O melhor que o Estado pode fazer é deixar as empresas crescerem, diz ministro português
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O melhor que o Estado pode fazer é deixar as empresas crescerem, diz ministro português
Luciana Alvarez, Lisboa, Portugal (folhapress) - 18/11/2024 06:34:11 | Foto: Reprodução/ Lide
JOÃO GABRIEL LIMA, LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) Portugal é uma terra de oportunidades para o Brasil, e vice-versa. Ainda há um longo caminho a explorar, mas os primeiros passos estão sendo dados, e são promissores.
Essa ideia ficou no ar após a mesa "Novas Oportunidades para Indústrias e Serviços no Brasil e em Portugal", no quarto painel da Lide Brazil Conference Lisboa, evento realizado por Lide, Folha de S.Paulo e UOL nesta sexta-feira (15), na capital portuguesa.
O debate foi aberto por Francisco Saião Costa, conselheiro da Aicep, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. Os dois países são ligados por 96 voos semanais da TAP -que levam portugueses, em férias ou viagens de negócios, a 11 destinos diferentes no Brasil.
Na mão contrária, centenas de milhares de brasileiros escolheram Portugal para morar nos últimos anos -para ser exato, 600 mil, em números deste ano. Mesmo assim, o comércio dos dois países ainda está limitado a pouco mais que azeite, petróleo e alguns produtos agrícolas. Como aproveitar melhor as oportunidades?
Uma resposta eloquente foi dada por Marco Stefanini, fundador e CEO global do Grupo Stefanini, multinacional brasileira de tecnologia da informação.
"Portugal se posicionou muito bem como um pólo de tecnologia. É também um país multilíngue, muito mais que outros do sul da Europa, e isso é fundamental para empregar mão de obra qualificada", disse Stefanini. "Já o Brasil tem uma imensa força de trabalho na área tecnológica, e vê Portugal como uma porta de entrada para a Europa".
Para Stefanini, indo além de commodities e produtos agrícolas, os dois países poderiam estabelecer uma grande aliança na área de tecnologia.
Além da abertura para o mercado europeu -"Portugal pode ser um porta-aviões para empresas brasileiras", nas palavras de Francisco Saião, da Aicep-, o país ibérico é o sétimo lugar mais pacífico do mundo, o quarto no ranking de cibersegurança e o 19º em estabilidade política.
"Tudo isso faz de Portugal um destino atrativo para empresas brasileiras", diz Karene Vilela, presidente da Câmara Portuguesa de Comércio de São Paulo. Existem 74 CPCs no mundo, e as duas maiores são as de São Paulo e Paris, o que dá a medida da importância do Brasil para Portugal.
A Câmara Portuguesa de Comércio de São Paulo é também um exemplo de como o país europeu intensifica seu relacionamento com entes subnacionais. Em sua fala, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, filiado ao Partido Novo, lembrou que a rede portuguesa de hotéis Vila Galé está abrindo unidades em duas cidades de seu estado, Ouro Preto e Brumadinho, onde se localiza o instituto Inhotim.
Zema lembrou também que Minas Gerais começou a produzir vinhos na Serra da Mantiqueira. "Fazemos isso com a assessoria e a cooperação da indústria de vinhos portuguesa. Ainda é uma produção pequena, mas cresce à razão de 25% ao ano, o que significa que logo será significativa", disse o governador.
Na linha daquela que parece ser a colaboração de maior potencial entre Brasil e Portugal -a tecnologia-, o governador do Piauí, Rafael Fonteles, do PT, informou que seu estado está adiantado numa política de "choque educacional e tecnológico".
O governo vem transformando as 502 escolas públicas estaduais em centros de ensino profissional e técnico. "Nosso modelo ainda é muito academicista. Nós queremos formar jovens do ensino secundário em carreiras como desenvolvimento de sistemas e programação de jogos, que possam inseri-los no mercado de trabalho".
O ex-governador de São Paulo, João Dória, co-chairman do grupo Lide, subiu ao palco para elogiar a fala de Fonteles. "Como é bom, em temos de polarização, ouvir alguém que está no mundo do bom senso. Fonteles fez um discurso assertivo pelo bem do seu estado".
O último a falar, o ex-presidente Michel Temer, seguiu a mesma linha. Segundo ele, governos de diferentes colorações ideológicas seguem as mesmas regras de bom senso, embora com nomes diferentes. "No meu governo implantamos o teto de gastos, o governo atual fala em arcabouço fiscal. Mas o que é o arcabouço senão um teto reajustado?"
Temer encerrou sua fala fazendo um paralelo entre Portugal e Brasil. "Somos dois países que saíram de governos autoritários e criaram Constituições duradouras, a nossa com 36 anos, a de Portugal com 40 anos. Elas são duradouras porque conseguiram amalgamar os direitos liberais com os direitos sociais, incluindo os direitos dos trabalhadores", disse Temer. "Não faz sentido que tenhamos no Brasil essa coisa de brasileiros contra brasileiros, instituições contra instituições."
O melhor que o Estado pode fazer é deixar as empresas crescerem, diz ministro da Economia de Portugal
Segurança pública, infraestrutura boa, sistema bancário sólido e mão de obra qualificada, além da promessa de corte de impostos e desburocratização, foram alguns dos fatores listados por autoridades portuguesas para incentivar empresários brasileiros a investir no país.
O tema foi discutido no terceiro painel da Conferência de Lisboa, evento realizado por Lide, Folha e UOL na sexta-feira (15), na capital portuguesa.
Pedro Reis, ministro da Economia de Portugal, afirmou que o atual governo tem atuado para implementar políticas que ajudem os empresários locais e do exterior. "O melhor que o Estado pode fazer é deixar as empresas respirarem e crescerem."
Reis, que faz parte do gabinete do primeiro-ministro Luís Montenegro, do PSD (Partido Social Democrata), defendeu que é preciso ter menos impostos, menos burocracia e mais robustez de infraestrutura energética para atrair o setor privado.
"Criar riqueza é a melhor maneira de criar uma sociedade humanista e equilibrada, e não há via mais rápida do que ajudar o setor privado. Não vale a pena complicar", disse.
Na avaliação do ministro, o país europeu, por ser pequeno, enfrenta desafios de escala e capitalização, mas oferece boa infraestrutura de comunicação e de transporte para o continente.
Os laços culturais entre os dois países e a localização geográfica foram ressaltados na fala de Nuno Sampaio, secretário português de Negócios Estrangeiros e Cooperação. "Portugal pode ser a porta de entrada do Brasil na Europa. Temos capacidade de fazer a ponte atlântica", afirmou ele.
Sampaio também defendeu a iniciativa privada como motor do desenvolvimento, sobretudo em momento de ascensão da nova economia. "Quem cria riqueza são as empresas e os empresários. Aos governos e governantes, o que se pede é que criem um ambiente para que essa capacidade atinja o mais elevado potencial."
António Nogueira Leite, presidente do Conselho de Administração da Mapfre Portugal, fez coro com o discurso de atração de capital e talentos brasileiros.
Ele citou as áreas de economia circular e descarbonização como oportunidades do momento.
"Há muito investimento brasileiro no turismo e no setor imobiliário, mas Portugal tem feito um esforço grande para criar um ecossistema de investimento em novas tecnologias", disse.
Um exemplo do quão longe um produto brasileiro pode chegar está na Sizebay, empresa que recomenda o tamanho de roupas para compras online e oferece serviços para lojas que operam em 60 países, atendendo a cerca de 1 milhão de consumidores.
"Estamos desenvolvendo soluções a partir do Brasil para o mundo, para o setor ser mais eficiente e produtivo", disse Marcelo Bastos, fundador da Sizebay.
Mas para que novas ideias virem negócios de sucesso, empreendedores precisam de suporte. É o que faz a Bossa Nova Investimentos, fundo que apoia negócios no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos e, durante o painel, anunciou a entrada na Europa por Portugal.
"Não tem mais como achar que startup é coisa de fundo de garagem, algo paralelo. A nova economia é uma força muito além do universo da tecnologia", disse João Kepler, CEO da Bossa Nova.
E as necessidades de investimento no Brasil vão além de startups. "Existe uma demanda de R$ 300 bilhões de reais para universalização dos serviços de saneamento básico", disse Henrique Meirelles, co-chairman do Lide e ex-ministro da Fazenda.
Meirelles afirmou que esse contexto deve ser visto como uma boa oportunidade.
"O PIB brasileiro cresceu mais do que os economistas esperavam em 2023 e está crescendo mais do que o esperado também para 2024. Isso abre uma oportunidade grande para investidores, independentemente do setor específico", acrescentou.
O ex-ministro ainda apontou a agroindústria como um dos segmentos com mais potencial, uma vez que o país é um grande produtor de grãos e poderia exportar produtos agrícolas já manufaturados.
Regular IA no Brasil requer discussão conjunta de Congresso e empresários, dizem especialistas
LUCIANA ALVAREZ, LISBOA, None (FOLHAPRESS) - O Brasil tem uma lei que regulamenta a internet vista como avançada no cenário mundial, o Marco Civil da Internet. Agora, enfrenta o desafio de criar uma legislação específica para a inteligência artificial (IA).
É o caso de um projeto de lei que tramita no Senado, que, segundo especialistas, deve equilibrar a proteção aos cidadãos sem engessar o desenvolvimento tecnológico nacional.
Para chegar ao equilíbrio, o diálogo com os empresários é essencial, defende Carlos Afonso Souza, advogado e professor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). "As vozes do empresariado precisam participar da discussão. Diferente da regulação das redes sociais, que interessa a um grupo pequeno de empresas, a IA não é um setor, é uma infraestrutura que alimenta os diferentes setores. É horizontal."
Souza participou do primeiro painel da Lide Brazil Conference Lisboa, evento realizado por Lide, Folha de S.Paulo e UOL, nesta sexta-feira (15), na capital portuguesa.
Uma das preocupações, diz, é que a lei trate não apenas dos modelos de IA generativa, como o ChatGPT. "Hoje todo mundo sabe do que se trata IA, mas o ChatGPT é apenas uma noz no oceano. IA não é só a generativa. Minha preocupação é que a legislação não olhe só para um momento."
Breno Silva, parceiro global da Bootcamp, aceleradora de startups, concorda que o diálogo é essencial porque a inovação não se dá em isolamento. Além da participação ativa de empresários nas discussões no Congresso, ele defende debate sobre investimento em educação e planejamento da produção energética.
"Hoje 80% da energia de data centers já é destinada à IA. A gente pode se posicionar como líder de data centers porque tem energia limpa e barata", diz Silva.
As oportunidades não são apenas de crescimento econômico, mas também de promoção de mais cidadania.
Tom Petreca, diretor da Tencent para América Latina, conglomerado chinês de tecnologia, cita como exemplo a cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que tem dois grandes aplicativos, um para visitantes, estimulando o turismo, e outro para os moradores.
"O aplicativo para o cidadão tem mais de 700 serviços públicos integrados. As pessoas conseguem resolver a vida inteira num só aplicativo", conta.
A abertura oficial do evento, na manhã desta sexta, teve a participação do ex-presidente Michel Temer, do embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro, do senador Weverton Rocha (PDT-MA), do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e de Carlos Moedas, prefeito de Lisboa.
Representando o Grupo Lide estavam João Doria Neto, presidente do Lide, João Doria, co-chairman, Marcelo Salomão, chairman do Lide Portugal, e Luiz Furlan, chairman e ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Completaram a mesa Paulo Samia, CEO do UOL, e Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha de S.Paulo.
Zerar emissões sem mercado de carbono é impossível para setores econômicos, diz ex-diretor da OMC
BRATRIZ GATTI, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As empresas só poderão atingir suas metas de redução de emissões a partir de mercados de carbono bem regulados e com preços justos. Essa é a visão de Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que esteve na Conferência de Lisboa, uma iniciativa de Lide, Folha de S.Paulo e UOL, realizada nesta sexta-feira (15), na capital portuguesa.
"Zerar as emissões sem mecanismos de compensação é praticamente impossível para a grande maioria dos setores econômicos", disse Azevêdo durante painel que discutiu economia circular.
"Essa demanda global, o crédito de carbono, vai crescer exponencialmente, e o Brasil tem tudo para se posicionar de uma maneira muito positiva nesse espaço", acrescentou ele, que é o atual presidente global de operações da Ambipar, multinacional brasileira que atua no setor de gestão ambiental. O potencial brasileiro está associado ao amplo uso de fontes de energia renováveis, principalmente de hidrelétricas e de biocombustíveis.
A capacidade de produção de hidrogênio verde foi outra questão estratégica apresentada pela ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016) Izabella Teixeira, que participou da mesa por videoconferência diretamente de Baku, no Azerbaijão, onde acompanha a COP29.
Co-presidente do Painel Internacional de Recursos da ONU, ela ressaltou o papel do setor de energia para o Brasil assumir a liderança de uma agenda concentrada na resiliência climática aliada ao desenvolvimento e crescimento econômico e à justiça social. Também citou boas perspectivas em relação à captura de carbono por altas tecnologias, além das soluções baseadas na natureza.
"É importante que o Brasil se coloque como um país provedor de soluções. É por aí que a transição energética brasileira precisa ser colocada", disse. Teixeira ainda defendeu a superação de conflitos ideológicos. "Não se trata de direita ou esquerda, trata-se de interesse nacional. E as soluções climáticas passam pelo conjunto de interesses nacionais."
Uma perspectiva mais acadêmica foi apresentada por Margarida Quina, professora de engenharia química da Universidade de Coimbra e diretora do Centro de Engenharia Química e Recursos Renováveis para a Sustentabilidade (Ceres). A docente esclareceu que economia circular não se resume a reciclagem e lembrou que a sustentabilidade está obrigatória e essencialmente atrelada à economia e à sociedade.
"No fundo, [economia circular] é imitar a natureza, mas a nível industrial", explicou. "Mas não vale a pena insistir em tecnologias que tenham abordagens interessantes do ponto de vista ambiental e não sejam viáveis economicamente."
Também participaram do painel Patrícia Iglecias, professora de direito ambiental da USP, e Hélio Costa, presidente do conselho da distribuidora de energia Light e ex-ministro das Comunicações (2005-2010).
A mediação foi feita por Carlos Marques, presidente do Lide Conteúdo, e por Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL.
Clientes ganham poder com novas tecnologias bancárias, como o open finance
JOÃO GABRIEL DE LIMA, LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - As novas tecnologias implementadas pelo sistema bancário podem transferir poder aos clientes. Além da melhora na experiência do usuário, que faz transferências com facilidade via Pix -tecnologia na qual o Brasil é pioneiro- há a perspectiva de melhor escolha de produtos, com a tecnologia do open finance. Esses foram alguns dos destaques no segundo painel da Lide Brazil Conference Lisboa, evento realizado por Lide, Folha de S.Paulo e UOL, nesta sexta-feira (15), na capital portuguesa. .
Sandra Utsumi, diretora-executiva do Haitong Bank - empresa que surgiu quando o tradicional Banco Espírito Santo de Investimento, de Portugal, foi adquirido pela chinesa Haitong Securities S/A- falou dos bons índices de inclusão bancária no Brasil, mas disse que ainda há oportunidade para crescimento. "O índice brasileiro de inclusão bancária, de 86%, é alto na comparação com países emergentes. Mas em Portugal, por exemplo, chega a 95% - o que mostra que há espaço para uma melhora."
Utsumi disse também que os clientes de países da União Bancária Europeia já desfrutam, graças à tecnologias "open finance", do direito de escolha. Um correntista de Portugal pode escolher um produto financeiro da Áustria ou Alemanha, se o retorno e as condições forem melhores que em seu país de origem.
Isaac Sidney, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), organizou sua fala em torno de um panorama histórico dos bancos brasileiros. Segundo ele, as empresas foram capazes de se reinventar em três momentos-chave: o Real, em 1994, o derretimento das hipotecas em 2008 e a pandemia em 2020. "Nossos bancos mostraram resiliência e capacidade de inovação."
"O Plano Real expôs a ineficiência dos que trabalhavam na nuvem da ciranda financeira. Emergiram dali bancos mais eficientes e mais sólidos", disse Sidney. "Mostramos resiliência também na crise de 2008, quando vários bancos americanos foram tragados pelo arrastão global. Na pandemia, os bancos foram importantíssimos para capitalizar a economia."
Paulo Henrique Costa, presidente do Banco do Nordeste (BNB), afirmou que os bancos enfrentam um desafio num país como o Brasil. "Somos um país que adota rapidamente novidades tecnológicas. Somos o segundo mercado mundial do Uber, do WhatsApp, do Facebook e do Instagram, e o terceiro do Netflix. Os bancos precisam correr atrás dessa sede de inovação e modernização".
Para apoiar sua tese, Costa citou a elevada proporção de uso de internet (92,5%) pela população brasileira e de acesso a ativos financeiros através de celular pelos que têm conta bancária.
O português Jorge Henriques é o vice-presidente da diretoria da CIP. A antiga entidade industrial portuguesa hoje é chamada de Confederação Empresarial de Portugal, ao incorporar agentes econômicos de diversos setores, que somam 71% do PIB (produto interno bruto) do país. "Associações empresariais como a nossa agrupam tecnologias e áreas diferentes, e são essenciais no processo de internacionalização. Portugal é uma economia média na Europa, mas se agiganta com o intercâmbio e as alianças internacionais."
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