Após Copa no Brasil, seleção abandona cidades que não foram sedes

A concentração dos jogos da seleção após a Copa nas cidade-sedes reflete uma lógica correta sob a ótica da gestão esportiva.

Após Copa no Brasil, seleção abandona cidades que não foram sedes
Após Copa no Brasil, seleção abandona cidades que não foram sedes

Lucas Bombana, São Paulo, Sp (folhapress) - 11/06/2025 06:37:47 | Foto: © STAFF IMAGES/CBF/DIREITOS RESERVADOS

Ao enfrentar o Paraguai nesta terça-feira (10), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, na Neo Química Arena, no bairro de Itaquera, em São Paulo, a seleção brasileira reforçará uma tendência observada durante os últimos dez anos. A equipe nacional tem usado preferencialmente estádios novos ou reformados em cidades que serviram como sede da Copa de 2014.

O movimento não chega a surpreender e reflete a busca da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por arenas modernas, logística mais favorável em meio o calendário apertado e maximização dos lucros. Mas acaba distanciando o time verde-amarelo de torcedores em regiões que não contam com essas estruturas.

O Brasil fez 41 apresentações em território nacional de 2015 a 2024, entre amistosos e jogos das Eliminatórias e da Copa da América. Foram 39 partidas -95% do total- nas 12 cidades-sedes do Mundial de 2014. Apenas Goiânia e Belém conseguiram furar a bolha nesse período.

No intervalo de 2004 a 2013, em 33 partidas da seleção no Brasil, 25 delas, ou aproximadamente 75%, ocorreram em oito das cidades que seriam escolhidas para abrigar jogos do torneio da Fifa (Federação Internacional de Futebol).

Nesse período, Maceió, Campo Grande e Gama, além de Goiânia e Belém, tiveram a oportunidade de receber a seleção pentacampeã.

Segundo Eduardo Corch, consultor de marketing esportivo e professor do Insper, a concentração dos jogos da seleção após a Copa nas cidade-sedes reflete uma lógica correta sob a ótica da gestão esportiva.

"Esses centros passaram a oferecer estádios modernos, com padrão Fifa, infraestrutura e melhores condições logísticas ao torcedor", afirmou.

"Globalmente, ligas, confederações e detentores de direitos têm priorizado experiências completas e seguras aos seus fãs, e o Brasil não é exceção. A escolha permite proporcionar ao torcedor uma jornada mais qualificada, do acesso à arena até os serviços disponíveis durante o jogo, além de facilitar ativações de marcas e transmissões de alta qualidade."
Economista e sócio da consultoria Convocados, que atua no mercado do futebol, Cesar Grafietti acrescentou que o fato de os jogadores estarem espalhados por diferentes clubes ao redor do mundo e terem pouco tempo juntos para treinar antes das partidas acaba demandando uma logística bem específica.

"São 12 as cidades com logística e infraestrutura adequadas, e fica inimaginável ver uma partida da seleção no Parque do Sabiá, em Uberlândia, por exemplo, como já vimos no passado. A logística é complexa, e o estádio não comporta estruturalmente uma partida assim", disse.

A região Sudeste foi a que mais se beneficiou da tendência recente. Foram 14 jogos do Brasil na região, de 2004 a 2013; de 2015 a 2024, foram 20.

Rio de Janeiro e São Paulo, que passaram de cinco para nove e oito partidas, respectivamente, foram as cidades que mais receberam novos jogos da seleção até aqui.

A nova arena do Corinthians, palco da abertura da Copa, e o Maracanã, palco da final, foram os estádios usados no torneio que mais viram a seleção depois do Mundial de 2014, com quatro jogos cada.

Foi o Engenhão, contudo, construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, o estádio que mais recebeu a seleção brasileira pós-Copa do Mundo. Foram cinco partidas no palco que hoje é chamado de Nilton Santos, quatro delas durante a Copa América de 2021. A arena não recebeu jogos no Mundial de 2014.

Manaus, Natal e Cuiabá, com estádios construídos para a competição vencida pela Alemanha, apareceram pela primeira vez no levantamento após o Mundial.

Para Amir Somoggi, diretor da consultoria Sports Value, as escolhas dos estádios que recebem a seleção passaram a incorporar, além de aspectos políticos, as receitas em potencial.

"A CBF vai buscar sempre a maximização desses jogos, em estruturas que rendam mais dinheiro", disse.

"Qualquer estádio que seja escolhido hoje não será apenas por aspectos políticos. Vai ter também o aspecto econômico em primeiro lugar, quanto é possível faturar. Parece-me uma tendência irreversível, e quem não tiver estrutura não deverá receber mais jogos importantes."
A região Centro-Oeste teve a maior queda no número de jogos da seleção, com oito partidas de 2004 a 2013 e cinco de 2015 a 2024.

O Serra Dourada, em Goiânia, recebeu três jogos da seleção no primeiro intervalo, incluindo o Superclássico das Américas contra a Argentina, em 2012.

No segundo, a capital de Goiás só viu a seleção brasileira mais uma vez, em jogo da Copa América contra o Equador, em 2021, mas dessa vez no Estádio Olímpico, que também já havia recebido jogos da Copa do Mundo sub-17, em 2019.

Os estádios Rei Pelé, em Maceió, Morenão, em Campo Grande, e Bezerrão, no Gama, não voltaram a ver jogos da seleção brasileira depois da Copa.

"É preciso ter cuidado com o afastamento de cidades que não foram sede, já que isso pode comprometer, a longo prazo, a conexão afetiva da seleção nessas regiões. O desafio é equilibrar eficiência e experiência com inclusão e presença nacional", afirmou Corch, do Insper.

O Pacaembu, que havia sido palco de dois jogos –e ficou fechado entre 2021 e 2025– também não voltou a receber a seleção. O Allianz Parque recebeu duas partidas.

O estádio de Pituaçu, em Salvador, e o Arruda, no Recife, ficaram fora. Os jogos nessas cidades passaram para a Arena Fonte Nova e a Arena Pernambuco, da Copa do Mundo.

"O aspecto positivo é entregar facilidades e boas condições de jogo aos atletas. Por outro lado, deixa-se a seleção mais distante de parte da população, mas faz parte da realidade do esporte atualmente", disse Grafietti.

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