Marcas apostam em conservas de pescados de alto padrão no Brasil

Agora, com um certo atraso, o brasileiro tem a chance de comprovar que conservas de peixes, moluscos e mariscos podem mesmo merecer essa atenção.

Marcas apostam em conservas de pescados de alto padrão no Brasil
Marcas apostam em conservas de pescados de alto padrão no Brasil

Flávia G. Pinho, São Paulo, Sp (folhapress) - 09/02/2025 12:30:47 | Foto: © FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ AGÊNCIA BRASIL

Já ouviu falar da noite do encontro com peixe enlatado? O ritual tinned fish date night foi inventado pela tiktoker norte-americana Ali Hooke, em 2022, e viralizou a ponto de virar produto: as caixas com latinhas variadas, com sua curadoria, chegam a custar US$ 105 (o equivalente a R$ 615) e rapidamente se esgotam.

Ela não está sozinha. O cozinheiro Harrison Weinfeld, de Los Angeles, apresenta-se como sardinfluencer. Sua missão é mostrar a versatilidade das conservas em lata.

Agora, com um certo atraso, o brasileiro tem a chance de comprovar que conservas de peixes, moluscos e mariscos podem mesmo merecer essa atenção.

Em dezembro de 2024, foi lançado o ecommerce da importadora Fui ao Mar, especializada em conservas de Portugal, Espanha e França. O portfólio, com 54 produtos, promete chegar aos 130 até o fim do ano -os preços de cada latinha vão de R$ 46 a R$ 138.

No mesmo mês, a chef Renata Vanzetto e o Projeto A.Mar lançaram três conservas em lata -sardinha escabeche, casquinha de siri e uma vegana, de cogumelos portobello e salicórnia, planta de sabor salgado. Vendidas no ecommerce do projeto e na Mercearia Maravilha, de Vanzetto, custam R$ 65 a unidade.

Para quem enxerga sardinha e atum enlatados como alimento quebra-galho barato, os preços dessas conservas assustam. Mas os fabricantes mostram que são produtos bem diferentes.

Antes de irem para a lata, que são fechadas uma a uma, os filés de sardinha escabeche de Vanzetto, oriundos da pesca artesanal, são cozidos em molho de tomate, azeite e temperos. O siri, trazido de uma comunidade de catadoras do Piauí, é refogado em dendê. A chef buscou inspiração nos países europeus, onde as latinhas são vendidas até como presente. "Sempre que viajo, trago várias na mala", afirma.

José Américo Fioravanti e Lydia Brasil, fundadores da Fui ao Mar, escolheram a dedo as marcas europeias que estão importando. Entre elas está a La Rose, fabricada pela conserveira Ramirez, a mais antiga de Portugal, fundada em 1853.

"São peixes de águas frias, com alto teor de gordura, pescados e enlatados no mesmo dia. As conserveiras não usam óleo, só azeite, e têm várias receitas secretas. As francesas, por exemplo, são famosas pelos molhos", diz Fioravanti.

Ele ganhou um novo sócio no fim de janeiro: o chef francês Emmanuel Bassoleil, que será garoto-propaganda da marca.

O maior desafio para os pescados em conserva é o preconceito do consumidor, que associa os enlatados a produtos de baixa qualidade.

Ao contrário do que muita gente pensa, o longo prazo de validade das conservas enlatadas, de até cinco anos, não se deve a conservantes químicos. "O tratamento térmico elimina todos os microorganismos e a lata vira um ambiente estéril, que não passa por alterações microbiológicas enquanto a embalagem estiver preservada e hermeticamente fechada", explica Tatiana Tribess, professora do curso de Engenharia de Alimentos do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

Para Rodolfo Villar, criador do Projeto A.Mar, a falta de transparência de alguns fabricantes contribuem para a má fama dos produtos. "Existem muitos que nem vendem atum, mas bonito, o que a legislação brasileira permite. Por isso a categoria continua com essa imagem de fonte barata de proteína", afirma.

Guillermo Baranano, sócio da Tours, fundada em 2008, em Itajaí (SC), garante que é uma exceção -quarta geração de conserveiros, ele afirma que seus oito produtos, com preços entre R$ 14,45 e R$ 23,70, são à base de atum de verdade.

"Os peixes chegam inteiros à fábrica, onde separamos apenas os lombos. O que sobra vai para a produção de farinha de peixe", conta o empresário, que processa 150 toneladas de atum por mês.

Os sócios da Fui ao Mar estão empenhados em levar as latas de conservas ao universo gastronômico. A ideia é promover degustações e ensinar a profissionais de consumidores o conceito da seacuterie board -versão da tábua de charcutaria, com pães, vegetais e outros petiscos, montada com pescados em lata no lugar dos embutidos. As embalagens coloridas são um atrativo a mais e devem ir junto para a tábua.

Villar vai no mesmo caminho e já conquistou um cliente de peso. A partir de março, o restaurante de cozinha francesa Blaise, dentro do hotel de luxo Rosewood, terá no menu uma tábua com as conservas do Projeto A.Mar. O preço ainda não foi definido, mas nenhuma das outras tábuas da casa custa menos de R$ 105.

COMO MONTAR UMA TÁBUA DE CONSERVAS
- Escolha de três a cinco conservas: uma básica, outra picante e uma terceira com molho, e as sirva nas latinhas
- Acrescente pão, além de picles, vegetais, um patê leve, frutas secas e frutas frescas
- Finalize com azeite, molho de pimenta e mostarda

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