O homenageado da Bienal é o acreano Roberto Evangelista
Augusto Pinheiro, Belém, Pa (folhapress) - 13/11/2025 07:20:13 | Foto: © FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
Sede da COP30, que acontece até o dia 21 de novembro, Belém (PA) vive uma profusão de exposições vinculadas à amazônia, ao meio ambiente e aos povos tradicionais. Há uma grande diversidade de suportes e linguagens, com artistas provenientes de vários lugares do Brasil e da América Latina.
Em um centro cultural próprio, no bairro da Campina, a 2ª Bienal das Amazônias reúne trabalhos de 74 artistas e coletivos de oito países da Amazônia e do Caribe, permeados por temas ambientais e conectados à cultura, à espiritualidade e aos modos de vida dos povos tradicionais da região.
Os trabalhos, distribuídos em quatro andares, se manifestam em diferentes linguagens, com cinema, performance, som, desenho e instalações.
O homenageado da Bienal é o acreano Roberto Evangelista, um dos pioneiros da arte contemporânea na região Norte. Uma de suas obras mais emblemáticas, "Ritos de Passagem", está presente na exposição. Trata-se de uma instalação com mil caixas de sapato, 2 mil sapatos e pedras cariri, que reflete sobre a extração colonial, os deslocamentos modernos e as violências impostas pelo progresso.
A Amazônia de Salgado
A exposição "Amazônia", de Sebastião Salgado, reúne mais de 200 fotografias em preto e branco, do renomado fotógrafo brasileiro, que morreu em maio deste ano. A mostra inaugurou o Museu das Amazônias, parte do complexo Porto Futuro, uma das principais obras na capital paraense para a COP30.
"É uma exposição única, a maior da carreira dele", afirma Ricardo Piquet, diretor-geral do IDG (Instituto de Desenvolvimento e Gestão), responsável pela concepção e implementação da instituição, ao lado do Museu Paraense Emilio Goeldi. "Ele passou sete anos montando essa coleção de fotos da Amazônia, já depois dos 70 anos, com tantas imagens fantásticas."
A ideia da montagem da exposição foi criar um ambiente em que o visitante se sentisse dentro da floresta, com fotografias de vários formatos suspensas em diferentes alturas e espaços que remetem a ocas indígenas, nos quais são expostos imagens e vídeos de diferentes povos. Além disso, a trilha sonora do músico francês Jean-Michel Jarre utiliza sons da floresta, como farfalhar de folhas, sons de pássaros e barulho das águas.
As fotografias, realizadas por terra, água e ar, revelam a floresta, rios, montanhas e a vida em 12 comunidades indígenas. A mostra conta ainda com duas salas com projeções fotográficas.
A 'miração' do povo Huni Kuin
Já a Caixa Cultural Belém apresenta as pinturas coloridas e exuberantes do coletivo MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), formado por indígenas da Terra Kaxinawá do Rio Jordão, no Acre. A exposição, chamada de "Espíritos da Floresta", exibe cerca de 30 obras.
Segundo a curadora Aline Ambrósio, as telas representam três tipos de cantos do povo Huni Kuin: de "miração", de cura e para abrir caminhos. "A 'miração' é uma grande visualidade que acontece durante o ritual do uso do nixi pae, que é como eles chamam a ayahuasca [chá alucinógeno]. Então as pinturas são a tradução da fala da ayuhasca."
Nas pinturas, humanos aparecem em harmonia e simbiose com a fauna e a flora, em uma profusão de cores e de grafismos. Outro ponto de destaque é a presença de Yube, a jiboia mítica do povo Huni Kuin, tanto nas telas quanto no formato sinuoso do painel central da sala de exposição.
Amazônia, entre o estarrecedor e o poético
Já o fotógrafo italiano Alessandro Falco apresenta a exposição "Amazônia: Confidencial", na galeria Kamara Kó, que fica em um casarão histórico no bairro da Campina. As imagens são fruto de reportagens fotográficas para veículos como Folha, The New York Times e National Geographic.
Falco mostra diversas facetas da Amazônia: da destruição e violência latentes à exuberância da natureza, com registros entre o estarrecedor e o poético. Em uma fotografia, com destacado fundo vermelho, de costas, surge uma ativista ameaçada de morte. Em outra, um homem segura uma garrafa de querosene diante de uma área de vegetação queimada.
Você já escutou a terra?
Já no Museu do Estado do Pará (MEP), o escritor e ambientalista Ailton Krenak realizou a curadoria, ao lado da historiadora Karen Worcman, da exposição "Você já Escutou a Terra?". A mostra propõe uma experiência imersiva e convida o público a refletir sobre a relação entre as pessoas e o planeta.
"Temos que deslocar o humano desse lugar de consumir o planeta e evoluir para um movimento biocêntrico, que é a ideia de estar na Terra com a Terra, não a ideia de estar sobre o corpo da Terra", diz Krenak no texto de apresentação da exposição.
A mostra está dividida em quatro espaços. Na "Cabine Manto", o visitante pode compartilhar sua história em vídeo e fazer parte do acervo do Museu da Pessoa, que realiza a exposição.
O segundo espaço simula a crosta terrestre e é coberto por uma grande peça colorida, confeccionada coletivamente com resíduos e tecidos vindos de diferentes regiões do Brasil. E as duas salas seguintes, chamadas de "Rios de Memória", trazem histórias de vida de pessoas dos seis biomas brasileiros, registradas entre 2024 e 2025 e impressas em tules. No fundo, retalhos imitam as cores das águas fluviais da Amazônia.
Obras dialogam com fauna e flora
No Museu Paraense Emilio Goeldi, a exposição "Um Rio Não Existe Sozinho" marcou a retomada, em outubro, da visitação pública ao parque zoobotânico da instituição. O projeto, criado e desenvolvido pelo Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo, traz intervenções artísticas distribuídas em dez espaços.
Já no recém-inaugurado Centro Cultural Banco da Amazônia, a exposição "Clima: o Novo Anormal" é a versão brasileira da mostra francesa "Urgence Climatique", exibida em Paris.
Aqui, a exposição tem direção e roteiro do cineasta Fernando Meirelles e de Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima.
Com mais de 30 monitores, painéis e dispositivos multimídia, a mostra convida o público a uma viagem visual pelos dados do planeta. Além disso, um globo digital suspenso, alimentado por quatro projetores, exibe o aumento das temperaturas e as mudanças no nível dos oceanos sob diferentes cenários de aquecimento.
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