Tiganá Santana: ‘Não sou otimista, mas acredito nas lutas’, sobre combate ao racismo

Músico debate tema a partir da trajetória de Cartola, artista que homenageou em show no último final de semana

Tiganá Santana: ‘Não sou otimista, mas acredito nas lutas’, sobre combate ao racismo
Tiganá Santana: ‘Não sou otimista, mas acredito nas lutas’, sobre combate ao racismo

Por Lucas Salim - 20/04/2025 19:34:43 | Foto: Desde 2020, artista é professor na Universidade Federal da Bahia onde se formou em Filosofia - José de Holanda / Divulgação

No último final de semana, músico e pesquisador Tiganá Santana subiu ao palco ao lado da também cantora e pesquisadora Fabiana Cozza para prestar uma homenagem aos 50 anos de lançamento do primeiro álbum do Cartola, que reúne clássicos como O Mundo é Um Moinho e As Rosas Não Falam.

“Uma figura absolutamente genial, mas que enfrentou esse fenômeno que se repete: precisa-se de uma pessoa branca para encampar a possibilidade de artistas como Clementina, Cartola, ou Carolina Maria de Jesus para publicar um livro”, afirma Tiganá Santana, que é filósofo e professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), ao Conversa Bem Viver desta quarta-feira (16) citando outros artistas negros que tiveram seus trabalhos artísticos reconhecidos tardiamente.

O palco da homenagem ao sambista carioca foi o Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, localizado na zona Oeste da capital paulista.

Na opinião de Santana, o Brasil não está avançando de forma contundente na reparação a essa figuras que sofreram apagamentos. Segundo o artista baiano, o que se vê hoje são apenas “tendências do mercado” de publicizar figuras negras.

“Algo que pode ser trend nesse momento, não será mais depois daqui a algum tempo”, alerta. “Eu não tenho muito otimismo em relação a isso, eu tenho crença nas lutas, entendeu?”

“Mas também, olha… essa responsabilidade não é só nossa. A responsabilidade é sobretudo, como vai lembrar Sueli Carneiro, de quem é o signatário do racismo ou aquelas que, embora não sejam signatárias do racismo, são beneficiárias.”

Confira a entrevista na íntegra

Como foi sua emoção ao fazer essa homenagem ao Cartola?

Foi de fato uma emoção que eu ainda estou digerindo. Eu não havia, até então, cantado Cartola publicamente, só em casa, enfim.

Cartola fez parte da minha formação, como fez também da Fabiana [Cozza], tantas outras pessoas. É, sem dúvida, um artista para onde a gente pode se voltar.

Não somente nesses tempos de desencanto, mas também fortemente nesses tempos de desencanto.

Ele traz um lirismo que a gente não tem encontrado tanto mais por aí, e uma entrega ao próprio ofício de criação que também a gente não tem encontrado mais por aí.

Percebe-se uma demora sobre o seu fazer artístico. Uma construção de fato.

Artistas como o Cartola sempre têm que ser lembrados nesse Brasil condenado, tão difícil e hostil a tantas coisas, tipos de pessoas, expressões e manifestações. Um país muito difícil, mas que, ao mesmo tempo, também foi capaz de gerar um Cartola.

Isso é grande, ter um Cartola é algo que não é simples.

A que você atribuiu esse apagamento de décadas que Cartola sofreu para poder gravar seu álbum, apenas com 66 anos?

Eu não me sinto a pessoa mais preparada para trazer as razões pelas quais isso aconteceu com Cartola, ou pelo menos todas elas.

Mas a gente tem de antemão fatos que mostram que não é um caso isolado, então podemos fazer relações. Por exemplo, Clementina de Jesus ter gravado o primeiro álbum também com mais de 60 anos… É mesmo o racismo no Brasil, né?

Portanto, temos uma figura absolutamente genial, mas que enfrentou esse fenômeno que se repete: precisa-se de uma pessoa branca para encampar a possibilidade de artistas como Clementina, Cartola, ou Carolina Maria de Jesus para publicar um livro.

Você enxerga que o Brasil está avançando na correção dessa dívida histórica com figuras que foram por anos apagadas, como as que você acabou de citar?

Temos lutado para que esse cenário se modifique, mas esses apagamentos não são aleatórios ou fortuitos, eles são deliberados.

No sentido de que expressões afrobrasileiras, como Clementina, Carolina e Cartola, só podem se manifestar no campo da especificidade. Ou, de vez em quando, quando convier, ou for tendência. Aí podem aparecer visíveis e tal.

Mas não é isso que está nas estruturas que formaram o Brasil. Não são essas pessoas, essas representações que a institucionalidade brasileira, em larga medida, quer em lugares importantes de anunciação e em espaço, sobretudo, de decisão.

Então, existe uma guerra, uma entre tantas. O Brasil é um país de guerras, desde sempre.

Existe uma guerra entre pessoas que têm lutado para que certas presenças que constituem a cultura brasileira também possam se manifestar dignamente, possam ocupar os espaços dignamente.

Ao mesmo tempo que um outro grupo de pessoas que quer estar num espaço de privilégio, mas de privilégio com ainda outras doses de perversidade, fazendo com que os outros deixem de existir ou que só existam na medida em que possam servir à manutenção dessa estrutura e de um certo status quo .

Eu não tenho muito otimismo em relação a isso, eu tenho crença nas lutas, entendeu?

A gente tem trabalhado para que, de alguma forma, essas manifestações possam chegar às pessoas das mais diversas formas.

Mas também, olha… Essa responsabilidade não é só nossa. A responsabilidade é sobretudo, como vai lembrar Sueli Carneiro, de quem é o signatário do racismo ou aquelas que, embora não sejam signatárias do racismo, são beneficiárias.

Mas para além de uma questão de governos, estamos evoluindo no combate ao racismo?

Olha, eu não acredito muito em evolução ou não desses movimentos. Eu acho que os tempos trazem tudo. Todos os tempos trazem tudo.

Então, como eu disse, eu acredito nas lutas que sempre existiram, as práticas de resistência negra e também as práticas de resistência indígena, para falar no Brasil.

Acho que a gente está e não está na mesma. Existem modulações relativas ao tempo em que a gente vive. Existe um debate público, existem medidas, existem incorporações de certas tendências ligadas às culturas negras.

Isso é fruto de luta, mas nós sabemos que isso também é fruto de uma certa intenção de mercado. Algo que pode ser trend nesse momento não será mais depois daqui a algum tempo.

E quando é que também nós vamos poder falar dos diversos assuntos, de outros assuntos, de outras pautas, entendeu? E não seremos, efetivamente, de novo, situados ou definidos socialmente a partir desse lugar que é quase que estritamente racial.

Basta a gente pensar em Cartola, mais uma vez. As pessoas vão dizer um grande sambista, vão especificá-lo, não vão levá-lo a um lugar de criador.

Quando se fala de Tom Jobim… Tom Jobim ocupa esse marco zero da criação. Então, Tom Jobim pode ocupar esse lugar. Mas o Cartola ocupa um lugar específico, né?

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Editado por: Martina Medina

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