Por João Zisman: Para materializar o sentimento
O preço do sentimento
Foto: Reprodução Casamentos.com.br
O preço do sentimento
Por João Zisman - 06/12/2024 08:51:32 | Foto: Reprodução Casamentos.com.br
O amor não precisa de tradução, mas, ao que parece, nós insistimos em materializá-lo. Em algum momento, convencionou-se que o tamanho do sentimento deveria caber no brilho de um anel ou na exclusividade de uma marca. Amar, na prática, passou a exigir algo palpável, algo que se exibe. Mas será que precisa?
Há quem adie o início de uma vida juntos porque não tem como bancar a festa, a aliança, ou até a viagem que, dizem, deveria acompanhar a proposta. Como se o valor de um compromisso estivesse ligado ao que pode ser comprado e não ao que é construído. Muitos deixam de dizer “sim” por medo de que o “como” não esteja à altura das expectativas.
Esse ritual de vincular o amor ao consumo nos aprisiona. Faz com que as pessoas se sintam inadequadas, como se a profundidade do que sentem dependesse de sua capacidade de parcelar ou poupar. E, no entanto, as coisas mais valiosas que podemos oferecer a quem amamos não vêm com etiquetas.
O tempo, por exemplo. Esse ativo tão precioso, tão escasso, que não se recupera. Não é o anel que simboliza o amor, mas os dias vividos juntos, os gestos simples, a decisão diária de cuidar. Porque o amor não se mede em quilates ou em marcas exclusivas; ele se mede na presença, na constância, no comprometimento.
Certas convenções, embora bem-intencionadas, nos afastam da essência. Amar não deveria depender de padrões impostos, mas de escolhas genuínas, livres de pressões externas. A felicidade não espera o momento ideal ou o presente perfeito. Ela se faz no agora, no que somos capazes de construir sem esperar condições que talvez nunca cheguem.
Portanto, quem sabe seja hora de ressignificar. Que o anel ou qualquer outro presente não seja um fardo, mas um símbolo leve, sem cobranças. E que o amor, em sua forma mais pura, continue sendo o maior presente de todos: a disposição de doar tempo, atenção e carinho. Sem etiquetas. Sem regras. Apenas amor.
Comentários para "Por João Zisman: Para materializar o sentimento":