Gargalo na transmissão trava grandes projetos de hidrogênio verde no país

O problema mobiliza também governadores do Nordeste, onde os projetos estão planejados.

Gargalo na transmissão trava grandes projetos de hidrogênio verde no país
Gargalo na transmissão trava grandes projetos de hidrogênio verde no país

Nicola Pamplona, Rio De Janeiro, Rj (folhapress) - 23/04/2025 11:40:44 | Foto: © DIVULGAÇÃO/ARI VERSIANI/PAC

Considerado o combustível do futuro e aposta do governo para atrair investimentos em transição energética, o hidrogênio verde enfrenta hoje no país gargalos no sistema de transmissão de energia, que impede o avanço dos projetos.

Responsável por autorizar o acesso à rede de transmissão, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) negou os oito primeiros pedidos, alegando que o sistema não tem capacidade de receber, em segurança, clientes do porte das usinas de hidrogênio.

O setor pede agilidade em obras de ampliação e reforço da transmissão para permitir a instalação dos projetos, que têm investimentos já programados de R$ 188 bilhões, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O problema mobiliza também governadores do Nordeste, onde os projetos estão planejados. "É inaceitável ter investidor querendo investir e não termos celeridade para garantir a energia necessária", disse em evento na semana passada o governador do Ceará, Elmano de Freitas.

A escolha da região Nordeste como base principal para os projetos respeita a proximidade com grandes parques eólicos e solares, fundamentais para garantir os grandes volumes de energia renovável que darão o selo verde à produção.

O diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zucarato, diz que o operador é sensível ao problema, mas ressalta que o volume de energia consumido por projetos de hidrogênio verde é muito superior a qualquer segmento que já pediu acesso à rede de energia no país.

Um projeto médio demanda uma carga de cerca de 1,5 GW (gigawatts) médios, quase o equivalente à capacidade da usina nuclear Angra 2. Estudos dinâmicos feitos pelo operador indicam que, nas condições atuais, os projetos podem gerar riscos à rede de transmissão.

"Uma indústria, quando quer aumentar produção, precisa que algumas centenas de MW (megawatts). Quando vai para a escala de GW, é diferente", afirma ele. "Não encontramos espaço na rede para colocar uma carga dessas de uma hora para outra."
O setor entende as restrições, mas pede do governo agilidade em projetos de expansão da rede, alegando risco de perder o investimento para outros países. "É um cenário muito temerário", diz a presidente da ABIHV (Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde), Fernanda Delgado.

O governo encomendou à EPE (Empresa de Pesquisa Energética) um estudo sobre ampliação e reforço da rede para absorver projetos de hidrogênio verde. Mas os investimentos dependerão ainda da realização de leilões de novas linhas ou de sistemas de proteção mais robustos.

"Se seguir o cronograma normal, isso tudo só estaria pronto em 2032", diz ela, alertando que a lei que instituiu R$ 18 bilhões em benefícios para viabilizar esses empreendimentos garante créditos tributários apenas entre 2028 e 2032.

A ABIHV reúne 12 empresas com projetos projetados para nove estados e o Distrito Federal. Os seis mais avançados têm investimentos previstos de R$ 66 bilhões e estão localizados no Ceará (quatro deles), Pernambuco e Minas Gerais.

"Os projetos precisam de conexão à rede para aproveitar o benefício [dado pela lei]. Senão, haverá um descasamento entre a política pública e a decisão de investimento dessas empresas", diz a presidente da associação.

A operação da rede de transmissão brasileira ficou mais restrita após o apagão de 2023, quando o ONS adotou uma postura mais conservadora para evitar a repetição do problema -cenário que agrava também os cortes involuntários na geração de renováveis.

A entrada de novas linhas licitadas no passado e medidas adicionais de segurança minimizam o problema, mas o reforço necessário para abarcar uma grande quantidade de projetos de hidrogênio só será conhecido após o estudo da EPE.

O ONS diz que recebeu nove pedidos de acesso. Negou em um primeiro momento oito e ainda avalia um. Os que tiveram o acesso negado voltaram à fila após a publicação, em fevereiro, do novo plano de outorgas de transmissão, que traz novos projetos e muda o cenário de análise.

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