Avanços legais ainda contrastam com exploração do trabalho doméstico

Campanha Nacional pelo Trabalho Doméstico Decente alerta para cenário

Avanços legais ainda contrastam com exploração do trabalho doméstico
Avanços legais ainda contrastam com exploração do trabalho doméstico

Luiz Claudio Ferreira - Repórter Da Agência Brasil - 25/04/2025 10:30:10 | Foto: © Pixabay

A evolução da legislação em contraste com a realidade de exploração das trabalhadoras domésticas no Brasil é um dos principais desafios de gestores públicos e também de quem atua para impedir violações de direitos dessa categoria profissional. Essa é a avaliação da auditora fiscal do trabalho Carla Galvão de Souza, coordenadora Nacional de Fiscalização do Trabalho Doméstico e de Cuidados, da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego

Souza participou, na última quarta-feira (23), do lançamento da Campanha Nacional pelo Trabalho Doméstico Decente, no Recife. A iniciativa do governo federal, liderada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foi realizada às vésperas do dia dessas profissionais, celebrado no próximo domingo, 27 de abril.

Apesar da data, a campanha é permanente. Ao longo de todo o ano, auditores-fiscais, por exemplo, distribuem, durante suas fiscalizações, cartazes informativos sobre direitos trabalhistas para condomínios residenciais exibirem nas áreas comuns e elevadores, bem como cartilhas para trabalhadoras e empregadores domésticos.

A auditora Carla Galvão de Souza explicou que a campanha busca mobilizar e sensibilizar a sociedade, promover diálogo com entidades de empregadores e da categoria, e também ampliar a fiscalização para averiguar se há cumprimento das obrigações trabalhistas que estão na Lei Complementar 150 e na Constituição Federal.

>>> Saiba mais:

Confira a PEC das Domésticas, que completou 12 anos
Conheça também a regulamentação da PEC, que faz 10 anos em junho
Carla Galvão de Souza ressalta que há avanços a celebrar, principalmente em relação à valorização cada vez maior dos direitos para essa categoria. Ela também destaca que a divulgação desses direitos tem sido expressiva na repercussão de casos de resgates de pessoas em situação análoga à escravidão.

A auditora recordou que, em 1º de maio de 2024, houve a publicação da Lei 12.009, em prol do trabalho doméstico decente. “Foi um grande ganho dos últimos anos. O nosso desafio agora é realmente colocá-la em prática. Ainda hoje nós temos direitos que não são iguais para as trabalhadoras domésticas”, afirmou.

A Lei 12.009 de 2024 promulgou os textos da Convenção sobre o Trabalho Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos (nº 189) e da Recomendação sobre o Trabalho Doméstico Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos (nº 201), da Organização Internacional do Trabalho.

A Convenção 189 da OIT reconhece a contribuição significativa dos trabalhadores domésticos para a economia global e destaca que o trabalho doméstico continua sendo subvalorizado e invisível, de modo que se faz necessária a adoção de medidas e proposições para a concretização do trabalho doméstico decente.

Caminho de direitos
Um exemplo é o seguro-desemprego para trabalhadoras domésticas, restrito a três parcelas ─ os outros trabalhadores recebem durante cinco meses. Outro problema, pontua a auditora, é que há ainda pessoas ganhando menos de um salário mínimo.

“A última Pnad aponta que, em algumas regiões do país, se ganha menos do que um salário mínimo. Isso é uma problemática grande que a gente tem que enfrentar”.

Em 2022, por exemplo, o rendimento médio mensal de todas as trabalhadoras domésticas foi de R$1.018, abaixo do salário-mínimo que era de R$ 1.212. Além disso, as trabalhadoras brancas receberam em média R$ 1.145, enquanto as trabalhadoras negras receberam R$ 955.

Jornadas
Algo que tem sido observado pelos auditores é a falta de controle das jornadas, o que incluem os casos, por exemplo, de pessoas que dormem na casa do patrão, sem que haja um fim do expediente.

“Isso inviabiliza que trabalhadoras tenham o seu direito de horas extras, de adicional noturno, de folga nos feriados”.

A auditora fiscal do trabalho lembra que a garantia de direitos da categoria teve um baque durante a pandemia, com diminuição no número de trabalhadoras registradas, e que o cenário não se reverteu.

"Nós continuamos ainda com um número muito alto de pessoas tidas como diaristas”, lamenta.

A auditora explica que há 5,8 milhões de trabalhadores domésticos no país, e que as mulheres são 90%. “A maioria são mulheres pretas ou pardas. E estão na faixa etária entre 40 e 60 anos”.

Sem registros
A falta de registros dos trabalhadores domésticos é a principal preocupação dos fiscais, segundo a coordenadora Nacional de Fiscalização do Trabalho Doméstico e de Cuidados.

“A categoria do trabalhador doméstico é uma categoria que ainda tem altos índices de informalidade, cerca de 76%, segundo os últimos dados", descreve. “Muitos empregadores acabam pagando por fora o valor de um dia trabalhado, ou um feriado trabalhado extra. Por isso, não há o pagamento na folha de pagamento no e-social de forma correta. Outros desrespeitos são aos direitos ao 13º salário e às férias remuneradas”

Ela critica ainda que há uma visão dos empregadores sobre quem presta serviço doméstico de que há servidão, sem que sejam reconhecidos o conhecimento prévio e a profissionalização.

“Essa falta de reconhecimento, de valorização do trabalho e do nível de profissionalização que é exigido, é o que mais me impressiona. É como se as pessoas trabalhadoras fossem vistas como substituíveis a qualquer tempo e como se esse saber fosse descartável”


Edição:
Vinicius Lisboa

Comentários para "Avanços legais ainda contrastam com exploração do trabalho doméstico":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório