Museóloga brasileira é responsável pelo acervo da Notre-Dame

Primeira missa na Notre-Dame reaberta tem recado sobre crise política da França

Museóloga brasileira é responsável pelo acervo da Notre-Dame
Museóloga brasileira é responsável pelo acervo da Notre-Dame

André Fontenelle, Paris, França (folhapress) - 09/12/2024 18:06:56 | Foto: Arquivo Pessoal

No início do ano, quando viu na internet uma vaga para trabalhar na reforma da Notre-Dame, Carolina Vernei Alves Ferreira mandou seu currículo, "meio sem esperança".

Hoje, a museóloga brasileira, 28, é gerente do acervo de peças históricas da catedral de Paris. "Até hoje acho que parece um filme o que está acontecendo", conta.

Carolina é responsável pela catalogação, conservação e logística de mais de 1.300 peças, que vão desde a suposta coroa de espinhos de Jesus Cristo (cuja localização exata é mantida em sigilo) à estátua da Virgem que é uma das principais relíquias de Notre-Dame.

"Meu trabalho, basicamente, é fazer com que a vida desses objetos seja conservada da melhor maneira possível", afirma.

Formada em museologia pela Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Carolina decidiu tentar a sorte na França três anos atrás, sem nunca antes ter saído do Brasil. Um caminho natural, segundo ela, devido à forte influência francesa em sua área. Em Paris, fez mestrado e atuou em instituições de prestígio, como o Museu do Homem e o Museu do Quai Branly, famoso pelo acervo etnográfico.

O interesse pela museologia surgiu na cidade natal. Apesar de pequena -40 mil habitantes-, Paracambi (RJ) tem um rico patrimônio histórico, relacionado ao ciclo do café do século 19.

Carolina diz acreditar que a formação em museologia no Brasil, mais eclética que em outros países, favoreceu sua carreira profissional na França. "No Brasil, o museólogo acaba tendo que fazer de tudo. Então eu já tinha experiência com acervos muito diferentes", afirma. Seu contrato é temporário e vai até meados do ano que vem.

Ao longo das últimas semanas, Carolina pôde entrar várias vezes na catedral e vê-la do jeito como será descoberta pelo público a partir deste fim de semana. "Aproveitei e tirei todas as fotos que eu podia tirar para poder ir com calma depois, porque eu sei que agora vai ter uma multidão lá."
Além dela, uma outra brasileira participou dos preparativos para a reabertura da Notre-Dame neste sábado (7), cinco anos após o incêndio que quase destruiu a catedral. Luciana Lemes, 29, foi uma das responsáveis pela afinação do órgão da igreja. Produzido em 1868, ele voltará a soar neste domingo (8).

Primeira missa na Notre-Dame reaberta tem recado sobre crise política da França

ANDRÉ FONTENELLE, PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Bem menos badalada que a cerimônia de reabertura da véspera, a primeira missa na catedral de Notre-Dame restaurada após o incêndio de 2019, foi marcada por uma rara mensagem política do arcebispo de Paris.

"Oro por nosso país, que está olhando para o futuro com inquietude", disse na manhã deste domingo (8) Laurent Ulrich, diante do presidente da França, Emmanuel Macron, sentado na primeira fila.

Macron enfrenta a maior crise de seus sete anos de governo. O primeiro-ministro escolhido por ele em setembro, Michel Barnier, foi derrubado por um voto de censura da Assembleia Nacional. A três semanas do final do ano, a França não tem orçamento aprovado, e parte da oposição pede a renúncia do presidente.

Apesar da aparente neutralidade, o recado do arcebispo foi uma sutil quebra de protocolo, em um país onde a separação entre Igreja e Estado é um princípio previsto em lei desde 1905.

O próprio Macron foi criticado por violar essa regra ao discursar duas vezes dentro da catedral recém-reformada, a primeira na semana anterior, durante uma visita à obra para homenagear os operários; e a segunda, no início do ofício religioso de sábado (7). Esse último pronunciamento deveria ter ocorrido do lado de fora, mas foi transferido para o interior sob o pretexto do mau tempo.

Se mais de 30 chefes de Estado compareceram à reinauguração do sábado, a missa de domingo, apenas para convidados, teve menos presenças ilustres. Macron, que na véspera sentara-se ao lado do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, desta vez teve a companhia do grão-duque Henri, de Luxemburgo.

Além da menção à situação política francesa, o arcebispo Ulrich abordou de forma genérica os conflitos atuais no planeta. "Penso especialmente em todos vocês ao redor do mundo que estão enfrentando os rigores da guerra, da violência, do terrorismo e dos tráficos vergonhosos."
Uma segunda missa está prevista para a noite de domingo, às 18h30 de Paris (14h30 de Brasília), a primeira aberta ao público em geral. Foi preciso reservar online um lugar.

A partir de segunda-feira (9), a catedral poderá ser visitada por turistas. A diocese de Paris recomenda reservar um lugar pelo site oficial, com 48 horas de antecedência. Haverá uma fila para visitantes sem reserva, mas se preveem longas horas de espera.

A entrada será gratuita. O governo francês chegou a propor a cobrança de € 5 (cerca de R$ 31) pela entrada, o que desagradou a Igreja. O papa Francisco, que recusou convite de Macron para a reinauguração de Notre-Dame, fez questão de tocar no assunto na mensagem que enviou para ser lida no ofício de sábado. Pediu que os fiéis sejam recebidos "generosamente e gratuitamente" na catedral reaberta.

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