Simon Stiell, diz que não se trata de caridade, mas de necessidade para o bem-estar geral de todos; secretário de economia Verde do Brasil fala de expectativas com investimento na preservação de florestas
Foto: WFP/Fedel Mansour
Simon Stiell, diz que não se trata de caridade, mas de necessidade para o bem-estar geral de todos; secretário de economia Verde do Brasil fala de expectativas com investimento na preservação de florestas
Agência Onu News Brasil - 13/11/2024 07:06:10 | Foto: WFP/Fedel Mansour
A 29ª Conferência do Clima da ONU, COP29, começou nesta segunda-feira em Baku no Azerbaijão, em meio a novos recordes de calor e eventos climáticos extremos, contexto que reforça a necessidade por ações coletivas.
Na abertura do evento, o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Unfccc, disse que é preciso “acabar com qualquer ideia de que o financiamento climático é caridade”.
Aumento da ambição no financiamento
Para Simon Stiell definir uma nova meta ambiciosa de financiamento climático é crucial para o bem-estar de todas as nações, incluindo as mais ricas e poderosas. Ele ressaltou que a mudança climática impacta “cada indivíduo no mundo de uma forma ou de outra”.
Em 2009, os países se comprometeram com investimentos de US$ 100 bilhões anuais, mas o valor é considerado muito menos do que o necessário para lidar com o rápido aumento das temperaturas do ar e do mar. Mas muitas nações reclamam não ter recebido a contribuição.
Se dirigindo aos negociadores da COP29, Stiell disse que a conferência é o único lugar onde os países podem “abordar a crise climática desenfreada e cobrar uns dos outros ações de resposta”.
Brasil pede “compromissos ousados” com proteção de florestas
Em entrevista à ONU News, em Baku, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Brasil disse que há uma expectativa muito positiva em relação ao financiamento, “tanto para a mitigação de emissões como para a adaptação climática de infraestruturas e cidades”.
Rodrigo Rollemberg declarou que na COP30, que será sediada na cidade de Belém, no Brasil no próximo ano, o foco será no financiamento da preservação da floresta amazônica. Ele afirmou que os países desenvolvidos devem estar comprometidos em incluir o tema em suas respectivas contribuições nacionalmente determinadas.
Falando em inglês, o secretário ponderou que “se há um valor perdido no desmatamento, há também um valor a ganhar em manter a floresta em pé”. Nesse sentido, ele defendeu “compromissos ousados” de financiamento climático na preservação e restauração das matas.
Risco de colapso da economia
O chefe de Clima da ONU afirmou que o processo estabelecido pelas COPs está funcionando, pois sem ele “a humanidade estaria caminhando para 5°C de aquecimento global.”
Ele ressaltou toda a economia mundial pode entrar em colapso se os países não conseguirem fortalecer suas cadeias de suprimentos diante do aumento dos custos associados aos choques climáticos.
Stiell citou como exemplo a queda dos níveis de água no Canal do Panamá, que teve um impacto dramático nos volumes de transporte globais.
O secretário-executivo do Unfccc questionou os participantes da conferência se eles estavam dispostos a permitir que as contas de supermercado e energia em seus países aumentassem ainda mais, ou que suas nações se tornassem menos competitivas economicamente, ou que houvesse ainda mais instabilidade global.
Capacidade de cair e se levantar novamente
Ele seguiu o discurso dizendo que se a resposta a qualquer uma dessas perguntas fosse “não” é sinal de que um novo acordo de financiamento climático é essencial.
Stiell é natural de Granada e sua ilha natal, Carriacou, foi quase devastada pelo Furacão Beryl em julho. Ele mostrou a foto da sua vizinha Florence, de 85 anos, que perdeu a casa e se tornou mais uma dos milhões de vítimas do caos climático.
Segundo Stiell, mesmo com as perdas, ela se manteve forte para sua família e para sua comunidade. O secretário-executivo lembrou que existem pessoas como Florence em todos os cantos do planeta, que revelam a capacidade humana de cair e se levantar novamente.
Mundo mais imprevisível e perigoso para gerações futuras
O alto comissário de Direitos Humanos da ONU emitiu uma declaração em alusão à abertura da COP 29 afirmando que “um planeta superaquecido é o maior gerador de violações dos direitos humanos de todos os tempos”.
Volker Turk afirmou que em todo o mundo, as pessoas estão sendo forçadas à pobreza e à fome pelo caos climático.
Ele citou famílias que estão “vendo suas casas e meios de subsistência serem varridos por repetidas inundações”, tempestades e secas “apagando comunidades”. Para Turk, as gerações futuras herdarão “um mundo mais imprevisível e perigoso”.
O chefe de Direitos Humanos disse que enquanto os líderes “brigam e competem, o mundo está queimando”.
Enquanto isso, ativistas climáticos, defensores dos direitos humanos e jovens em todos os lugares estão mostrando verdadeira liderança, assumindo responsabilidades e destacando soluções, adicionou ele.
Temperatura acima de 1,54 C°
Com a abertura da COP29, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, divulgou a Atualização do Estado do Clima em 2024 e emitiu um Alerta Vermelho sobre a mais rápida progressão das mudanças climáticas em uma única geração.
Os anos de 2015 a 2024 marcarão a década mais quente já registrada, com uma perda acelerada de gelo glacial, elevação do nível do mar e aquecimento dos oceanos.
De janeiro a setembro de 2024, a temperatura média global do ar na superfície foi 1,54 °C acima dos valores pré-industriais, de acordo com uma análise de seis conjuntos de dados internacionais usados pela OMM.
O que observar na COP29
No que está sendo chamado de "COP de financiamento climático", espera-se que representantes de todos os países estabeleçam uma nova meta quantificada coletiva (NCQG). Ela substituirá a meta existente de US$ 100 bilhões que expira em 2025.
Os países estão buscando operacionalizar o 'fundo de perdas e danos ' acordado na COP28 e visto como o principal fundo internacional que abordaria os prejuízos inevitáveis da mudança climática. Não está claro quando o fundo será lançado e começará a fazer pagamentos.
Espera-se que todos os países apresentem novas metas climáticas, os compromissos nacionalmente determinados, NDCs, até fevereiro de 2025, alinhados com o nível de redução de emissões necessário para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
Os negociadores estão focados em completar as diretrizes necessárias para operacionalizar completamente o Artigo 6 do Acordo de Paris, que permite que as nações cooperem voluntariamente para atingir as metas de redução de emissões delineadas em suas NDCs. Entre outras coisas, o Artigo 6 permitiria que elas trocassem créditos de carbono produzidos pela eliminação ou corte de suas emissões de gases de efeito estufa, auxiliando outras nações a atingir suas metas climáticas.
Os países devem enviar seus primeiros relatórios bienais de transparência, exigidos pelo acordo de Paris.
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