Gramado volta para rota do turista brasileiro com reabertura de aeroporto no RS

Ficar sem aeroporto foi pior do que pandemia para turismo em Gramado (RS), diz setor

Gramado volta para rota do turista brasileiro com reabertura de aeroporto no RS
Gramado volta para rota do turista brasileiro com reabertura de aeroporto no RS

Leonardo Vieceli, Gramado, Rs (folhapress) - 04/12/2024 20:43:53 | Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto/Arquivo

Em uma manhã de novembro, turistas subiam e desciam a rua Torta, um dos pontos mais conhecidos de Gramado, na Serra Gaúcha (a 105 km de Porto Alegre).

Enquanto buscavam o melhor ângulo para tirar fotos na ladeira curvilínea, já decorada para o Natal, eles conversavam em grupos, dando forma a uma mistura de sotaques de diferentes estados do país.

O movimento não chegava a lotar a rua, mas quem vive do turismo em Gramado afirma que, aos poucos, visitantes de fora da região Sul estão retornando ao município. O motivo apontado para isso é a reabertura parcial do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

A volta dos voos nacionais ocorreu em 21 de outubro, após cinco meses de paralisação devido aos estragos da enchente que destruiu parte da infraestrutura do terminal, incluindo a pista.

Ao contrário da capital gaúcha, Gramado não sofreu diretamente com as inundações históricas do início de maio, mas amargou um choque nos negócios com o fechamento do principal aeroporto do estado.

Sem o Salgado Filho, ficou mais difícil ou até inviável para o público de fora da região Sul ir até o município conhecido pela vocação turística -seja pela redução na oferta de voos próximos, pela carestia das passagens aéreas ou pelo tempo maior de deslocamento.

Herisson Pimenta, 32, viveu essa situação. Morador de São Luís, no Maranhão, o engenheiro havia se programado para conhecer Gramado em junho, mas, com o fechamento do Salgado Filho, a viagem foi postergada para o início deste mês.

Para visitar a cidade gaúcha, a família de Herisson saiu de São Luís em uma conexão até Belo Horizonte. Na capital mineira, pegou outro voo até Campinas (SP), de onde embarcou para Porto Alegre.

O trajeto rodoviário de cerca de duas horas até Gramado foi percorrido com um carro alugado -opção frequentemente usada por turistas que desembarcam na capital gaúcha.

"A gente remarcou a viagem e veio agora em novembro, quando conseguiu conciliar com as férias", disse o engenheiro. Minutos antes de conversar com a Folha, ele brincava e tirava fotos com o filho e a esposa na rua Torta.

'DE VOLTA AO JOGO', DIZ REPRESENTANTE LOCAL
Representantes do setor de turismo em Gramado afirmam que há um início de recuperação em curso. A retomada é considerada gradual, até porque o Salgado Filho ainda tem obras para recuperar sua capacidade plena nos próximos meses.

"A reabertura do aeroporto foi como nos colocar de volta ao jogo", define Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia de turismo e cultura do município.

Para se recuperar da crise, a cidade com população estimada em 41,6 mil habitantes aposta na tradicional programação do Natal Luz, que ocorre de 24 de outubro a 19 de janeiro.

O evento promove espetáculos natalinos, além de espalhar luzes e outras decorações pelas ruas e avenidas.

A estimativa é receber em torno de 2 milhões de visitantes durante a celebração, patamar inferior aos cerca de 2,5 milhões da edição passada, segundo Rosa Helena. "É um resultado excelente diante de tudo que houve", diz.

De maio a julho, auge da crise, a economia de Gramado e região deixou de faturar R$ 500 milhões com a paralisação do aeroporto, estima Claudio Souza, presidente do SindTur Serra Gaúcha, que representa negócios como hotéis, bares, restaurantes e parques temáticos.

Ele diz que, apesar do "recomeço um pouco tardio", a situação está melhorando. "O consumidor de fora da região Sul está vindo. A gente já sente esse efeito", afirma.

Conforme Souza, a perspectiva dos hotéis é fechar o mês de novembro com uma ocupação média de 65% a 70%, subindo para a faixa de 70% a 75% em dezembro. No feriado de 15 de novembro, esse percentual chegou a 83%, aponta o dirigente empresarial.

"Até o aeroporto reabrir sentíamos as pessoas receosas em comprar passagens. Agora já há um movimento de mais confiança e segurança", diz Jéssica Piffer, secretária-executiva da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) na região das Hortênsias, que inclui Gramado.

Considerando voos nacionais com destino ao Salgado Filho de 21 de outubro a 31 de dezembro, o preço médio das passagens aéreas, em classe econômica, estava em R$ 1.610 (incluindo a volta), segundo dados levantados pela plataforma Kayak em outubro.

A Folha perguntou à concessionária Fraport, responsável pelo Salgado Filho, quantos passageiros utilizaram o terminal após a reabertura parcial, mas a empresa não deu retorno.

No início deste mês, o perfil oficial do aeroporto no Instagram estimou em 428 mil o número de viajantes que deveriam passar pelo local ao longo de novembro.

Trata-se de um contingente em torno de 33% menor do que o contabilizado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em voos domésticos em novembro do ano passado (638,7 mil).

O comerciante Anderson Garuzzi, 33, está entre os turistas de fora da região Sul que aproveitaram o retorno do Salgado Filho para conhecer Gramado.

Ele saiu de Vitória, no Espírito Santo, para visitar a cidade gaúcha no início de novembro com a esposa e o filho. A família fez conexão em São Paulo e, após chegar a Porto Alegre, alugou um carro até Gramado.

"A cidade está muito bacana, bem legal", disse. "O preço é um pouco salgado, mas é normal", acrescentou.

Para tentar estimular o turismo no Rio Grande do Sul, o governo estadual lançou uma campanha após as enchentes históricas.

"O turismo é muito relevante para a economia gaúcha, movimentando uma expressiva cadeia de emprego e renda e impactando empreendedores e trabalhadores que precisam recuperar o fôlego e voltar a sonhar", escreveu o governador Eduardo Leite (PSDB) em artigo publicado na Folha em outubro, quando o Salgado Filho foi reaberto.

"Quem vier encontrará um local diverso em gastronomia, cultura e belezas naturais. Gramado é o nosso cartão postal mais famoso, mas há muito mais", acrescentou o tucano na ocasião.

Maria Geisa Pereira da Silva, 26, está entre os trabalhadores que tiram o sustento do turismo no município gaúcho. Natural de Recife, ela é atendente de uma loja que vende lembranças de Gramado, como canecas, chaveiros e ímãs.

Na definição de Maria Geisa, a cidade estava um "breu" sem os visitantes que usam o Salgado Filho.

"Todo mundo estava na expectativa. É certo que agora está melhorando. Antes, era gente daqui do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina que estava vindo. Agora, tem de outros lugares também."

Ficar sem aeroporto foi pior do que pandemia para turismo em Gramado (RS), diz setor

LEONARDO VIECELI, GRAMADO, RS (FOLHAPRESS) - O empresário Gustavo Wiesel Cofferi, 48, contava nos dedos o tempo que faltava para a retomada dos voos no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

Ele é dono de um bar e restaurante chamado Toro, em Gramado, na Serra Gaúcha (a 105 km da capital). A exemplo de outros empreendedores locais, Gustavo depende da clientela de turistas que usam o Salgado Filho para visitar o Rio Grande do Sul.

O terminal foi fechado na noite de 3 de maio, quando Porto Alegre amargou a fase inicial das enchentes de proporções históricas no estado.

A reabertura de modo parcial só ocorreu cinco meses depois, em 21 de outubro -o Salgado Filho ainda passa por obras para recuperar a capacidade plena de operação.

"Para o meu negócio, ficar sem o aeroporto, realmente, afetou mais do que a pandemia", afirma Gustavo.

"Não cheguei a fazer um estudo em números, mas a impressão que a gente tem, e os amigos também falam, é essa. Isso mostra a importância que o aeroporto tem para nós", acrescenta.

Ele lembra que, mesmo com as restrições sanitárias, viajantes ainda conseguiam usar o aeroporto gaúcho na pandemia. Além disso, o turismo nacional e de curta distância sofreu menos do que as viagens internacionais à época.

Já neste ano, com a paralisação do Salgado Filho, ficou mais difícil -ou até inviável- para visitantes de fora da região Sul irem a Gramado, aponta Gustavo.

O reflexo das enchentes foi a redução da oferta de voos no Rio Grande do Sul, além do aumento dos custos das passagens aéreas.

Uma das saídas para quem precisou viajar ao estado foi ir a Santa Catarina e utilizar aeroportos como o de Florianópolis (a 460 km de Porto Alegre), para depois seguir em deslocamento rodoviário.

Segundo Gustavo, a reabertura do Salgado Filho já está estimulando a chegada de público a Gramado, mas ainda em um patamar aquém do pré-crise. Ele espera que a movimentação se intensifique em dezembro, período marcado por festas e férias escolares.

A cidade recebe a programação do Natal Luz de 24 de outubro a 19 de janeiro. O tradicional evento promove uma série de espetáculos, além de espalhar luzes e outros objetos decorativos pelas ruas e avenidas.

"Na pandemia, todos os destinos tinham restrições. As pessoas, quando achavam possível, viajavam pelo Brasil, e Gramado é muito visitada. Mas, agora, éramos os únicos que não podiam receber esses visitantes [que dependem do aeroporto]", diz Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia de turismo e cultura do município.

O fotógrafo Lucas Faotto, 25, também afirma que o fechamento do Salgado Filho foi pior para seu trabalho do que o período de restrições na pandemia. Ele faz ensaios de turistas em pontos conhecidos de Gramado.

"Na pandemia, tinha parques fechados, mas ainda tinha um pouco de turista na cidade. Logo depois das enchentes no estado, tudo estava aberto, mas não tinha turista", afirma.

De acordo com o fotógrafo, antes da paralisação do aeroporto, o número de ensaios em um dia podia chegar a sete ou mais.

Durante a crise provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o número minguou para um ou dois, quando muito. Já nas últimas semanas, com o Salgado Filho em operação, a média diária passou para a faixa de quatro, segundo Lucas.

"Os turistas estão vindo de novo, querendo que Gramado retome as atividades. Até estava comentando com um amigo: a gente nunca tinha parado para perceber que o aeroporto trazia tanta gente", afirma.

O mercado de trabalho não passou incólume pela crise deste ano. Em outubro, os setores de alojamento e alimentação, que incluem hotéis e restaurantes, somavam 5.992 empregos formais em Gramado, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Isso significa 744 vagas a menos do que em abril (6.736), antes da paralisação do aeroporto. O número chegou a cair a 5.739 em julho, mas teve leve aumento nos meses seguintes.

"A retomada do aeroporto é essencial para a região, era o que nós precisávamos. A gente aguarda um grande movimento e certamente um grande número de trabalhadores de volta ao mercado", afirma Rodrigo Callais, presidente do Sintrahg (Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado).

Ele também diz que a programação do Natal Luz deve estimular mais contratações.

"Quando teve a divulgação da data de reabertura [do aeroporto], nossas vendas cresceram muito para o período do Natal Luz", afirma Cristiane Mörs, diretora de vendas e marketing da rede de hotéis Laghetto.

Segundo a empresa, a ocupação alcançou 80% em novembro. Para dezembro, a perspectiva da rede é chegar a 85% ou 90%, em níveis semelhantes aos do ano passado.

O empreendedor mineiro Rogério Alves, 37, aproveitou a reabertura do Salgado Filho para ir ao Rio Grande do Sul. Ele visitou Gramado no início de novembro com a esposa e o filho.

"Ficou mais prático, né? A gente chegou a Porto Alegre, só pegou uma van e chegou bem mais rápido do que seria sem o aeroporto", conta.

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