Uma lista de produtos com 200 páginas começou a circular na noite de segunda.
José Henrique Mariante, Berlim, Alemanha (folhapress) - 16/07/2025 07:11:43 | Foto: Divulgação Boeing
A União Europeia pretende atingir aviões e veículos importados dos EUA na segunda fase de retaliações contra o tarifaço de Donald Trump. Informações vazadas à imprensa europeia mostram que € 72 bilhões (R$ 458,9 bilhões) em comércio com os EUA podem sofrer tarifas de reciprocidade.
Uma lista de produtos com 200 páginas começou a circular na noite de segunda-feira (14), dois dias depois que Trump anunciou uma nova tarifa de 30% sobre as importações de México e União Europeia.
O bloco econômico já suporta 25% de tarifa sobre suas exportações de aço e alumínio e uma tarifa básica de 10% sobre outros produtos. Um primeiro pacote de contramedidas no valor de € 21 bilhões (R$ 131,6 bilhões) foi adiado para evitar a nova majoração e estimular as negociações.
"Os EUA nos enviaram uma carta com medidas que entrarão em vigor a menos que uma solução negociada seja alcançada. Portanto, também estenderemos a suspensão de nossas contramedidas até o início de agosto", justificou Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no domingo (13).
O principal alvo da nova ofensiva é a Boeing, responsável por uma fatia de € 11 bilhões (R$ 68,1 bilhões) das transações visadas. O pacote inclui também veículos, autopeças, produtos químicos, farmacêuticos e agrícolas. Até o uísque tipo bourbon, que havia sido poupado da primeira fase de medidas por lobby de França, Itália e Irlanda, voltou à lista.
As medidas foram apresentadas pela Comissão Europeia a ministros de Comércio dos 27 países do bloco. A escolha dos produtos foi baseada na necessidade de buscar mais capacidade de dissuasão na conversa com os negociadores americanos e na disponibilidade de fornecimento alternativo dentro ou fora da UE.
Segundo um diplomata ouvido pela imprensa europeia em Bruxelas, a lista também mira empresas que possuem risco de deslocalização elevado, isto é, passíveis de transferir suas operações para fora dos EUA devido a custos de mão de obra, imposto ou infraestrutura.
O aspecto cirúrgico da operação foi bem recebido pelos ministros, de acordo com Maros Sefcovic, comissão de Comércio da UE. A nova lista de retaliações terá que ser votada pelos países-membros, mas a estratégia é aproveitar as duas semanas e meia que restam até agosto para primeiro intensificar as negociações transatlânticas.
É um jeito de contornar a diferença de tom demonstrada pelos principais líderes europeus desde o fim de semana. Enquanto o presidente francês Emmanuel Macron expressou "forte desaprovação" e pediu reação imediata da Comissão, o primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, afirmou que concordaria com contramedidas, "mas não antes de 1º de agosto".
Maior exportador da UE, a Alemanha é especialmente afetada pela ofensiva tarifária de Trump. No ano passado, 445 mil veículos fabricados no país foram despachados para os EUA, no valor de US$ 24,8 bilhões (R$ 123,3 bilhões). Merz, como muitos analistas, parecem apostar no histórico recente de Trump, que tem recuado frequentemente das ameaças tarifárias a ponto de virar piada.
Enquanto um novo recuo não vem, economistas sugerem mais ações cirúrgicas, como a de Bruxelas, ainda que restem apenas no campo da retórica. Olivier Blanchard, do Peterson Institute, que tem se notabilizado por declarações ácidas no X sobre Trump, escreveu que "ser simpático e desistir do imposto digital não trouxe nada de bom para a Europa".
O ex-economista-chefe do FMI recomenda o que chama de "retaliação inteligente", ainda que conduza "a uma situação econômica e geopolítica perigosa a curto prazo". Retaliação inteligente seria "avançar, produto a produto, em direção ao que mais prejudica os EUA".
E vai além, sugerindo uma espécie de ação coordenada entre UE, Brasil, Japão, Canadá e quem mais estiver na mira de Trump. "Quanto mais países, melhor seria uma lista comum de retaliações inteligentes. Ao cortar mais fontes, as tarifas comuns sobre alguns produtos prejudicariam mais os EUA; ao aumentar o mercado econômico comum, menos prejudicariam a coalizão. Até agora, foi uma oportunidade perdida."
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