'Se os EUA não quiserem comprar, não vou ficar chorando, vou procurar outros países', diz Lula
Julia Chaib, Washington, Eua (folhapress) - 14/08/2025 16:22:58 | Foto: Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca. / Alan Santos/PR
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira (13) que o Brasil é um parceiro comercial ruim, tem leis ruins e promove uma execução política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"O Brasil tem sido um parceiro comercial horrível em termos de tarifas. Como você sabe, eles nos cobram tarifas enormes, muito, muito maiores do que as que cobrávamos deles. Na verdade, praticamente não cobramos nada", afirmou Trump a jornalistas no Salão Oval da Casa Branca.
Ao ser questionado, Trump também afirmou que não há preocupação sobre a aproximação comercial do Brasil e do México com a China.
"Mas eles [o Brasil] também nos trataram muito mal como parceiros comerciais por muitos anos. Um dos piores. Um dos piores países do mundo nesse sentido. Eles cobravam tarifas enormes e tornavam tudo muito difícil. Então agora estão sendo cobrados com tarifas de 50%, e não estão felizes, mas é assim que as coisas são", afirmou.
O Brasil, no entanto, registra déficit na relação comercial com os EUA há 17 anos -ou seja, os americanos mais vendem que compram.
Nos dados parciais de 2025, a vantagem americana é de US$ 1,6 bilhão. O Brasil exporta principalmente commodities e produtos primários -como petróleo bruto, café e bens de ferro e aço. Já as importações de itens americanos ao Brasil têm no topo componentes de aeronaves.
O comentário foi feito após Trump dizer que o Brasil tem leis ruins e repetir que acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro é um bom homem.
"E o Brasil tem algumas leis muito ruins acontecendo. Eles pegaram um presidente e o colocaram na prisão ou estão tentando prendê-lo. E eu conheço esse homem, e vou te dizer: eu sou bom em avaliar as pessoas. Acho que ele é um homem honesto, e acho que o que fizeram... Isso é uma... Isso é realmente uma execução política que estão tentando fazer com o Bolsonaro. Acho isso terrível."
'Se os EUA não quiserem comprar, não vou ficar chorando, vou procurar outros países', diz Lula
CATARINA SCORTECCI E JOSÉ MATHEUS SANTOS, CURITIBA, PR E GOIANA, PE (FOLHAPRESS) - O presidente Lula (PT) voltou a criticar nesta quinta-feira (14) o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump e disse que não vai ficar chorando.
"Se os EUA não quiserem comprar, não vou ficar chorando, rastejando, vou procurar outros países e vamos seguir em frente. Eu aprendi a andar de cabeça erguida. Quero que este país seja respeitado. Se eu respeito o povo americano, ele tem que respeitar o povo brasileiro", disse Lula.
"Nós vamos ajudar as empresas. Não vamos deixar morrerem às mínguas. E também não vamos ficar chorando porque ele parou de comprar, não. Vamos vender para a China, para Índia, para a Rússia, para a Alemanha, para qualquer lugar. Em apenas dois anos e meio, nós abrimos 400 mercados. Ontem começamos a vender carne e miúdos para as Filipinas, que não compravam nada de nós", continuou o petista.
O discurso foi feito durante a cerimônia de inauguração da Fábrica de Hemoderivados da Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia), na cidade de Goiana, Zona da Mata Norte pernambucana.
Ao final, apesar das críticas ao tarifaço, Lula afirmou que seus ministros seguem abertos ao diálogo. "E nós ainda queremos negociar. Tenho Alckmin [Indústria e Desenvolvimento], Haddad [Fazenda], Fávaro [Agricultura], Mauro Vieira [Relações Exteriores]. Todo mundo preparado para negociar. [Na] Hora que eles quiserem negociar, nós sentamos numa mesa", afirmou ele.
O presidente classificou o tarifaço como "uma insensatez com o Brasil", ressaltando a relação histórica com os EUA. "Nós somos parceiros deles há 200 anos, nossa relação diplomática é muito antiga. Não é de hoje", apontou ele.
Também lembrou que os EUA teve superávit no comércio com o Brasil e que Trump mente. "Não conte inverdade para o planeta Terra. Este país não quer guerra, nós somos da paz. Mas não mexa com a gente, porque nós temos sangue pernambucano", continuou.
"Ele tem que saber que quem manda nesse país é o povo brasileiro. Tem uns vira-latas que fica falando 'nossa, como esse Lula está falando bravo'. Não, eu falo igualzinho para Bolívia o que eu falo para os americanos. Eu não sou daqueles que fala fino com os americanos e fala grosso com a Bolívia. Eu trato todo mundo igual", disse o presidente.
Além de Goiana, Lula tem outras duas agendas em Pernambuco nesta quinta-feira. À tarde, ele visita um hospital particular no Recife, onde deve fazer anúncios no âmbito do programa Agora Tem Especialistas, e também participa da entrega de títulos de regularização fundiária em Brasília Teimosa, na zona sul do Recife.
Segundo o governo federal, a nova planta industrial da Hemobrás vai produzir, a partir do plasma humano, medicamentos de alto custo, como Albumina, Imunoglobulina e Fatores de Coagulação VIII e IX, usados no tratamento de queimados graves, pacientes de UTIs, hemofilias, doenças raras e em grandes cirurgias. O investimento foi de R$ 1,9 bilhão.
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