A organização promete para novembro uma edição da feira em Salvador (BA), migrando para o território baiano investimentos já aportados.
Gabriela Caseff, São Paulo, Sp (folhapress) - 19/03/2025 16:01:07 | Foto: Reprodução Mundo Negro
O Festival Feira Preta, previsto para maio no Parque Ibirapuera, em São Paulo, foi cancelado. O motivo é a falta de patrocinadores para conseguir viabilizar o maior evento de cultura negra e economia criativa da América Latina.
A organização promete para novembro uma edição da feira em Salvador (BA), migrando para o território baiano investimentos já aportados.
"Faltaram em torno de 60% dos recursos necessários", diz Adriana Barbosa, idealizadora do Festival, que fez diversas tentativas de redesenhá-lo. "Então tomamos a decisão, com muita dor, de torná-lo um projeto bianual".
Na última edição, a Feira Preta injetou R$ 14 milhões na economia criativa, com R$ 1,5 milhão em vendas de produtos afro. O evento reuniu 147 negócios e ocupou o Planetário, o Pavilhão da Bienal e o Museu Afro-Brasil. Artistas como Preta Gil, Mart'Nalia, Leci Brandão, Luedji Luna e Majur se apresentaram.
"Quando a feira deixa de acontecer, não é só sobre a minha empresa. É sobre artistas que deixam de se apresentar, empreendedores que deixam de ganhar dinheiro, influenciadores e veículos de mídia negros que perdem espaço. Muita gente perde no processo e isso é o que me deixa mais frustrada", afirma Barbosa.
O adiamento da edição paulistana reflete um cenário mais amplo de retração de investimentos corporativos em eventos culturais voltados para a diversidade, segundo a organização. Outros festivais, como o Batekoo, também foram cancelados.
"Não sei se o movimento dos Estados Unidos [de recuar em políticas de diversidade e inclusão, sob Trump] está influenciando o Brasil, mas a pauta parece estar mudando. Há menos recurso para publicidade relacionada a questões raciais neste ano, principalmente no campo da cultura", avalia Barbosa, que enfrentou diversos desafios para colocar de pé o festival, desde sua primeira edição, em 2002.
"O cenário começou a melhorar após George Floyd, no pós-pandemia, quando a questão racial entrou nas estratégias de ESG das empresas. Na nossa cabeça, era um processo evolutivo."
A organização do evento diz ainda que a burocracia interna de grandes empresas tem dificultado a liberação de recursos, tornando o processo de captação mais complexo e demorado.
A transferência do evento para Salvador representa uma estratégia de expansão da tecnologia social desenvolvida pelo festival. Desde 2017, o Instituto Feira Preta mantém iniciativas formativas na capital baiana, além da Embaixada Preta Cachoeira no Recôncavo Baiano.
- 'Não te preparam para a solidão da liderança', diz Adriana Barbosa
Os empreendedores que haviam se inscrito para a edição de São Paulo seguem em processo de curadoria para possível participação no evento na capital baiana. A organização também negocia outros eventos ao longo do ano, buscando criar novas oportunidades de negócios para expositores.
"Estamos buscando novos modelos de financiamento e parcerias para garantir a perenidade do festival como uma das mais importantes plataformas de fortalecimento da economia negra no Brasil", diz Adriana Barbosa.
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