Indústria aposta em ovo de Páscoa com biscoito para driblar alta do cacau

A informação é de Gustavo Bastos, vice-presidente jurídico e de assuntos públicos da Nestlé

Indústria aposta em ovo de Páscoa com biscoito para driblar alta do cacau
Indústria aposta em ovo de Páscoa com biscoito para driblar alta do cacau

Daniele Madureira, São Paulo, Sp (folhapress) - 21/02/2025 09:04:48 | Foto: © MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

O consumidor deve encontrar nas parreiras de ovos de Páscoa deste ano opções recheadas com biscoitos ou "bombons bola", uma tentativa da indústria de diminuir a quantidade de cacau nas apresentações. Isso porque o preço da matéria-prima disparou 189% em 2024.

A informação é de Gustavo Bastos, vice-presidente jurídico e de assuntos públicos da Nestlé, e presidente do conselho diretor da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), que apresentou nesta quinta-feira (20) o balanço anual do setor.

"Nesta Páscoa teremos mais opções na tendência 'chocobakery', união do chocolate com biscoito. É uma opção que o consumidor tem de continuar consumindo seu chocolate, com um pouco menos da presença de cacau, para que não haja um impacto tão forte sobre os preços."
Segundo Bastos, a indústria registrou pico de 400% de alta do cacau em 2024. Parte disso será repassado ao consumidor, em uma alta que deve chegar a dois dígitos, afirma. "Mas não será nada absurdo, como um aumento de 50% ou 70% [sobre o preço dos ovos]. A indústria faz uma ginástica para que o preço caiba no bolso do consumidor."
Na Nestlé, a produção de ovos de Páscoa começou em setembro, concentrada na fábrica de Vila Velha (ES), na antiga fábrica da Garoto. Em Extrema (MG), a multinacional suíça está produzindo ovos da Kopenhagen, adquirida no ano passado.

A inflação sobre alimentos e bebidas atingiu 7,7% no ano passado, contra 1,02% de 2023, segundo dados do IBGE compilados pela Abia. Os industrializados puxaram a alta (8,94%), uma vez que os alimentos in natura registraram deflação de 1,93%.

O faturamento da indústria de alimentos cresceu 9,9% em 2024 e atingiu R$ 1,27 trilhão, segundo a instituição. O montante, em termos nominais, representa 10,8% do PIB (Produto Interno Bruto). O mercado interno respondeu por 72% desse valor (R$ 918 bilhões), sendo R$ 357 bilhões referentes a exportações.

As vendas reais avançaram 6,1% e a produção física cresceu 3,2% no ano, para 283 milhões de toneladas de alimentos.

O Sudeste respondeu sozinho por 38% do faturamento da indústria (R$ 488 bilhões), seguido por Sul (R$ 348 bilhões), Centro-Oeste (R$ 251 bilhões), Nordeste (R$ 126 bilhões) e Norte (R$ 63 bilhões).

Foram investidos R$ 38,7 bilhões no ano passado, um aumento de 9% sobre 2023. Desse total, R$ 24,9 bilhões foram destinados à inovação, um aumento de 48% em relação a 2023. As fusões e aquisições somaram R$ 13,8 bilhões de investimentos em 2024.

No período, foram gerados cerca de 72 mil postos de trabalho, formais e diretos. Ao todo, a indústria emprega diretamente 2 milhões de pessoas. Do consumo interno, 72% foram comercializados no varejo (um crescimento de 9% sobre 2023) e 28% foram vendidos no food service (alta de 10,4% na comparação anual). Embora continue apresentando alta, o food service vem desacelerando: em 2021, por exemplo, o crescimento havia sido de 26%.

De acordo com a Abia, a indústria de alimentos processa 62% de tudo o que é produzido pela agropecuária e 68% da produção da agricultura familiar. Entre as commodities agrícolas, destaque para o aumento do preço do cacau em 2024 -alta de 189%- e do café, 140%.

Entre os insumos, as maiores altas foram observadas em embalagens (15%) e na energia elétrica industrial (10%).

Em volume, o Brasil é o maior exportador global de alimentos industrializados e o quinto maior em valor. Os maiores mercados consumidores são China, Estados Unidos, Indonésia e Emirados Árabes. O saldo da balança comercial somou US$ 57,4 bilhões. A indústria de alimentos representa 20% das exportações brasileiras.

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