Espionagem do Brasil abre velhas feridas, diz presidente do Paraguai

A declaração é a primeira do presidente paraguaio sobre ação hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra altas autoridades do país vizinho

Espionagem do Brasil abre velhas feridas, diz presidente do Paraguai
Espionagem do Brasil abre velhas feridas, diz presidente do Paraguai

Brasília, Df (folhapress) - Guilherme Botacini - 07/04/2025 07:25:40 | Foto: Presidente Paraguai - Reprodução

O presidente do Paraguai, Santiago Peña, afirmou nesta sexta-feira (4) que a ação de espionagem realizada pela inteligência brasileira "abre velhas feridas" entre os dois países. A declaração foi dada em entrevista à argentina Rádio Mitre.

"O Paraguai tem uma história bastante dura na região, em um momento da nossa história tivemos que enfrentar uma guerra de extermínio como foi a Guerra da Tríplice Aliança [...] o Brasil ficou em território paraguaio por quase uma década. Essas são feridas que estamos procurando curar, e este episódio infelizmente o que faz é abrir essas velhas feridas, quando o que queremos deixar para trás é essa história de ódio, de ressentimento, que vinha principalmente de fora para o Paraguai, infelizmente hoje percebemos que ainda há esse sentimento", afirmou Peña.

A declaração é a primeira do presidente paraguaio sobre ação hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra altas autoridades do país vizinho.

De acordo com o governo Lula (PT), a ação, revelada em reportagem do UOL a partir de depoimentos que foram dados à Polícia Federal, foi planejada pela gestão anterior de Jair Bolsonaro (PL). Tão logo soube da ação, a Abin sob Lula teria descontinuado a ação, ainda segundo o governo.

Peña reforçou fala que seu chanceler, Rubén Ramírez Lezcano, já havia feito durante a semana ao afirmar que o assunto é uma questão entre países, não entre governos.

"Nós claramente temos uma posição de país, e vemos isso com uma tremenda preocupação, porque não condiz com o tipo de relação que queremos propor. Queremos propor uma relação de amizade, de sócio, de amigos, que nos permita construir realmente um Mercosul mais forte", disse o presidente paraguaio.

A ação de espionagem teria o ocorrido em momento de negociações sobre o tratado da usina de Itaipu e, após a revelação do caso, as discussões a respeito do Anexo C do tratado foram suspensas pelo lado Paraguaio.

"Primeiro saiu um comunicado jornalístico, no qual informavam que, entre março de 2022 e março de 2023 o Brasil e a agência de inteligência do Brasil, por ordem do governo, haviam aberto uma operação de espionagem contra o Paraguai com respeito às negociações do tratado de Itaipu —que efetivamente terminaram mal nesse período, o Paraguai cedeu à pressão do Brasil, que era para redução do preço da tarifa", afirmou Peña.

Nota do governo Lula, no entanto, diz que a ação teria sido planejada, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) em junho de 2022.

A avaliação de integrantes do governo brasileiro que acompanham as conversas com o Paraguai é que esse movimento é um esforço do governo paraguaio para dar algumas respostas internas diante das revelações. Em alguma medida, o caso é visto como uma brecha para dar uma posição mais favorável ao Paraguai na negociação do tratado.

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