, leve dois, pague três. A alegria é minha, o troco é seu.

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