Por João Zisman: A convergência entre gestão privada e administração Pública

A valorização do servidor público não é um gesto meramente simbólico.

Por João Zisman: A convergência entre gestão privada e administração Pública
Por João Zisman: A convergência entre gestão privada e administração Pública

Foto: © MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

A valorização do servidor público não é um gesto meramente simbólico.

Por João Zisman - Especial Para Notibras - 05/01/2025 17:28:10 | Foto: © MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

A migração de um gestor do setor privado para a administração pública é um movimento que desperta curiosidade e levanta questionamentos. Parte desses questionamentos nasce da percepção de que as lógicas que regem essas duas esferas são incompatíveis. A realidade, contudo, revela um caminho de convergência: a administração pública, na medida do possível, deve adotar práticas de governança inspiradas nos valores mais universais da gestão privada, sem jamais perder de vista sua essência e seu compromisso com o interesse coletivo.

Se no mundo corporativo a eficiência, a meritocracia e o foco em resultados são fundamentais para a sobrevivência e o crescimento das empresas, na administração pública esses mesmos princípios podem – e devem – ser adaptados para garantir que o Estado entregue serviços de qualidade, reduza desperdícios e opere com maior transparência. Governança, planejamento estratégico, controle de processos e avaliação de desempenho são ferramentas que, longe de serem exclusivas do setor privado, têm se mostrado indispensáveis para modernizar a máquina pública.

Entretanto, essa transposição de práticas exige um entendimento profundo do papel do servidor público. Diferente de uma empresa, onde as mudanças ocorrem a partir de decisões unilaterais da alta liderança, a administração pública opera em um ambiente onde a estabilidade e a continuidade são garantias institucionais. O servidor público de carreira, muitas vezes visto como um símbolo de resistência à inovação, é, na verdade, a peça-chave para o sucesso de qualquer processo de transformação.

A valorização do servidor público não é um gesto meramente simbólico – é uma necessidade estratégica. Ele representa a memória institucional, domina os fluxos internos e compreende as particularidades do atendimento às demandas sociais. Sua capacitação e engajamento são fatores determinantes para que práticas de governança, inspiradas na iniciativa privada, possam ser implementadas com eficácia e sensibilidade.

A construção de políticas públicas eficazes passa, portanto, pela integração entre a visão inovadora que gestores privados trazem e a experiência técnica acumulada pelo funcionalismo. Governar com eficiência não implica em substituir um modelo pelo outro, mas sim em harmonizá-los, reconhecendo que a agilidade do setor privado precisa dialogar com a prudência e o compromisso democrático do setor público.

É necessário, contudo, estabelecer um limite claro. Ao adotar práticas de gestão privada, a administração pública não deve perder de vista sua responsabilidade social. Se na iniciativa privada o lucro é o principal indicador de sucesso, no setor público, o resultado é medido pelo impacto positivo na vida das pessoas, na redução das desigualdades e na ampliação do acesso a direitos fundamentais. A busca por eficiência deve coexistir com a promoção da equidade, garantindo que a lógica do desempenho não comprometa a universalidade dos serviços prestados.

O grande desafio do gestor que migra do mundo corporativo para o setor público é compreender que, ainda que os valores de governança sejam universais, o contexto em que se aplicam é distinto. A pluralidade de interesses, a necessidade de transparência e a fiscalização constante exigem um novo repertório de habilidades: capacidade de negociação, empatia e disposição para ouvir.

Essa fusão de práticas empresariais com a valorização do servidor público cria um modelo de gestão mais equilibrado e sustentável. Em vez de enxergar a máquina pública como um obstáculo à modernização, o novo gestor deve encará-la como um organismo vivo, onde cada peça, cada servidor, desempenha um papel crucial na entrega de resultados.

No fim, a eficiência na administração pública não nasce de um choque de culturas, mas de uma parceria inteligente entre o dinamismo do setor privado e a estabilidade do serviço público. É nesse ponto de equilíbrio que surgem as grandes inovações – aquelas que transformam a vida das pessoas e consolidam o papel do Estado como agente de desenvolvimento.

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