Senador é cotado para ser relator da CPI da Covid na Casa e diz que presidente Bolsonaro 'piora as coisas'
Estadão Conteúdo - 16/04/2021 10:34:25 | Foto: Fotos públicas
Cotado para ser o relator da CPI da Covid , o senador Renan Calheiros ( MDB -AL) avalia que o próprio governo ajudará a politizar os trabalhos da comissão se continuar agindo para barrar suas investigações. O presidente Jair Bolsonaro criticou a abertura da comissão dizendo que ela seria feita apenas contra ele e visando desgastá-lo para as eleições de 2022. Em entrevista ao Estadão, Renan disse que, “se o governo intervier na CPI, o tiro vai sair pela culatra”.
“Ele próprio acaba ajudando a politizar a investigação. Piora as coisas”, afirmou o emedebista. “Acho que esse governo precisa encontrar uma maneira de conviver com essa investigação. Porque esse é um procedimento constitucional. Não há como não fazê-lo. A sociedade cobra isso de todos nós. E a CPI é um instrumento sagrado da minoria”, acrescentou.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Essa será uma CPI muito importante. Terá uma composição qualificada. E o seu trabalho será facilitado porque muita coisa que ela investigará é pública. As pessoas abordam a gente na rua e perguntam assim: 'Você acha que, se o presidente tivesse acertado a mão, quantas mortes o País poderia ter evitado?' A gente não faz ideia. A CPI responderá essas coisas inevitavelmente.
Eu acho que, do ponto de vista da opinião pública, sim. Do ponto de vista da investigação, não. A investigação necessariamente terá de ser técnica e criteriosa para que nós não incorramos em erros.
Não tenho nenhuma dúvida. Porque em todos os momentos esse assunto foi mal conduzido pelo governo. E isso, inclusive, cobrou um preço altíssimo do próprio presidente do Senado Federal. Acho que o governo continuará errando, mas ele tem características, a essa altura, bastante conhecidas.
Acho que não. Porque a CPI vai ter que, em primeiro lugar, estabelecer um plano de investigação coletivo. Não é de ninguém. E ela própria definirá os seus limites.
Há unanimidade na CPI com relação à necessidade, quando houver crime conexo, de investigar Estados e municípios. Mas apenas nessa condição. Você não pode fazer uma Comissão Parlamentar de Inquisição contra governadores ou prefeitos ou contra o presidente da República. Tem de fazer a investigação.
A CPI só se torna necessária, como esta que vai se instalar, quando os fatos não estão sendo devidamente investigados nos órgãos competentes. E nós vamos ver essas circunstâncias também Estado por Estado.
Se o governo intervir na CPI, o tiro vai sair pela culatra. Ele próprio acaba ajudando a politizar a investigação. Piora as coisas. Com isso, todos os governos perdem. E acho que esse governo precisa encontrar uma maneira de conviver com essa investigação. Porque esse é um procedimento constitucional. Não há como não fazê-lo. A sociedade cobra isso de todos nós. E a CPI é um instrumento sagrado da minoria. Eu adverti o presidente do Senado várias vezes que ela seria instalada. Porque só três pré-requisitos são analisados: se tem fato determinado, se tem número mínimo de assinaturas e se tem prazo para investigação. Cumpriu tudo.
Ele mesmo pode colaborar para que isso aconteça. Na medida em que queira ameaçar, dificultar os trabalhos, evitar que alguém seja convocado. Isso tudo pode agilizar essa politização que eles tanto temem. Acho que já erraram bastante na instalação. Porque deveríamos ter essa comissão instalada em fevereiro. Estamos na metade de abril. E até agora não a instalamos. Tudo isso significa dizer que a investigação vai sendo levada para a proximidade da eleição. Se isso ajuda a politizar, eu não sei. Só sei que na medida em que o governo quer interferir na investigação, ajudará, com certeza, a politizar sim.
Precisamos, agora, instalar a comissão, eleger o presidente, que vai, de acordo com a correlação de forças, designar o relator. Não há disputa entre nós. Estou muito satisfeito por integrar a comissão. Não preciso ter um cargo a mais. E acho que a CPI precisa ser necessariamente técnica. Por onde começar, precisará ter um rigor técnico muito grande para não derivar, por iniciativa da própria CPI, para essa politização.
Ela tem fatos determinados a investigar e muitos deles são públicos. Confessados. O que, disse e repito, facilitará a investigação.
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