BC analisa viabilidade econômica, não conveniência da aquisição, diz Galípolo sobre caso Master

Gabriel Galípolo não vai culpar Campos Neto por crise do Master

BC analisa viabilidade econômica, não conveniência da aquisição, diz Galípolo sobre caso Master
BC analisa viabilidade econômica, não conveniência da aquisição, diz Galípolo sobre caso Master

Adriana Fernandes, Brasília, Df (folhapress) - 22/04/2025 18:27:29 | Foto: Agência Senadon

NATHALIA GARCIA, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Banco Central analisa a viabilidade econômica da operação em qualquer processo de fusão ou aquisição entre instituições, não a conveniência da compra ou venda dos ativos, afirmou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ao ser questionado sobre o caso Master.

Essa foi a primeira declaração de Galípolo sobre o assunto desde que, em 28 de março, o BRB (Banco de Brasília) anunciou a aquisição de 58% das ações do banco Master.

O tema foi trazido à discussão durante audiência pública da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal pelos senadores Leila Barros (PDT-DF) e Fernando Farias (MDB-AL).

Aos parlamentares, Galípolo disse que não poderia comentar casos específicos de fusão e aquisição, mas buscou explicar o papel do Banco Central em uma operação desse tipo.

"O Banco Central não julga, em qualquer processo de fusão e aquisição, a conveniência da venda ou da compra. A decisão e a conveniência de comprar ou vender qualquer tipo de ativo, integralmente ou parcialmente, é uma decisão de quem está comprando e de quem está vendendo", disse.

"O mandato do Banco Central é julgar e avaliar a viabilidade da aquisição, se a fatia que está sendo comprada, seja parcial ou integral, pode ser absorvida e como isso impacta o plano de negócio de quem está adquirindo. Se o que vai sobrar também tem viabilidade econômica", acrescentou.

Segundo o presidente da autoridade monetária, a conveniência passa por avaliação de órgãos de controle.

No dia do anúncio, o BRB entregou documentos ao BC com a previsão de R$ 23 bilhões de ativos de maior risco e menor liquidez que seriam apartados da operação, como precatórios, direitos creditórios relativos a processos judiciais e fundos de ações de empresas. De lá para cá, a cifra já subiu para R$ 33 bilhões.

A liquidação privada dos ativos e passivos do Master que não fazem parte da transação de compra do banco de Daniel Vorcaro pelo BRB está na mesa de negociação. O tema vem sendo discutido pelo BC com administradores de grandes instituições financeiras.

Galípolo já se reuniu com dirigentes de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG Pactual, representantes do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), além de Daniel Vorcaro, do Master, e o time do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.

Segundo Galípolo, uma série de indicadores serão analisados do ponto de vista da supervisão. "O Brasil é um dos países mais alinhados às regras de Basileia, regras internacionais, do ponto de vista de como analisa e acompanha as exposições de risco e apetite de risco de cada uma das instituições", disse.

O negócio precisa de aprovação por parte do BC e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). No caso da autoridade monetária, o prazo de análise é de 360 dias. No entanto, pessoas a par das tratativas defendem uma solução mais rápida.

"O Banco Central não se manifesta previamente e informalmente sobre nada. Uma vez recebida a documentação, a partir da definição do perímetro da transação que pode ser feita a análise do Banco Central sobre viabilidade da compra e da venda, em cima disso vai sair aprovação ou não da aquisição", disse o presidente do BC.

Gabriel Galípolo não vai culpar Campos Neto por crise do Master

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não vai culpar Roberto Campos Neto, seu antecessor no cargo, pela crise do Banco Master.

A reportagem ouviu de interlocutores que Galípolo tem dito que a ação do BC (Banco Central) na análise da compra do Master será estritamente técnica e que pretende afastar o uso político do caso num ambiente muito polarizado no Brasil. O presidente do BC vem defendendo a atuação regulatória da autarquia.

Desde que o BRB (Banco de Brasília) anunciou a compra do Master, no final de março, lideranças do PT e aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm responsabilizado Roberto Campos Neto pela demora em barrar as operações arriscadas com precatórios e CDBs com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) patrocinadas por Daniel Vorcaro, dono do Master.

Essa leitura é também compartilhada por integrantes da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que avaliam que houve uma demora de Campos Neto para agir.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, é um dos principais críticos da operação. Lindbergh apresentou ao Ministério Público Federal no Distrito Federal uma representação para que o órgão apure responsabilidades de Campos Neto e dos gestores do Banco Master em supostas manipulações envolvendo precatórios.

Procurados, BC e Campos Neto não comentaram o teor da reportagem.

Campos Neto tem relação próxima com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que no ano passado tentou aprovar uma emenda para elevar a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O fundo garante a cobertura até R$ 250 mil de depósitos e aplicações nos casos de quebra de instituições financeiras. Nogueira propôs elevar esse limite para R$ 1 milhão, mas a iniciativa não prosperou.

O presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Ricardo Capelli, também vem vociferando contra o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, pela compra do Master pelo BRB.

O atual presidente do BC era diretor de política monetária do BC quando o órgão regulador editou, em outubro de 2023, uma norma para apertar as regras de registro dos precatórios pelos bancos nos seus balanços.

Na representação ao MPF do DF, o líder do PT faz referência à regra que permitiu que o Master e outras instituições financeiras omitissem riscos com precatórios e direitos creditórios em seu balanço.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a norma retroagiu três meses para evitar uma corrida de bancos para comprar precatórios e pré-precatórios para fugir antes da regra mais dura.

O BC também fez mudanças no uso do FGC. Tais mudanças afetaram a estratégia do Master e de outros bancos na venda de CDBs com rentabilidade oferecida aos investidores acima do mercado e a propaganda de que o FGC garante o negócio.

As medidas de aperto nas regras para evitar o crescimento do uso do BC foram tomadas, mas os grandes bancos consideraram insuficientes e vêm negociando com o BC uma reforma no modelo de contribuição do FGC, como revelou a Folha de S.Paulo.

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem, que falaram na condição de anonimato, o presidente do BC tem ressaltado a importância da agenda de inovação e concorrência no sistema bancário. Essa agenda permitiu o avanço dos bancos digitais, aumentando a competição com os grandes bancos de varejo, e novos sistemas de pagamento, como o Pix.

Desde que assumiu a diretoria no BC, em janeiro deste ano, Galípolo tem evitado se alinhar às criticas contra Campos Neto. Em recente entrevista sobre o Relatório de Política Monetária, ele deixou claro que foi protagonista da decisão de elevar a taxa Selic em um ponto percentual, em dezembro passado. Nessa reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC sinalizou mais duas altas dos juros da mesma magnitude, que já ocorreram neste ano.

Na época, Campos Neto ainda era presidente do BC. Perguntado sobre declaração de Haddad de que a alta dos juros tinha sido contratada por Campos Neto, e que a nova presidência do BC não poderia fazer um cavalo de pau, Galipolo não se furtou a dizer que tinha assumido o papel maior de protagonista na decisão de dezembro.

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