Por João Zisman: Partido dos Trabalhadores, quem diria, veste capa dos ditadores

PT-DF não demonstra confiança na maioria

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Por João Zisman - 04/11/2025 09:42:20 | Foto: João Zisman - Editoria de Artes/IA

O Partido dos Trabalhadores sempre se orgulhou de ser uma legenda de bases, forjada na luta popular e estruturada sobre a ideia de participação. É curioso, portanto, observar que, quando o processo interno de decisão se aproxima, a direção local costuma preferir o atalho à travessia.

A carta enviada por parte dos diretórios do PT-DF à executiva nacional, manifestando apoio a Leandro Grass como pré-candidato ao governo do Distrito Federal, é um desses documentos que dizem mais pelo que omitem do que pelo que declaram.

No texto, os signatários afirmam que a imensa maioria do partido no DF apoia Grass e que, portanto, não haveria necessidade de realizar prévias internas. O raciocínio parece lógico, mas é o oposto: se há maioria consolidada, a realização das prévias serviria apenas para confirmá-la, dar legitimidade e encerrar a disputa com selo democrático.

Ao renunciar ao processo, o PT-DF não demonstra confiança na maioria, demonstra medo do próprio espelho.

O argumento da unidade é, nesse caso, um eufemismo para controle. A unidade, quando é real, nasce do convencimento, não da supressão do debate. Evitar a consulta interna é admitir que o consenso é frágil, que há divergências silenciadas e que a construção da candidatura é menos coletiva do que se quer parecer.

O discurso da maioria consolidada soa como aquele aluno que dispensa a prova alegando já ter estudado demais. Se o conteúdo está na ponta da língua, por que não responder as perguntas?

A carta foi encaminhada à direção nacional, justamente o órgão que havia orientado os diretórios estaduais a não definirem candidaturas nem realizarem prévias até nova deliberação. O gesto de desobediência educada tem propósito político: cria fato consumado e força o reconhecimento do nome de Grass como escolha natural, empurrando o PT nacional à ratificação. É a política de quem prefere pedir desculpas depois a pedir autorização antes.

O paradoxo é evidente. O partido que construiu sua identidade sobre a noção de participação popular agora teme participar de si mesmo. A democracia interna, que outrora era bandeira, virou moeda de troca na mesa das conveniências.

E o mais grave: quando o resultado passa a importar mais do que o processo, o partido começa a se parecer com aquilo que um dia jurou combater.

Leandro Grass é, sem dúvida, um nome competitivo, de imagem pública positiva e trajetória coerente com o campo progressista. O problema não é ele, é o método. A ausência de prévias não o fortalece, enfraquece a ideia de que sua candidatura nasceu de um consenso legítimo.

No fim das contas, a carta que pretendia demonstrar força acabou revelando fraqueza. É o documento de um partido que se defende da própria história, com medo de que o voto interno confirme o que a maioria diz já existir.

Talvez porque, no fundo, o PT-DF não tenha medo de disputar. O que teme, de fato, é ter de provar que a maioria de que fala existe apenas no papel.

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