Os poemas declamados por Terezamaria têm feitio de oração.
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Os poemas declamados por Terezamaria têm feitio de oração.
Por Maria José Rocha Lima* - 04/01/2025 09:06:00 | Foto: Ilustração
A nossa amiga, minha amada Therezamaria Lucciola de Campos, a encantadora contadora de histórias, nos fez uma visita neste encerramento do ano de 2024. O Anjo da Poesia, a Sherazade do Cerrado, nos foi enviada por Deus, no último dia do ano, para iluminar os nossos corações, embelezar a nossa vida e nos encorajar
Therezamaria esbanja vivacidade e alegria, e engana o tempo com sua aparência linda e impecável. Ao entrar para a reserva, como ela chama a aposentadoria, fez um curso para contadores de histórias e passou a se dedicar à expressão de uma de suas maiores paixões: as palavras. Therezamaria escolhe, sempre, as palavras de acordo com o dia e o momento, ela causa efeitos diferentes. Ela diz: “Nós, contadores de histórias, somos valorizadores das palavras, somos livros vivos. Não nos preocupamos com adereços, mas com a palavra. A palavra é tudo: tem peso, tem e tem força, cor. A palavra é iluminada, grávida de significados”, filosofa.
Os poemas declamados por Terezamaria têm feitio de oração. Primeiro veio o belo e singelo presente: belo ornamento para porta, desejando-nos a paz. E depois vieram as santas palavras, em versos.
Therezamaria Lucciola de Campos, a contadora de histórias do cerrado, também apelidada, justamente, de Sheherazade do Cerrado, foi usada por Deus para falar de coisas que precisávamos ouvir.
A grande poeta, ativa, veio nos visitar e declamar para que encerrássemos o Ano de 2024 com chave de ouro. Vejamos os poemas por ela declamados: Memória de Carlos Drummond de Andrade. “Amar o perdido/deixa confundido/este coração. / Nada pode o olvido/contra o sem sentido/apelo do Não./As coisas tangíveis/tornam-se insensíveis/à palma da mão./Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.
Depois veio a declamação do poema “Guardar”, de Antônio Cícero , que nos deixou recentemente e nos faz refletir sobre o ato de guardar alguma coisa. “Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro. Do que pássaros sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: para guardá-lo, para que ele, por sua vez, guarde o que guarda. Guarde o que quer que guarda um poema. Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.
*Maria José Rocha Lima – Zezé é professora, mestre em educação pela UFBa e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira.
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