Vital Farias se foi.
Por Miguel Lucena - 07/02/2025 19:00:43 | Foto: Miguel Lucena Pessoal
Era uma vez uma floresta na Linha do Equador. Era uma vez um poeta que fez da música sua voz e da voz um rio que corria sem pressa, mas com destino certo: o coração do povo. Hoje, esse rio parece ter secado, e a notícia de sua partida nos atravessa como um vento frio que varre o sertão.
Vital Farias se foi. Mas será mesmo que partiu? O homem que cantou a floresta e denunciou sua destruição, que pegou a viola para contar a saga dos ribeirinhos, dos indígenas, dos esquecidos – esse homem não pode morrer.
“Era uma vez uma floresta na Linha do Equador…”
A floresta chora, o rio se retrai, os pássaros voam sem rumo. E nós, que aprendemos a sonhar com suas canções, ficamos órfãos de sua voz, mas não de sua presença. Porque Vital é raiz. E raízes não morrem, apenas se espalham.
Lembro-me daquele dia especial, em 1995, no Auditório da Associação Paraibana de Imprensa, quando ele apresentou meu livro Verso-Menino. Com seu jeito sereno e sua fala certeira, ele mostrou que poesia e música são irmãs, que a palavra pode ser espada e afago ao mesmo tempo. Vi nos seus olhos a certeza de quem sabia que arte é resistência, é semente jogada na terra para nunca mais ser esquecida.
Hoje, sua voz ecoa ainda mais forte. Não se admire se um dia, um beija-flor invadir a porta da sua casa, lhe der um beijo e partir.
“Fui eu que mandei um beijo,
Que é pra matar meu desejo,
Faz tempo que não te vejo,
Ai que saudade d’ocê!”
Ah, Vital, que saudade já sentimos de você! Mas sabemos que beija-flores não morrem: viram vento, viram melodia, viram estrela na noite de quem sabe ouvir.
E, como em sua canção, você partiu para outra cidade garantida, proibida, talvez para arranjar um novo meio de vida entre os astros.
“Eu vou partir
Pra cidade garantida, proibida,
Arranjar meio de vida, Margarida,
Pra você gostar de mim.”
Pode partir, Vital, mas saiba: sua música ficou. Sua voz nunca se calará. E, cada vez que uma viola chorar no sertão, que um rio cantar sua canção na Amazônia, que um poeta abrir um livro de versos-meninos, lá estará você, eterno, como toda arte que nasceu para não morrer.
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