Moody's rebaixa perspectiva de nota de crédito do Brasil para estável diante de deterioração fiscal

Mudança na perspectiva reflete a perda de fôlego dos fatores que vinham sustentando uma possível melhora na nota do país

Moody's rebaixa perspectiva de nota de crédito do Brasil para estável diante de deterioração fiscal
Moody's rebaixa perspectiva de nota de crédito do Brasil para estável diante de deterioração fiscal

São Paulo, Sp (folhapress) - Diego Alejandro - 01/06/2025 12:02:41 | Foto: Maximilian por Pixabay

A agência de classificação de risco Moody's Ratings alterou nesta sexta-feira (30) a perspectiva do rating soberano do Brasil de positiva para estável. A nota de crédito de longo prazo foi mantida em Ba1.

Segundo a Moody's, a mudança na perspectiva reflete a perda de fôlego dos fatores que vinham sustentando uma possível melhora na nota do país. A agência cita o aumento expressivo do custo da dívida, a rigidez das despesas públicas e o ritmo mais lento que o esperado na construção de credibilidade da política fiscal, apesar do cumprimento das metas de resultado primário.

Para a agência, a rigidez nos gastos obrigatórios e o crescente pagamento de juros limitam a capacidade do governo de promover cortes de despesas para compensar o impacto do crescimento da dívida pública.

Por isso, mesmo com o cumprimento do arcabouço fiscal, ainda seriam necessárias reformas mais profundas, como a desvinculação de benefícios sociais do salário mínimo, para aliviar o peso dos gastos obrigatórios e aumentar a capacidade do governo de responder a choques econômicos.

Segundo a agência, esses entraves ofuscam o potencial de crescimento do investimento e do PIB no Brasil, além das reformas econômicas em curso.

Nesta sexta, o Banco Central divulgou que dívida bruta do Brasil voltou a subir em abril e atingiu 76,2% do PIB (Produto Interno Bruto) -saldo de R$ 9,2 trilhões. Em relação ao mês anterior, houve uma alta de 0,3 ponto percentual.

Em nota após o rebaixamento, o Ministério da Fazenda diz que "reafirma seu compromisso com a melhoria contínua dos resultados fiscais e com o aprofundamento do processo de reformas estruturais".

Segundo a pasta comandada por Fernando Haddad (PT), essas medidas são fundamentais para promover crescimento sustentável e manter o equilíbrio das contas públicas. O ministério também destacou a atuação conjunta com o Congresso Nacional, que viabilizou a aprovação de propostas relevantes, como a reforma tributária.

Nesta semana, o ministro da Fazenda debateu com congressistas o aumento do IOF anunciado pela pasta na semana passada. A medida, estabelecida por decreto, prevê arrecadação adicional de R$ 19 bilhões e é vista como fundamental para o cumprimento das metas fiscais, mas enfrenta resistências do setor financeiro e do próprio Congresso, que pode derrubá-la.

Haddad afirmou aos presidentes da Câmara e do Senado que o funcionamento da máquina pública ficaria em situação delicada sem o aumento do IOF definido pelo governo. O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que a eventual derrubada seria equivalente a extinguir o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e os investimentos do Ministério da Defesa.

A Moody's afirma que uma possível elevação da classificação do Brasil pode ocorrer se houver consenso entre os formuladores de política e o Congresso para avançar em reformas de gastos mais profundas no país. Como exemplo, citam medidas para reduzir a vinculação de receitas e a indexação de benefícios sociais do salário mínimo e uma reforma dos benefícios da Previdência social.

Por outro lado, a agência diz que pode haver um movimento contrário, de novo rebaixamento, caso os esforços de consolidação fiscal forem revertidos ou menos eficazes que o avaliado atualmente, enfraquecendo a confiança dos investidores. Sinais de desaceleração do crescimento também pesariam.

MANUTENÇÃO DA NOTA
A manutenção da nota Ba1 é sustentada, de acordo com a agência, pelo crescimento sólido de uma economia grande e diversificada, pelo histórico de implementação de reformas ao longo de diferentes governos e por uma posição externa considerada forte.

"A essa altura, avaliamos que os riscos de crédito estão equilibrados", afirmou a Moody’s em comunicado.

No primeiro trimestre, o PIB cresceu 1,4% ante os três meses finais de 2024, e o resultado foi puxado pela alta de 12,2% na agropecuária, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já o setor de serviços mostrou leve avanço de 0,3%, e a indústria encolheu 0,1%.

O crescimento ficou entre os maiores registrados entre as economias mais relevantes, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para quase 30 países do bloco e também os números da China e do Brasil.

A agência atribuiu a nota Ba1 para o país em outubro de 2024, realizando sua primeira elevação de rating do país desde 2016. Na ocasião, no entanto, a Moody's já alertava para o alto nível de endividamento e as incertezas fiscais.

Os tetos de classificação para o país não foram alterados.

O teto para títulos em moeda local permanece quatro níveis acima da nota soberana, em A3, refletindo estabilidade externa e risco político moderado, apesar da forte presença do Estado na economia.

Além disso, o teto para títulos em moeda estrangeira foi mantido em Baa1, um nível abaixo do teto em moeda local, considerando o volume elevado de reservas internacionais e a conta de capital aberta, mas também a volatilidade cambial e algumas restrições a fluxos de capital de curto prazo.

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