Pesquisadores encontram árvore mais alta da mata atlântica em reserva de MG

Mata atlântica tem menos de 10% de área em unidades de conservação.

Pesquisadores encontram árvore mais alta da mata atlântica em reserva de MG
Pesquisadores encontram árvore mais alta da mata atlântica em reserva de MG

Débora Van Pütten, São Paulo, Sp (folhapress) - 30/05/2025 11:17:03 | Foto: divulgação/ICMBio

Em Minas Gerais, pesquisadores encontraram um jequitibá-rosa com 65 metros de altura. Maior que o Cristo Redentor, a árvore foi considerada a mais alta da mata atlântica. A descoberta reforça a importância da conservação ambiental para a manutenção da biodiversidade, uma vez que grandes árvores servem de abrigo para diferentes espécies de animais.

O jequitibá foi encontrado em fevereiro, na Reserva Biológica (Rebio) Mata Escura, localizada nos municípios de Jequitinhonha e Almenara, durante uma expedição para monitorar macacos muriqui (Brachyteles hypoxanthus), liderada por Fabiano Melo, professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

A expedição é parte da Meta Florestal da Vale, parceria da empresa com o Instituto Chico Mendes Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

No Dia Nacional da Mata Atlântica, nesta terça (27), especialistas chamam atenção para o papel das reservas biológicas como esta para a sobrevivência do bioma -que, segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, tem apenas 24% da vegetação de sua floresta original.

Thiago de Oliveira, engenheiro florestal da mineradora, afirma que a conservação dos jequitibás-rosa é fundamental para a manutenção da biodiversidade.

O gavião-real, por exemplo, é uma ave grande e precisa de uma árvore larga para fazer ninhos. Sem espécies como o jequitibá, não seria possível garantir um ambiente seguro para a reprodução do animal. "Está tudo conectado, integrado", afirma Oliveira.

Além da altura, os jequitibás são as árvores mais antigas do Brasil. O exemplar considerado mais velho, batizado de Patriarca, está em São Paulo e tem a idade estimada entre 600 e 900 anos.

Essa espécie sobrevive porque não é madeira de interesse econômico, diz Melo, da UFV.

PASSO A PASSO DA DESCOBERTA
Drones associados a sensores infravermelhos, usados para identificar animais nas copas das árvores, foram fundamentais para a descoberta do jequitibá de 65 m de altura e 5,5 m de circunferência. A tecnologia reúne câmera e um sensor de calor.

O calor emitido pelo corpo deles se destaca em meio a folhas e galhos. "Hoje temos o sensor híbrido, que é uma câmera colorida com uma câmera térmica, e aí conseguimos dar zoom e ver que bicho que é", explica Fabiano Melo.

No dia da descoberta, a temperatura esquentou a copa das árvores e dificultou a procura pelos macacos, porque a mata também estava quente. "Em compensação, as árvores grandes começam a destacar sua galhada, porque ficam aquecidas pelo sol. No momento em que passei perto dos jequitibás, percebi que a copa dessa árvore mais alta estava destacada do dossel da floresta. Aquilo me chamou atenção", relata Melo.

Para localizar a árvore no meio da mata fechada, o professor utilizou as coordenadas apontadas pelo GPS do drone.

A medição da altura da árvore foi feita com o auxílio de um drone menor. Ele partia do pé do jequitibá e voava até a folha mais alta. Assim o pesquisador registrou 65 metros.

A partir da confirmação da altura, o passo seguinte foi compará-la com registros de outras árvores da mata atlântica na literatura científica.

O livro de Ricardo Cardim, "Remanescentes da Mata Atlântica: As Grandes Árvores da Floresta Original e Seus Vestígios" foi o referencial utilizado. Segundo o livro, a maior árvore anteriormente registrada era um jequitibá de 64 metros, localizado na cidade de Ubatã, no sul da Bahia.

A tecnologia empregada na descoberta permite desvendar elementos da biodiversidade ainda não conhecidos. "Já perdi a conta do quanto me ajudou a descobrir espécies que não eram registradas no lugar", afirma o pesquisador.

Melo, com o uso da câmera térmica, encontrou o ouriço preto (Chaetomys subspinosus), espécie ameaçada de extinção, na mesma Rebio.

Além disso, drones ajudam na identificação e quantificação de espécies de árvores em espaços aberto e no combate a incêndios, lembra Thiago de Oliveira, da Vale.

Mata atlântica tem menos de 10% de área em unidades de conservação, aponta estudo

JORGE ABREU, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A mata atlântica tem 9,8% de sua área protegida por unidades de conservação, o equivalente a 12,86 milhões de hectares -tamanho similar ao da Grécia. Esse dado faz parte de um levantamento inédito divulgado nesta terça-feira (27), no Dia Nacional da Mata Atlântica.

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, responsável pelo estudo, o número é abaixo do necessário e acende alerta sobre a fragilidade do bioma. A pesquisa mostra, ainda, que o agronegócio, principal vetor do desmatamento, ameaça a floresta até dentro das unidades de conservação.

Para chegar aos dados, a ONG considerou a área da Lei da Mata Atlântica e as delimitações das unidades de conservação, eliminou e qualificou sobreposições no território e analisou a representatividade ecológica das áreas (diversidade das formações vegetais).

Segundo Diego Igawa Martinez, coordenador de projetos da SOS Mata Atlântica, a proteção é mal distribuída e muitas unidades não conseguem cumprir o papel que deveriam. Ele afirma que é preciso avançar na criação de novas áreas de forma estratégica e fortalecendo a implementação de todo o sistema.

"As unidades de conservação são importantes para manter os níveis altos de biodiversidade, abundância de espécies. Elas também atuam para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, proteção da água, estabilidade climática, entre outras questões. Porém, essa proteção ainda ocupa uma porcentagem pequena em relação a todo o território do bioma", frisou.

O levantamento também examinou os usos do solo dentro das unidades de conservação. Essa análise identificou a presença de atividades como pastagens, agricultura e áreas degradadas em espaços que, segundo a ONG, deveriam estar voltados prioritariamente à conservação.

Conforme o estudo, quase 2 milhões de hectares das unidades de conservação são áreas de pasto e a maior parte da vegetação nativa remanescente da mata atlântica -mais de 80%- está fora dessas áreas legalmente protegidas.

Martinez explica que a mata atlântica possui diferentes geografias e realidades ao seu redor. As regiões com maior taxa de desmatamento vinculado à expansão do agronegócio estão nas zonas de transições com o cerrado e a caatinga, diz ele.

"Os estados de Minas Gerais, Piauí e Bahia ainda concentram uma parte bastante expressiva do desmatamento vinculado ao agro. Por outro lado, existe um desmatamento vinculado à expansão urbana, à especulação imobiliária, mas isso de forma bastante localizada nas regiões metropolitanas."
O RAD (Relatório Anual do Desmatamento), divulgado no último dia 15 pela rede MapBiomas, aponta que o Brasil teve uma redução de 32,4% no desmatamento no ano passado, em relação a 2023. Pela primeira vez nos últimos seis anos, todos os biomas tiveram queda no desmatamento, com exceção da mata atlântica, que registrou estabilidade.

A mata atlântica perdeu 13.472 hectares de vegetação em 2024, contra 13.212 em 2023. Os eventos extremos representaram 22% de toda essa perda no ano passado, ou seja, 3.022 hectares, impulsionados pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. Em 2023, a supressão de mata associada aos desastres naturais foi de aproximadamente 150 hectares.

"Se a gente não olhar apenas para os dados recentes, mas sim para todo o histórico de desenvolvimento de atividades antrópicas, menos de 30% do território de toda a área considerada pela lei da Mata Atlântica está coberta efetivamente por florestas primárias ou por florestas secundárias, que se regeneraram ao longo do tempo", disse Martinez.

O novo estudo da SOS Mata Atlântica destaca, também, o papel das RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) que protegem 80% dos remanescentes florestais do bioma. Para a ONG, uma estratégia para fortalecer a rede de proteção é ampliar os incentivos à criação e manutenção dessas propriedades privadas.

Em relação à crise climática, as unidades de conservação contribuem para regulação do clima, armazenamento de carbono e resiliência dos ecossistemas. Contudo, a atual cobertura ainda é insuficiente para dar uma resposta à altura dos desafios climáticos, aponta o levantamento.

A SOS Mata Atlântica enfatiza o vínculo com a meta 30x30, estabelecida pelo Marco Global da Biodiversidade e assumida pelo Brasil em sua EPANB (Estratégia e Plano de Ação Nacional para Biodiversidade) para alcançar o desmatamento zero. Esse compromisso prevê que ao menos 30% das áreas terrestres e marinhas estejam protegidas até 2030.

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