Rede de estradas identificadas do Império Romano sobe para quase 300 mil quilômetros

Do ponto de vista moderno, é claro que os números não impressionam

Rede de estradas identificadas do Império Romano sobe para quase 300 mil quilômetros
Rede de estradas identificadas do Império Romano sobe para quase 300 mil quilômetros

Reinaldo José Lopes, São Carlos, Sp (folhapress) - 11/11/2025 10:29:18 | Foto: Reprodução - Mapa revela 300 mil km de estradas do Império Romano em detalhes inéditos • Itiner-e via CNN Newsource

No auge do Império Romano, nem todos os caminhos levavam a Roma, diferentemente do que diz o ditado popular -mas tais caminhos parecem ter sido muito mais numerosos do que se imaginava até agora. É o que indica um novo mapa digital das estradas romanas, feito a partir de dados arqueológicos e imagens de satélite, que inclui quase o dobro dos trajetos mapeados anteriormente no antigo território imperial.

Os resultados, que estão em artigo publicado na última quinta-feira (6) no periódico especializado Scientific Data, vêm do projeto Itiner-e. A rede de estradas catalogada pelos pesquisadores pode ser acessada gratuitamente no endereço itiner-e.org e vai desde a atual fronteira da Inglaterra com a Escócia, do lado ocidental, até o deserto da Síria, do lado oriental.

Nessa área de 4 milhões de quilômetros quadrados (pouco menos da metade do território brasileiro), correspondente à expansão máxima dos domínios de Roma, a equipe liderada por Tom Brughmans, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, identificou quase 300 mil quilômetros de estradas, enquanto a iniciativa mais abrangente feita antes tinha chegado a um total de 188 mil quilômetros de vias.

Do ponto de vista moderno, é claro que os números não impressionam muito (segundo o Ministério dos Transportes, a atual rede de estradas do Brasil se aproxima dos 2 milhões de quilômetros). Mas, para os padrões do mundo antigo, a civilização romana costumava fazer investimentos consideráveis na sua infraestrutura de transportes, pavimentando cuidadosamente as principais vias, em geral como estratégia para conduzir seus exércitos da forma mais rápida possível entre as províncias do império e rumo aos postos das fronteiras, periodicamente afetados pela presença de grupos denominados "bárbaros".

Para montar o novo mapa, Brughmans e seus colegas em outras universidades da Europa e da Turquia usaram uma ampla variedade de fontes.

Primeiro, trabalharam com textos da época do Império Romano, como o chamado "Itinerário Antonino" e a "Tabula Peutingeriana". Ambos trazem informações sobre a rede de estradas no período imperial, com dados sobre a distância entre as localidades e a sequência encontrada por um viajante durante sua jornada.

A "Tabula Peutingeriana" combina essas informações com um mapa esquemático, vagamente semelhante a um mapa moderno das rodovias de uma região, mostrando a localização de mais de 500 cidades dos domínios romanos.

Junto com esses documentos escritos (e, por vezes, desenhados), os pesquisadores levaram em conta dados arqueológicos, como a presença de miliários, marcos de pedra dispostos ao longo das estradas romanas -o nome vem da milha romana, medida que corresponderia a mil passos, o que daria cerca de 1,5 quilômetro.

Muitos miliários preservados até hoje não estão mais na posição ocupada originalmente por eles ao longo das estradas, mas a presença de textos gravados neles ajuda a estabelecer a distribuição das antigas vias e mesmo, em alguns casos, quando e em que circunstâncias elas foram construídas.

No caso das estradas mais importantes, a maior parte do traçado romano original é relativamente bem conhecida. Isso porque, antes do século 20, era comum que as principais estradas das regiões anteriormente ocupadas pelo Império Romano tivessem sido construídas por cima ou ao lado da antiga via. Isso ainda vale, em parte, para locais como o Reino Unido, onde a rodovia A2, que liga Londres ao porto de Dover, no sudeste do país, ainda acompanha o trajeto geral da estrada romana.

Por fim, os pesquisadores levaram em conta fotografias aéreas antigas e recentes, bem como imagens feitas por satélite, para montar o mapa atualizado, já que diferenças na coloração do terreno vistas do alto, incluindo, por exemplo, antigas divisas entre propriedades rurais, costumam dar pistas sobre a presença de estradas no passado. Com base em tudo isso, eles dividiram o mapeamento em três categorias: estradas cuja existência é considerada certa, conjecturada ou hipotética.

Na primeira entram as vias que passaram para o mapa digital com alta precisão espacial, com desvios menores do que 50 m em terrenos montanhosos e menos de 200 m em planícies. Essas correspondem a apenas 3% do total.

Quase 90% das estradas caem na categoria conjecturada, identificadas com menos precisão por causa da documentação menos abundante.

Hipotéticas são as estradas que poderiam corresponder a diferentes trilhas paralelas em locais de acesso mais complicado, como desertos e regiões pantanosas, ou cuja existência pode ser mais incerta.

Em parte, o comprimento somado das estradas na base de dados do estudo aumentou porque, nos casos incertos, em áreas de terreno acidentado como montanhas, os pesquisadores reconstruíram um trajeto em ziguezague, que se adequa ao relevo do local.

Além disso, se comparado a outras iniciativas, o projeto incluiu dados mais completos sobre regiões fora do núcleo italiano do império, em especial a Grécia, a península Ibérica e o norte da África.

As estradas incluídas no trabalho vão da célebre Via Ápia, construída a partir de 312 a.C. para ligar Roma com a cidade de Cápua, mais ao sul, até as construídas por volta de 400 d.C., algumas décadas antes da desintegração do Império Romano do Ocidente.

Os pesquisadores esperam que o mapa seja constantemente atualizado com novos dados, além de impulsionar novos estudos sobre padrões de mobilidade econômicos, sociais e militares no território dominado por Roma.

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