O que se sabe sobre o erro dos EUA e o plano de guerra vazado a repórter?

'Por que você não volta para o seu país?', diz deputada dos EUA a repórter após pergunta sobre vazamentos

O que se sabe sobre o erro dos EUA e o plano de guerra vazado a repórter?
O que se sabe sobre o erro dos EUA e o plano de guerra vazado a repórter?

Giovanna Arruda, São Paulo, Sp (uol/folhapress) - 30/03/2025 11:02:01 | Foto: O jornalista Jeffrey Goldberg durante entrevista à CBS, em que explicou o motivo pelo qual publicou as mensagens recebidas por engano Imagem: Reprodução/YouTube/CBS Evening News

Na última segunda-feira, a revelação de um jornalista abalou o governo de Donald Trump: Jeffrey Goldberg, redator-chefe da revista The Atlantic, relatou que recebeu, por engano, os planos de guerra supostamente confidenciais referentes a ataques militares previstos pelos Estados Unidos contra alvos ligados ao grupo rebelde Houthi, no Iêmen. Na última quarta, a revista publicou o conteúdo recebido por Goldberg.

A nova reportagem inclui capturas de tela de mensagens de um grupo no aplicativo de mensagens Signal. Além de Goldberg, estão no grupo o secretário de Defesa Pete Hegseth; o secretário de Estado, Marco Rubio; o vice-presidente J.D. Vance; a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard; a chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles; o assessor do presidente, Stephen Miller; o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz; o secretário do Tesouro, Scott Bessent; o enviado especial da Casa Branca Steve Witkoff; e o vice-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Alex Wong,
Eu tinha fortes dúvidas de que esse grupo de texto fosse real, porque não podia acreditar que a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos se comunicaria pelo Signal sobre planos de guerra iminentes Jeffrey Goldberg, em texto publicado pela The Atlantic
Segundo Goldberg, a decisão de publicar as capturas de tela se deu por conta da postura das autoridades, que afirmavam que não havia informação confidencial no conteúdo do grupo. Em entrevista à CBS na última quarta-feira, o jornalista afirmou que decidiu publicar as informações para que o público pudesse analisar por conta própria o teor das mensagens as quais teve acesso de forma equivocada.

O PLANO DE GUERRA
Os registros publicados indicam detalhes dos ataques planejados contra o grupo rebelde Houthi, duas horas antes de o episódio acontecer, no último dia 15. Goldberg recebeu informações sobre os alvos, as armas que seriam utilizadas pelos Estados Unidos e o seguimento do ataque. O Ministério da Saúde do Iêmen, dirigido pelos houthis, informou que pelo menos 53 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas nos ataques.

Pete Hegseth escreveu, momentos antes e durante os ataques, detalhes da operação com ataques aéreos de F/A-18F Super Hornets da Marinha. Eles foram lançados do porta-aviões Harry S. Truman no Mar Vermelho, junto a drones MQ-9 Reaper voando de bases terrestres no Oriente Médio.

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Veja algumas das mensagens que mostram o desenrolar do ataque:
12h15 (horário da costa leste americana): "F-18s LANÇAM (1º pacote de ataque)"
13h45: "Começa a janela de ataque dos F-18 com base em gatilho (o terrorista alvo está em seu local conhecido, portanto DEVE ESTAR NA HORA -além disso, os drones de ataque são lançados (MQ-9s)."
14h10: Mais F-18s LANÇAM (2º pacote de ataque)"
14h15: "Drones de ataque no alvo (É NESSE MOMENTO QUE AS PRIMEIRAS BOMBAS DEFINITIVAMENTE CAIRÃO)"
15h36: "Segundo ataque dos F-18 começa - também são lançados os primeiros Tomahawks baseados no mar."
"Que Deus abençoe nossos guerreiros", concluiu Hegseth.

"Farei uma oração pela vitória", respondeu o vice-presidente J.D. Vance.

A troca de mensagens indica, também, o posicionamento político da equipe de Trump. J.D. Vance disse que odiava "resgatar a Europa novamente", já que o ataque norte-americano também beneficiaria navios do continente, alvos dos houthis no Mar Vermelho.

Hegseth concordou com a declaração e acrescentou: "É patético!". Waltz, por sua vez, afirmou que os europeus eram "incapazes" de resolver o problema por seus próprios meios, e informou que estava levantando os custos do ataque para enviar o aviso de cobrança aos europeus.

A veracidade do conteúdo divulgado por Goldberg foi confirmada. "A sequência de mensagens parece ser autêntica e estamos revisando como um número foi adicionado inadvertidamente à conversa", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes.

A REAÇÃO DAS AUTORIDADES
Antes da publicação das capturas de tela por parte da The Atlantic, Donald Trump minimizou o caso, referindo-se ao escândalo como um "pepino". Em entrevista à emissora NBC, Trump disse que a inclusão do jornalista em um grupo de discussão confidencial foi "a única falha em dois meses [de governo] e, no final das contas, não foi séria".

Mike Waltz reconheceu ser o responsável pelo chat. "Fui eu quem criou o grupo; meu trabalho é garantir que tudo esteja coordenado", declarou Waltz à Fox News. Ele afirmou, ainda, que não conhece pessoalmente Jeffrey Goldberg.

Apesar da falha, Waltz conta com o apoio de Trump. "Michael Waltz aprendeu uma lição, e ele é um bom homem", declarou o presidente à NBC.

Entre os democratas, o caso gerou revolta. O senador Chuck Schumer descreveu o vazamento como "uma das violações mais surpreendentes à inteligência militar" e pediu uma investigação completa. "O descuido mostrado pelo gabinete do presidente Trump é impressionante e perigoso", disse o senador Jack Reed. O deputado Raja Krishnamoorthi afirmou que Hegseth deveria renunciar ao cargo. "Uma investigação completa precisa ser realizada", disse em audiência na Câmara.

Já Hillary Clinton -a quem Trump criticou repetidamente por usar um servidor de e-mail privado enquanto era secretária de Estado- compartilhou na rede social X o artigo de The Atlantic com a frase: "Você só pode estar brincando".

'Por que você não volta para o seu país?', diz deputada dos EUA a repórter após pergunta sobre vazamentos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A deputada dos Estados Unidos Marjorie Taylor Greene atacou uma jornalista da rede britânica Sky News, sugerindo a ela que voltasse ao seu país, depois de ser questionada sobre o vazamento de segredos militares americanos, caso considerado um escândalo no governo de Donald Trump.

"Por que você não volta para o seu país?", perguntou Marjorie à repórter. "Temos um grande problema de migração e você deveria se importar com as suas próprias fronteiras. Você se importa com as pessoas do seu país? E com as mulheres que são estupradas por migrantes?"
A jornalista britânica Martha Kelner, correspondente da Sky News nos EUA, havia perguntado se os soldados americanos estão em risco, uma vez que informações sigilosas sobre ataques das forças americanas contra rebeldes houthis, no Iêmen, vazaram ao editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg.

A pergunta irritou Marjorie, do Partido Republicano. Ela afirmou não se importar com o que chamou de notícias falsas e disse que não "dava a mínima" para a opinião da repórter. Também ignorou o questionamento sobre o caso, que vem suscitando dúvidas sobre a segurança das informações compartilhadas entre autoridades americanas.

Em seguida, em uma entrevista coletiva, um repórter americano pediu à deputada que respondesse aos questionamentos feitos pela jornalista britânica. Mas a deputada novamente se recusou a responder, dizendo que não se importa com o público de Martha.

Ao comentar o episódio em um podcast da Sky News, Martha Kelner disse ter sido "insultada de uma forma agressiva". Afirmou ainda que casos semelhantes já tinham acontecido antes.

Não é a primeira vez que a deputada republicana ataca jornalistas. Em 2022, ela já havia dito a outra repórter britânica, Siobhan Kennedy, também para "voltar ao seu país" depois de ser questionada sobre o controle de armas nos EUA.

Marjorie Greene representou a chegada ao Congresso americano do grupo conspiracionista de extrema direita QAnon, que, sem base em fatos, diz que existe uma conspiração mundial envolvendo artistas e políticos pelo tráfico sexual de crianças.

Em 2022, a deputada teve sua conta no Twitter suspensa depois de violar a política de desinformação sobre Covid-19 da rede social. Antes, em 2021, foi punida pelo Congresso americano e removida de duas comissões às quais tinha sido indicada por ter defendido teorias de conspiração, apoiado atos de violência contra congressistas, entre outras ações controversas.

O vazamento dos segredos militares veio à tona na segunda (24). Em reportagem publicada na revista The Atlantic, o editor-chefe, Jeffrey Goldberg, disse ter sido incluído em um grupo do aplicativo de mensagens Signal, aparentemente de forma acidental, no qual várias autoridades americanas compartilhavam segredos militares. O vice-presidente, J. D. Vance, e o secretário de Defesa, Pete Hegseth, estavam entre os participantes do grupo.

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