No quesito clima, não há empate entre propostas de Kamala e Trump nos EUA
São Paulo, Sp (folhapress) - 01/11/2024 18:15:50 | Foto: Donald Trump e Kamala Harris, candidados à presidência dos Estados Unidos – Fotomontagem Jornal da USP feita com imagens de Domínio público/Wikimedia Commons, Shaleah Craighead – Domínio público/Wikimedia Commons e Lawrence Jackson – Domínio público/Wikim
Em meio a uma controvérsia entre veículos de mídia americanos sobre anunciar ou não apoio a algum candidato nas eleições da próxima terça-feira (5), a revista britânica The Economist declarou que endossa a campanha da democrata Kamala Harris.
Num editorial intitulado "Um segundo mandato de Trump traz riscos inaceitáveis", a Economist afirma que, comparada ao republicano, Kamala "representa estabilidade".
Apesar de parecer "indecisa e insegura" e decepcionante do ponto de vista político, escreve a revista, a democrata "abandonou as ideias mais esquerdistas dos democratas" e se aproximou do centro, ao lado de Liz Cheney -ex-deputada e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney- e outros exilados republicanos.
"É difícil imaginar Kamala sendo uma presidente estelar, embora as pessoas possam surpreender. Mas você não pode imaginá-la causando uma catástrofe."
Trump, por outro lado, não teria capacidade de unir o país, como fazem bons presidentes, pois seu gênio político é "colocar as pessoas umas contra as outras".
Referência entre liberais democratas em todo o mundo, a Economist admite que seus "piores medos" sobre o primeiro mandato de Trump não se concretizaram e que a economia andou bem sob a gestão dele, mas alerta que agora "os riscos são maiores".
Isso porque, sustenta a revista, as políticas do candidato republicano "são piores, o mundo é mais perigoso e muitas das pessoas sóbrias e responsáveis que controlaram seus piores instintos durante seu primeiro mandato foram substituídas por verdadeiros crentes, bajuladores e oportunistas".
A Economist critica propostas protecionistas de Trump, como a de impor uma tarifa de 20% sobre todas as importações e taxar carros produzidos no México de 200% a até 500% e a promessa de deportar milhões de imigrantes em situação irregular, muitos com empregos e filhos americanos.
"Essas políticas seriam inflacionárias, potencialmente criando um conflito com o Federal Reserve [o Banco Central dos EUA]. Elas arriscariam desencadear uma guerra comercial que acabaria empobrecendo a América", argumenta a publicação.
Para a revista, a economia dos EUA "é a inveja do mundo, mas isso depende de ser um mercado aberto que abraça a destruição criativa, a inovação e a competição. Às vezes parece que Trump quer retornar ao século 19, usando tarifas e isenções fiscais para recompensar seus amigos e punir seus inimigos, bem como para financiar o Estado e minimizar os déficits comerciais. A política ainda pode destruir as fundações da prosperidade dos EUA".
Além disso, aponta a Economist, agora há duas guerras em curso (na Ucrânia e no Oriente Médio), nas quais os EUA têm papel preponderante, e as "promessas superficiais" de Trump de "trazer paz à Ucrânia em um dia e seu incentivo aberto às ofensivas de Israel não são tranquilizadoras".
Na última sexta (25), o jornal The Washington Post, um dos mais influentes dos EUA, anunciou que não vai mais declarar apoio a qualquer candidato à Presidência, rompendo com décadas de tradição. A decisão provocou a demissão de editores e uma onda de cancelamento de assinaturas. O diário Los Angeles Times fez o mesmo.
Comentaristas e acadêmicos interpretaram o recuo como o primeiro sinal de uma escalada autoritária em um possível novo governo Trump.
Veja quem os principais veículos apoiam nesta eleição
Trump
New York Post
Washington Times
Las Vegas Review-Journal
Kamala
The Atlantic
The New Yorker
The New York Times
The Economist
Boston Globe
Las Vegas Sun
Vogue
Rolling Stone
Seattle Times
Sem apoio declarado
Washington Post
LA Times
USA Today
Chicago Tribune
Denver Post
No quesito clima, não há empate entre propostas de Kamala e Trump nos EUA
GIULIANA MIRANDA MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - As campanhas de Donald Trump e Kamala Harris têm propostas contrastantes para clima e meio ambiente. Enquanto a candidata democrata defende projetos de descarbonização e investimentos robustos em energias renováveis, o republicano, que já chamou a crise climática de farsa, insiste no avanço dos combustíveis fósseis e na rejeição de acordos internacionais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Maior economia do planeta e líder nas emissões per capita –atrás apenas da China em valores absolutos–, os Estados Unidos podem influenciar os rumos das políticas climáticas globais.
Enquanto presidente, Trump revogou mais de uma centena de regras ambientais, incluindo normativas sobre poluição do ar e das águas e de emissões de CO2. Em junho de 2017, o republicano retirou os EUA do Acordo de Paris, compromisso firmado pela comunidade internacional em 2015 para limitar o aquecimento global. O país foi reintegrado ao instrumento em 2021, após a posse de Joe Biden.
Em seu plano político nesta campanha, batizado de Agenda 47, Trump promete voltar a retirar os EUA do acordo, além de defender a liberação rápida de todos os projetos de geração de energia, incluindo os combustíveis fósseis, como forma de baixar rapidamente os preços aos consumidor.
Na convenção republicana, em julho, quando aceitou oficialmente a nomeação do partido, Trump deixou claro que pretende ampliar a extração de petróleo e gás. "Nós vamos perfurar, baby, perfurar", disse.
O republicano também quer cancelar os incentivos da administração Biden para a adoção de veículos elétricos, "reduzindo regulamentações dispendiosas e onerosas".
Embora tenha suavizado o discurso na atual campanha, o ex-presidente coleciona falsas afirmações sobre as mudanças climáticas. Em agosto, em conversa com o bilionário Elon Musk na rede social X, Trump relativizou a ameaça do aquecimento global e do aumento do nível dos oceanos, afirmando que esse cenário irá criar "mais propriedades à beira-mar".
Kamala, por outro lado, já definiu as mudanças climáticas como uma "ameaça existencial". No discurso em que aceitou a nomeação democrata, a candidata incluiu, em meio à defesa das liberdades fundamentais dos americanos, "a liberdade de respirar ar puro, beber água limpa e viver livre da poluição que alimenta a crise climática".
Quando foi procuradora-geral da Califórnia, entre 2011 e 2017, Kamala atuou em várias causas ligadas ao meio ambiente. Antes, como promotora distrital de San Francisco, criou uma unidade de justiça ambiental.
Depois de ser eleita para o senado, em 2017, endossou projetos de lei relacionados ao tema. Já como vice-presidente, deu o voto decisivo para a aprovação da lei de redução da inflação, que destina mais de US$ 350 bilhões para investimentos em energia renovável e redução de gases de efeito estufa.
A candidata já se opôs ao fracking, a técnica de extração de petróleo e gás natural que permitiu aos EUA ampliar significativamente sua produção. O método é criticado por ambientalistas pelo risco de contaminação de águas subterrâneas, entre outros problemas.
Em uma manobra interpretada como forma de atrair eleitores na Pensilvânia, grande produtor de gás natural, Kamala mudou o discurso. "O que eu vi é que podemos crescer e ampliar uma economia de energia limpa próspera sem banir o fracking", disse em uma entrevista à CNN em agosto.
Ainda assim, desde a confirmação de sua entrada na corrida presidencial, a democrata vem sendo endossada por várias organizações ambientais, como o Sierra Club e o Sunrise Movement, por cientistas, inclusive com uma carta assinada por 82 laureados com o prêmio Nobel. No quesito propostas para o clima e o ambiente, não há empate técnico entre os candidatos.
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