Sem orçamento e liberdade de gestão, a universidade fica à mercê dos interesses de quem prioriza lucro ou poder
Por izadora Xavier E Paulo Chamon - Portal Bdf - 19/10/2025 18:17:53 | Foto: A graduação em relações internacionais integra os cursos existentes no Campus 5 da UEPB, em João Pessoa - Foto: Juliana Marques/UEPB
Os professores do curso de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) estão em greve desde o dia 22 de setembro. Normalmente, esses professores dão aula para 421 discentes, formando futuros diplomatas, professores, trabalhadores de organizações locais, estaduais, nacionais e internacionais e, sobretudo, cidadãos e cidadãs aptos a construir uma Paraíba melhor. O curso também oferece serviços para a comunidade e produz conhecimento sobre e para a Paraíba que a conecta com fenômenos globais.
Universidades estaduais têm um público discente diferente tanto das universidades privadas quanto das universidades federais. Como lembrava a secretária-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE), Camila Moraes, em evento na UEPB realizado no dia 29 de setembro, as estaduais têm uma importância única no ensino público superior brasileiro por terem muitas unidades fora dos centros econômicos e capitais. A UEPB, por exemplo, está hoje em nove cidades da Paraíba, acolhendo estudantes que não teriam acesso às federais. Além disso, universidades estaduais estão mais próximas às realidades locais e podem produzir um conhecimento que responde às necessidades de quem está fora do radar dos grandes centros.
Aula pública que ocorreu no último 29 de setembro, no campus 5 da UEPB | Foto: Aduepb
Dizemos podem porque para cumprir sua promessa a universidade precisa de autonomia. E autonomia exige orçamento público garantido e liberdade de geri-lo, para que a universidade possa se organizar para responder ao que as pessoas querem e precisam, independentemente de onde elas vêm e da classe a que pertencem. Sem orçamento e liberdade de gestão, a universidade fica à mercê dos interesses de quem prioriza lucro ou poder, em vez de qualidade de ensino. É contra o que lutamos.
Quem teve a oportunidade de entrevistar pessoas comuns – como uma de nós teve – sobre os problemas do Brasil, sabe que as pessoas sempre começam reclamando da falta de polícia e prisão, mas acabam dizendo que a raiz dos nossos problemas está em duas coisas: falta de educação e falta de responsabilidade de quem está no poder.
É por isso que docentes e discentes da UEPB estão em greve desde o dia 22 de setembro. Pedimos apenas que o governador cumpra a lei: que garanta o orçamento que está previsto para a universidade na Lei Estadual no 7.643/2004, chamada Lei de Autonomia. O governador foi à mídia dizer que o repasse está acontecendo de acordo com a lei. Discordam dele não apenas docentes e discentes, como também o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba. Não é diferença de interpretação: os órgãos responsáveis pelo respeito à lei paraibana já afirmaram que a lei não está sendo cumprida pelo governador. Se existe uma disputa de interpretação, ela é sobre datas: desde quando o governo da Paraíba descumpre a lei?
Manifestação dos professores e professoras da UEPB no campus de Guarabira | Foto: Aduepb
Alguns dizem 2021 e, nesse caso, a dívida seria de R$ 122 milhões para a universidade paraibana. Outros dizem 2011, e aí a dívida do governador com estudantes e professores vai para mais de R$ 1 bilhão. Essa é a verdadeira disputa: quantos de nós podem ferir repetidamente a lei, acumular dívidas às custas do povo, sem que nada aconteça?
Os representantes do povo paraibano afirmaram que, por lei, o governo precisa repassar parte dos ganhos do crescimento do estado para a UEPB, garantindo sua autonomia e função social. O governo desrespeita, escolhendo não dar dinheiro para a formação de profissionais qualificados e responder aos novos desafios de um estado que está crescendo e acumulando receita. A conta não fecha. Para onde está indo o dinheiro que deveria ir para a educação superior estadual?
*Izadora Xavier é professora do curso de relações internacionais da UEPB
**Paulo Chamon é professor do curso de relações internacionais da UEPB
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.
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Editado por: Carolina Ferreira
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