Foto tirada no dia 22 de maio de 2024 mostra Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos.
Agência Xinhua Brasil - 08/04/2025 06:57:46 | Foto: Agência Xinhua/Liu Jie
Mais de 1.200 cientistas baseados nos EUA, três quartos do total de entrevistados em uma pesquisa recente da revista Nature, indicaram que estão considerando se mudar para a Europa ou para o Canadá devido ao clima político atual, sinalizando uma saída potencialmente massiva de talentos científicos.
Políticas restritivas de imigração e cortes drásticos no financiamento de pesquisas sob a administração do presidente dos EUA, Donald Trump, estão empurrando pesquisadores talentosos para oportunidades no exterior.
Mais de 1.200 cientistas dos EUA, três quartos do total de entrevistados em uma pesquisa recente da revista Nature, indicaram que estão considerando se mudar para a Europa ou para o Canadá devido ao clima político atual, sinalizando uma saída potencialmente massiva de talentos científicos.
Pesquisadores em início de carreira pareciam mais propensos a sair, com quase 80% dos cientistas de pós-graduação considerando planos de saída, mostrou a pesquisa, observando que essa tendência é preocupante, pois poderia eliminar uma geração de talentos científicos americanos.
O êxodo decorre de dois fatores convergentes: restrições de imigração mais rígidas e cortes sem precedentes no financiamento de pesquisas em agências federais nos Estados Unidos.
"Os cortes massivos no financiamento são irracionais e diminuirão muito a capacidade dos Estados Unidos de fornecer pesquisas de ponta, e isso impactará a saúde e a segurança nacional do nosso país", disse à Xinhua recentemente, Daniel Cox, distinto professor emérito de física na Universidade da Califórnia, Davis.
Na frente da imigração, o governo Trump emitiu várias ordens executivas visando cientistas e engenheiros estrangeiros. Essas medidas incluíam a redução de programas de liberdade condicional humanitária, a restrição de fluxos de fronteira, a limitação de vias legais de imigração e o aumento de esforços de deportação.
O impacto na comunidade científica foi imediato.
De acordo com um relatório da Rádio Pública Nacional (NPR, na sigla em inglês), trabalhadores estrangeiros representam aproximadamente metade dos cientistas e engenheiros de nível de doutorado nos Estados Unidos. Ainda assim, o governo Trump queria dificultar a obtenção de vistos H-1B. Especialistas em imigração alertaram que a falta desses vistos pode levar os principais pesquisadores estrangeiros a buscar oportunidades em outros países.
Simultaneamente, muitos meios de comunicação relataram que o financiamento de pesquisa enfrentou cortes drásticos. Desde a posse de Trump em janeiro, o Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), que fornece a maior parte do financiamento de pesquisa biomédica nos Estados Unidos, viu o financiamento abruptamente reduzido em bilhões de dólares, com muitas decisões de subsídios suspensas.
As ações do governo contra agências científicas vão além dos orçamentos. A Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço já fechou escritórios, incluindo o Gabinete do Cientista Chefe, e demitiu mais de 20 funcionários. Outras agências estão preparando planos, com relatórios indicando que o NIH cortará 1.200 pessoas, cerca de 6% de sua equipe.
Uma carta aberta assinada por quase 2.000 cientistas, incluindo dezenas de ganhadores do Prêmio Nobel, alertou que a liderança científica dos Estados Unidos está sendo "dizimada".
A carta publicada na segunda-feira descreve um "clima de medo" em toda a comunidade de pesquisa, dizendo que levou os pesquisadores a remover seus nomes de publicações, abandonar estudos e reescrever propostas para eliminar termos como "mudança climática" que as agências agora sinalizam como questionáveis.
"Agora há uma liquidação de acadêmicos americanos", disse Carl Bergstrom, professor de biologia da Universidade de Washington, ao STAT News. Cientistas temem que o clima político atual prejudique a determinação dos pesquisadores de seguir carreiras acadêmicas nos Estados Unidos.
De acordo com um relatório da NPR, os países estão capitalizando essa incerteza. A França tem sido particularmente agressiva no recrutamento de cientistas americanos. A Universidade de Aix-Marseille lançou o programa "Lugar Seguro para a Ciência" para apoiar cerca de 15 cientistas americanos com até 15 milhões de euros (cerca de 16,2 milhões de dólares americanos) ao longo de três anos.
A iniciativa já recebeu mais de 150 inscrições. Outra universidade francesa, a escola de engenharia Ecole Centrale de Marseille, destinou 3 milhões de euros para financiar projetos de pesquisa que não podem mais continuar nos Estados Unidos.
A iniciativa Atrae da Espanha concede bolsas que excedem 1 milhão de dólares americanos por pesquisador, enquanto o Canadá simplificou os caminhos de imigração para profissionais qualificados por meio de programas como Entrada Expressa e Fluxo de Talentos Globais.
"Você chega a um país onde a maioria social confia em seus cientistas", disse a ministra da Ciência da Espanha, Diana Morant, durante o lançamento da terceira edição da Atrae em março de 2025.
As implicações econômicas desse êxodo científico podem ser severas e duradouras. Um estudo da Universidade Duke e da Universidade Harvard descobriu que um quarto de todas as empresas de engenharia e tecnologia fundadas nos Estados Unidos de 1995 a 2005 tiveram pelo menos um fundador imigrante, produzindo 52 bilhões de dólares em vendas e empregando 450.000 trabalhadores.
O impacto da inovação é igualmente significativo, particularmente nos principais setores de tecnologia. De acordo com o Projeto de Competitividade e Inovação do Vale do Silício, pelo menos 57% dos trabalhadores do Vale do Silício nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática com bacharelado ou superior nasceram fora dos Estados Unidos.
A Análise de Tecnologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) relatou no mês passado que os Estados Unidos correm o risco de perder seu motor de inovação, que impulsionou 85% do crescimento econômico desde 1945. Laboratórios em todo o país estão cancelando testes de câncer e projetos de inteligência artificial, enquanto a Universidade Harvard e a Universidade da Pensilvânia estão congelando as contratações.
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