Até o fim de julho, o pico da alta temporada na cidade, são esperados 800 mil visitantes. O número supera os 770 mil visitantes computados em julho de 2023 pelo Observatório do Turismo de Gramado
Porto Alegre, Rs (folhapress) - Carlos Villela - 14/07/2025 11:50:25 | Foto: Prefeitura de Gramado
A nova queda nas temperaturas no sul do Brasil nesta semana é uma boa notícia para Gramado (RS). Desde a chegada da primeira massa de ar polar do ano em maio, turistas sobem a serra gaúcha em busca de roteiros românticos, boa gastronomia ou uma possível queda de neve.
Na tradicional rua coberta, no centro, turistas se aquecem ao redor de fogareiros enquanto lotam cafés e restaurantes. Os hotéis, quase todos com calefação a gás, estão com 80% dos quartos reservados nos fins de semana de julho. "Toda vez que tem aquele frio de doer os dedos, a gente sabe que vai melhorar o fluxo turístico da cidade", diz Ricardo Bertolucci, secretário municipal de turismo.
Até o fim de julho, o pico da alta temporada na cidade, são esperados 800 mil visitantes. O número supera os 770 mil visitantes computados em julho de 2023 pelo Observatório do Turismo de Gramado. A expectativa é que 2 milhões de visitantes passem pela cidade até o final do inverno.
O otimismo marca a retomada do turismo de inverno depois de um 2024 quase perdido. "Desde que passou a enchente, todo turista que chega em Gramado é mais especial", diz Bertolucci.
A cidade passou relativamente incólume à tragédia climática que atingiu 425 municípios e cerca de 20% da população gaúcha, mas enfrentou um revés sem precedentes com o fechamento do aeroporto internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. A pista ficou alagada por mais de um mês, e só foi reaberta para voos nacionais em outubro.
Foi um golpe duro para uma cidade que tem 86% de seu PIB oriundo do turismo. Após zerar em maio, o movimento de turistas ensaiou uma pequena recuperação no começo do inverno, limitada ao público gaúcho e catarinense. "Basicamente, a gente estava operando com 50% do mercado", diz Bertolucci. A retomada real aconteceu somente em dezembro, com o bom resultado do turismo de Natal.
"Não existe uma espécie de expectativa compensatória por aquele inverno perdido", diz o empresário Jorgito Simão, dono do Le Jardin, um parque em Gramado com mais de 200 espécies de flores e que abriga o maior campo de lavandas do Rio Grande do Sul.
O excesso de chuvas danificou parte dos jardins, que só puderam ser reabertos à visitação em novembro. Durante o período de replantio, o sustento do parque veio da loja de produtos temáticos e de um auxílio emergencial do governo federal destinado a empresas gaúchas.
"A sobrevivência se deu à resiliência, e hoje estamos mais fortes e mais inteiros do que éramos anteriormente", diz Simão. Ele diz que o cenário teve uma melhora gradual após a reabertura do aeroporto. "Houve resultado positivo [em 2024], mas não muito."
Para Bertolucci, o isolamento de Gramado durante as enchentes e a demora na retomada em 2024 mostraram o desafio logístico que a serra gaúcha enfrenta. "Só o fato de a gente ter um aeroporto que fica a 200 quilômetros já é uma incongruência, porque a gente vê no mundo inteiro cidades que recebem o fluxo que Gramado recebe terem seus próprios aeroportos", diz o secretário de turismo.
O terminal aéreo com voos regulares mais próximo de Gramado fica em Caxias do Sul, a 67 km de distância. Mas o Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, que tem baixa capacidade de público e limitações geográficas para expansão.
Empresários da região estão confiantes no andamento das obras do novo Aeroporto de Vila Oliva, também em Caxias do Sul, incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com previsão de conclusão para 2027.
Entretanto, o aumento no número de turistas em Gramado nos próximos anos esbarra em entraves urbanos, como uma área territorial pequena e com baixa cobertura de saneamento.
No dia 30 de junho, o município suspendeu, por seis meses, a concessão de alvarás para construção ou instalação de restaurantes no centro da cidade e de hotéis com mais de 20 apartamentos.
Atualmente, Gramado conta com 216 hotéis e 24,7 mil leitos de hospedagem. Estão em construção 13 novos empreendimentos, enquanto outros 33 aguardam liberação. A expectativa é que a cidade ultrapasse os 36 mil leitos até 2030.
Na área gastronômica, o município possui 318 restaurantes, com capacidade para atender cerca de 26 mil pessoas. Outros 43 projetos estão em fase de análise.
"Nós não temos hoje, do jeito que está indo a economia, ocupação para toda essa estrutura que está sendo projetada", disse o prefeito Nestor Tissot (PP) em entrevista coletiva. "Então, nada melhor do que paralisar um pouquinho para todo mundo repensar, inclusive o próprio empresário e investidor olhar de novo seus investimentos".
Tissot também disse que a pausa é necessária para permitir a ampliação da cobertura de esgoto na cidade. De acordo com dados do Sinisa (Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico) de 2024, apenas 41,95% da população urbana de Gramado tem atendimento de rede coletora. "Se não parar um pouquinho de construir, nunca vamos conseguir alcançar a solução para este problema."
Comentários para "Um ano após tragédia no RS, Gramado recupera turismo de inverno em meio a desafio urbanístico":