Em agosto de 2025, Brasília será o centro das discussões sobre economia popular solidária no Brasil
Foto: Cáritas Regional Ceará
Em agosto de 2025, Brasília será o centro das discussões sobre economia popular solidária no Brasil
Nicoli Silveira Brasil De Fato | Porto Alegre (rs) - 19/12/2024 07:13:00 | Foto: Cáritas Regional Ceará
Em agosto de 2025, Brasília será o centro das discussões sobre economia popular solidária no Brasil com a realização da 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária. O evento, que deverá reunir mais de 1.500 participantes, incluindo delegados, gestores públicos e representantes de entidades de apoio, tem como objetivo principal definir as diretrizes das políticas públicas para o setor nos próximos anos. A iniciativa busca consolidar a economia solidária como uma alternativa viável e sustentável ao modelo econômico tradicional.
Com o tema “Políticas Públicas de Economia Popular e Solidária: construindo territórios democráticos por meio do trabalho associativo e da cooperação”, a conferência se apresenta como um espaço fundamental para debater os avanços, desafios e novas estratégias de desenvolvimento do setor. Segundo Nelsa Inês Fabian Nespolo, presidente da Justa Trama e da UNISOL/RS, o evento é uma oportunidade histórica para fortalecer as bases desse modelo econômico. "A conferência não apenas avalia as conquistas alcançadas, mas também abre novos desafios para a construção de políticas públicas. Este ano, ela ganha ainda mais importância com a aprovação da Lei Nacional de Economia Solidária", destaca.
A organização do evento nacional é o resultado de um processo democrático que começou nas bases, com a realização de conferências municipais e estaduais ao longo do último ano. Esses encontros possibilitaram um amplo debate sobre a realidade dos empreendimentos solidários em diferentes regiões do país, promovendo uma análise crítica das necessidades e prioridades locais.
Entre os principais temas discutidos nas etapas preparatórias, destacaram-se: comercialização e consumo solidário, com foco na ampliação de mercados para os produtos e serviços dos empreendimentos; finanças solidárias, que buscam fortalecer o acesso a crédito e recursos para as cooperativas; políticas públicas inclusivas, com a criação de conselhos e leis municipais de economia solidária; sustentabilidade e inclusão social, pilares do modelo solidário.
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram realizadas plenárias específicas para debater temas como juventude, questões raciais, diversidade, gênero e meio ambiente. Esses debates garantiram uma representatividade ampla e diversificada, que será levada para a etapa nacional.
Representatividade como prioridade
A estrutura da conferência foi planejada para garantir a pluralidade e a inclusão. Entre os 1.464 delegados eleitos nas etapas municipais e estaduais, 50% representam empreendimentos solidários, como associações, cooperativas e redes. Outros 25% são gestores públicos, enquanto o restante é formado por entidades de apoio e fomento.
Além disso, há critérios rigorosos de inclusão para assegurar a diversidade de gênero, raça e faixa etária: metade dos delegados deve ser composta por mulheres, 20% por jovens, e também haverá representantes de povos tradicionais, indígenas e quilombolas. Segundo Nelsa Nespolo, essa diversidade reflete a essência da economia solidária. "O objetivo é garantir que as discussões sejam conduzidas por quem vive a realidade da economia solidária no cotidiano. A conferência é um espaço para ouvir as vozes de empreendedores, catadores, agricultores familiares e tantos outros que constroem um modelo econômico mais justo", afirma.
Desafios e perspectivas para o setor
Mesmo com os avanços alcançados, o setor de economia solidária ainda enfrenta inúmeros desafios no atual cenário político e econômico. A comercialização dos produtos e a ampliação das compras públicas são algumas das questões centrais. Além disso, há a necessidade de fortalecer a coleta seletiva e as contratações de cooperativas de catadores, garantir a criação de feiras permanentes e ampliar o acesso a casas de economia solidária.
Outro ponto estratégico é a consolidação do Sistema Nacional de Finanças Solidárias, que busca viabilizar recursos para o setor. "É essencial criar mecanismos que garantam a sustentabilidade financeira dos empreendimentos. Sem isso, não conseguimos avançar na democratização da economia", ressalta Nelsa.
Além dos desafios internos, a economia solidária enfrenta a competição com grandes corporações e a desinformação em torno do modelo. Por isso, a conferência também será um espaço para fortalecer a comunicação do setor e promover maior conscientização sobre a importância desse modelo econômico.
Experiências práticas
Durante o evento, serão compartilhadas práticas exitosas de redes e cadeias produtivas, como as experiências da Univens e da Justa Trama. Essas iniciativas têm mostrado como a organização coletiva pode fortalecer os territórios e ampliar a capacidade de atender às demandas de compras públicas.
"A economia solidária se constrói no dia a dia, com o trabalho e a união de milhares de pessoas. Mostrar essas experiências é uma forma de inspirar outros grupos e consolidar o modelo como uma alternativa viável e transformadora", pontua Nelsa.
Além da 4ª Conferência, o setor terá outras agendas importantes em 2025, como a atualização do 1º Plano Nacional de Economia Solidária e a participação em debates no Congresso Nacional. Essas iniciativas demonstram o compromisso contínuo em fortalecer o modelo e ampliar seu impacto no Brasil.
A 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária acontecerá no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, e será um marco na construção de políticas públicas para o setor. O evento não apenas promove um debate sobre os rumos do segmento, mas também reforça a economia solidária como uma ferramenta de transformação social, pautada pela inclusão e pela sustentabilidade.
Edição: Vivian Virissimo
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