Solução para Master pode passar por liquidação privada de ativos que não ficam com BRB

Forte no Nordeste, Will Bank de Vorcaro é aposta do BRB para entrar no mercado de bancos digitais

Solução para Master pode passar por liquidação privada de ativos que não ficam com BRB
Solução para Master pode passar por liquidação privada de ativos que não ficam com BRB

Adriana Fernandes, Brasília, Df (folhapress) - 13/04/2025 17:44:19 | Foto: Divulgação

A liquidação privada dos ativos e passivos do Master que não fizerem parte da transação de compra do banco de Daniel Vorcaro pelo BRB (Banco de Brasília) entrou na mesa de negociação.

A proposta envolveria o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que garante os depósitos e as aplicações até R$ 250 mil, de acordo com pessoas a par das discussões ouvidas pela Folha. O fundo tem os grandes bancos privados como os maiores contribuintes.

Ao longo da última semana, a alternativa de vender e renegociar todos os ativos e passivos do Master que não forem para o BRB passou a ser considerada após o banco do governo do DF sinalizar que ficaria com uma fatia menor da empresa de Vorcaro.

Isso permitiria uma redução do escopo do negócio, anunciado pelo banco distrital no dia 28 de março. O acordo divulgado inicialmente pelo presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, previa um valor de R$ 23 bilhões de ativos de maior risco e menor liquidez do Master a serem apartados do negócio.

Essa parcela do Master comprada pelo BRB tem sido chamada no mercado bancário de "good bank" (banco bom), e o restante de "bad bank" (banco ruim). O "bad bank" é que passaria por um processo de liquidação privada, possivelmente por um banco contratado.

Nesse desenho, o BRB ficaria com as operações de crédito ao consumidor, o Credcesta (cartão consignado exclusivo para servidores públicos, aposentados e pensionistas), o Will Bank (braço digital) e outros ativos. Um montante agora calculado em torno de R$ 33 bilhões pelo banco do DF.

Nesse novo arranjo, a auditoria contratada pelo BRB está analisando os contratos e uma fatia boa do crédito seria incluída também no chamado "bad bank", junto com precatórios, direitos creditórios de ações judiciais e ações de empresas.

O "bad bank" ficaria com um tamanho semelhante ao do "good bank", e o Master seria dividido: mais ou menos metade para cada lado.

Nessa alternativa em discussão, o FGC coordenaria esse processo e poderia contratar um terceiro para fazer o trabalho de liquidação dos ativos. O conselho e o jurídico do FGC teriam que aprovar a solução. Como essa é uma operação muito grande, o mais viável seria a escolha de um banco para fazer o negócio.

Um participante da discussão explicou que o modelo de separação do "good bank" e "bad bank" é comum no mercado bancário e cita os casos dos anos 1990, quando o Unibanco comprou o Nacional e quando o HSBC adquiriu os ativos saudáveis do Bamerindus após o Banco Central decretar a intervenção e depois a falência extrajudicial do banco de José Eduardo de Andrade Vieira, senador e ministro influente em Brasília.

Na época, quando as negociações com o Bamerindus chegaram a um impasse, a diretoria do BC resolveu decretar a intervenção. A reportagem da Folha ouviu quatro pessoas envolvidas na discussão, que não descartam a possibilidade de intervenção se não houver acordo dos quatro maiores bancos privados, do FGC e do BC para o impasse em torno do Master.

Um deles afirma que o BC, como órgão regulador do sistema bancário, "pode tudo". A autoridade monetária analisa todas as propostas na mesa e olha também o custo não apenas para os investidores, os bancos e o FGC, mas também para a estabilidade do sistema financeiro. O processo só pode andar, na prática, quando o BRB detalhar o escopo do negócio. O BC vai analisar a operação do Master como um todo, incluindo o "bad bank".

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, já se reuniu com os dirigentes do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG Pactual, além de Daniel Vorcaro e o time do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.

Uma proposta oficial ainda não foi apresentada ao FGC. Nesta sexta (11), Vorcaro e o presidente do BRB estiveram novamente na sede do BC em reuniões com Galípolo e diretores. A presidente do BB (Banco do Brasil), Tarciana Medeiros, também se reuniu com Galípolo, no final do dia. Os grandes bancos públicos, BB e Caixa Econômica Federal, se queixam nos bastidores de não estarem participando das discussões com o FGC, já que são grandes contribuintes ao fundo.

Forte no Nordeste, Will Bank de Vorcaro é aposta do BRB para entrar no mercado de bancos digitais

ADRIANA FERNANDES E THAÍSA OLIVEIRA, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com forte ação no Nordeste, o Will Bank é a aposta do BRB (Banco de Brasília) para entrar no mercado de serviços digitais e ampliar a base de clientes nas classes C e D. A empresa será o braço digital do BRB e faz parte da transação de compra de 58% do capital do Master, do banqueiro Daniel Vorcaro.

O negócio com o Master ainda depende de autorização do Banco Central, mas o comando do BRB vê a aquisição do Will Bank como estratégica para a operação. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, dos ativos que farão parte do negócio e dos que serão apartados da transação.

Para o BRB, trata-se de uma plataforma tecnológica e de um time jovem de colaboradores que permitem agregar expertise nesse segmento e crescer mais rapidamente na oferta de serviços digitais. O Will Bank tem hoje 9 milhões de clientes, segundo informou à Folha a assessoria de Vorcaro.

Auditores contratados pelo BRB devem terminar na próxima semana a análise dos números do Master para definir o que tecnicamente é chamado de "perímetro" da operação. Ou seja, a parte do banco da Faria Lima que foi comprada pelo BRB.

No dia do anúncio do acordo de compra e venda, em 28 de março, o BRB entregou uma série de documentos ao Banco Central com a previsão de R$ 23 bilhões de ativos de maior risco e menor liquidez que seriam cindidos da operação, como precatórios, direitos creditórios relativos a processos judiciais e fundos de ações de empresas.

De lá para cá, o valor já subiu para R$ 33 bilhões com a inclusão de uma fatia do crédito. Sem saber o tamanho do negócio, o BC não tem como concluir a análise da operação. Para a autoridade monetária, a solução para o Master envolve as duas partes do banco, a que fica com o BRB e os ativos remanescentes.

O Will Bank foi citado pelo presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, durante uma live feita com os servidores do banco, três dias após o anúncio da compra (31). A Folha teve acesso ao áudio da reunião.

Costa disse que haverá "uma complementariedade de atuação do ponto de vista regional" e destacou a presença do banco digital no Nordeste do país. O executivo citou ainda outros dois aspectos da marca: DNA digital e clientela de baixa renda.

"Dentro do conglomerado do Banco Master, há um banco digital, Will Bank, uma fintech, que possui DNA digital, uma presença em clientes de baixa renda e que vai ter um papel determinante na ampliação do relacionamento com os quase 4 milhões de clientes que captamos por meio de banco digital", afirmou.

"A gente consolida a nossa participação no Centro-Oeste e reforça a nossa expansão nacional, onde no Sudeste o Master tem a maior parte dos clientes dele e, no Nordeste, o Will Bank tem a maior parte dos seus clientes", acrescentou.

O Will Bank foi criado em 2017 com a promessa de incluir pessoas que estão à margem do sistema financeiro, com produtos como cartão de crédito sem anuidade. A fintech foi comprada pelo Master no começo do ano passado. Na época, tinha 6 milhões de clientes, havia faturado R$ 2,8 bilhões no ano anterior e se tornou sócio do fundo de private equity da XP.

CARTEIRA DE CRÉDITO
Uma mensagem enviada por 2 dos 8 integrantes do Conselho de Administração do BRB a um grupo de servidores indica que o banco decidiu interromper temporariamente a compra de novas carteiras de crédito. Isso teria sido decidido na reunião que aprovou a operação com o Master.

"Nosso voto foi condicionado à interrupção, ainda que temporária, das aquisições de novas carteiras de crédito", diz a mensagem assinada por Kátia do Carmo Peixoto de Queiroz, indicada pelos Acionistas Minoritários, e Ricardo José Duarte Rodrigues, eleito pelos empregados.

No texto, obtido pela reportagem, os dois conselheiros afirmam que também cobraram "avaliações das possíveis implicações das operações de cessão já realizadas" entre o BRB e o Master, além de reporte mensal ao Conselho de Administração sobre as condições suspensivas.

"Reforçamos nosso compromisso com o fortalecimento e a sustentabilidade do BRB e acompanharemos de perto os desdobramentos da operação. Caso os números sejam desfavoráveis, não concordaremos com a ratificação da transição", afirmam os dois conselheiros.

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