Leão 14 terá de lidar com alto custo de pensões e atividade insustentável do Vaticano

Em 1ª audiência dominical, papa Leão 14 faz oração pedindo paz

Leão 14 terá de lidar com alto custo de pensões e atividade insustentável do Vaticano
Leão 14 terá de lidar com alto custo de pensões e atividade insustentável do Vaticano

Gabriel Barnabé, São Paulo, Sp (folhapress) - 11/05/2025 09:58:39 | Foto: Reprodução/Vaticano

É depois da Liturgia da Palavra que a Igreja Católica se sustenta. Em geral depois da homilia, da celebração ao verbo, é que os fiéis são convidados ao ofertório. São duas vias que se cruzam na ideia e na prática: ao altar, o pão e o vinho; a um cesto ou qualquer item que funcione como tal, o dinheiro.

O Vaticano se financia única e exclusivamente por doações e compras de seus seguidores; uma vez que não recolhe impostos -e mesmo se o fizesse, seus pouco mais de 800 moradores não sustentariam tanta coisa- a Santa Sé depende de dízimos, ofertas e receita dos itens litúrgicos e museus.

No território central do catolicismo, murado dentro de Roma, são mais volumosos os montantes advindos do óbolo de são Pedro -uma coleta anual que envolve todas as dioceses do mundo e, geralmente em junho, convoca os fiéis a apoiar as obras de caridade do papa e, claro, o funcionamento da Igreja.

É nesta segunda categoria que reside um dos maiores desafios que Leão 14 enfrentará. Em 2023, por exemplo, as doações que referenciam o primeiro dos papas, são Pedro, arrecadaram algo próximo de € 103 milhões. Destes, € 13 milhões -ou 12,6%- foram destinados diretamente à caridade. Os outros € 90 milhões foram usados em despesas burocráticas da Santa Sé.

"É preciso considerar que o Vaticano é um grande negócio em termos financeiros, mas também imobiliários", afirma o vaticanista italiano Roberto Cipriani. Segundo os dados mais recentes, a Igreja tem, somente nos arredores italianos da sede, algo em torno de 4.000 imóveis; ao levar em conta toda a Europa, o número é próximo dos 5.000 -destes, cerca de 20% geram receita principalmente com aluguéis.

Também em 2023, de quando são os relatórios mais atualizados, a Cúria fechou o ano com um déficit operacional na casa dos € 83 milhões. É também para cobrir esse buraco, segundo Cipriani, que o óbolo de são Pedro tem sido usado.

É importante, segundo ele, delimitar algo crucial: as dioceses espalhadas pelo mundo são financeiramente independentes do Vaticano e têm uma gestão descentralizada. Na prática, isso significa dizer que as autoridades católicas de cada país -ou respectivas subregiões- gerem os próprios recursos.

Com esse pano de fundo, é difícil estabelecer a riqueza total sob o guarda-chuva do catolicismo apostólico romano. Somente na tutela de sua repartição central, no entanto, o valor é estimado em US$ 5 bilhões -sem considerar valores imensuráveis das grandes basílicas e de suas obras de arte, como "A Criação de Adão", de Michelangelo, e "A Última Ceia", de Da Vinci.Os números são, hoje, públicos devido especialmente à intensa reforma promovida por Francisco que, entre outras decisões, determinou a publicação de relatórios financeiros mais transparentes.

As mudanças do último papa foram, inclusive, estruturais. O pontífice argentino reorganizou a gestão de patrimônio da Santa Sé e alocou toda a sua supervisão -incluindo o IOR (Instituto para as Obras de Religião), conhecido como Banco do Vaticano- sob a APSA (Administração do Patrimônio da Sé Apostólica).

Cipriani, que é professor emérito da Universidade Roma Tre, classifica as ações de necessárias e afirma que a decisão acertada "evita alguns escândalos e alguns maus usos do dinheiro que já houve no passado". Ele se refere ao escândalo da compra de uma propriedade de € 350 milhões em Londres, que resultou na condenação do cardeal Angelo Becciu -que foi impedido de participar do conclave por esse motivo.

A realocação do comando de patrimônio para a APSA não foi bem recebida em todas as repartições internas da Igreja. Houve forte atrito entre os então presidentes do banco e do órgão gestor. Segundo Cipriani, a relação se abrandou quando "Francisco pediu ao presidente [da APSA] que telefonasse para o presidente do IOR no aniversário dele, como uma maneira de melhorar o comportamento, um símbolo de amizade".

As mudanças, por outro lado, não foram simbólicas: o atual presidente da APSA, o arcebispo Giordano Piccinotti, agora é responsável tanto pela gestão dos ativos financeiros -que, por determinação de Francisco, devem ser investidos e apresentar rendimento, mas sem caráter especulativo- quanto imobiliários. Nestes campos, em 2023, a APSA apresentou um lucro de € 45,9 milhões -destes, € 37,9 milhões foram destinados à Cúria Romana, a missão do papa.

Esses resultados, para Cipriani, comprovam que "as coisas estão ficando cada vez melhores, mesmo que o orçamento oficial final ainda não esteja em boa situação". Na conta geral, segundo ele, ainda falta equilibrar o principal problema: o alto número de funcionários e ainda mais alto gasto com pensões.

São cerca de 4.000 pessoas que trabalham para os órgãos do Vaticano e, entre esses, cerca de 2.000 são só na Cúria Romana -número três vezes maior que todos os funcionários dos museus da cidade-estado, por exemplo.

Leão 14, enquanto líder de toda essa estrutura, precisará evoluir as soluções -em maioria iniciadas por Francisco- que diminuam o custo de funcionamento da Santa Sé, supram a necessidade do pagamento de pensões e, acima de tudo, honrem as doações enviadas com destino à caridade. "Acho que uma gestão mais atenta pode proporcionar uma situação melhor", conclui Cipriani.

Em 1ª audiência dominical, papa Leão 14 faz oração pedindo paz

ANDRÉ FONTENELLE E MICHELE OLIVEIRA, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em primeira recita da Regina Coeli, o papa Leão 14 lembrou os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, com 60 milhões de vítimas. E lembrando os apelos do papa Francisco, afirmou que, sob a ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, pediu "aos grandes do mundo": "Nunca mais a guerra!"
Ele pediu cessar-fogo imediato em Gaza e a libertação de todos os reféns. Também saudou o anúncio do cessar-fogo entre Índia e Paquistão.

Sob aplausos, o papa Leão 14 também considerou um presente de Deus o fato de que seu primeiro domingo como bispo de Roma ocorrer no período de Páscoa.

Ele se referiu aos fiéis como "irmãos e irmãs", cumprimentou os peregrinos do Jubileu das Bandas Musicais e dos espetáculos populares e fez um chamado aos jovens.

"Tenho a alegria de rezar com vocês e com todo o povo de Deus pelas vocações, especialmente ao sacerdócio e à vida religiosa. A Igreja precisa muito disso, e é importante que jovens encontrem em nossas comunidades acolhimento, escuta e encorajamento em seus caminhos vocacionais", afirmou.

Aos jovens, digo: "Não tenham medo! Aceitem o convite da Igreja e de Cristo!"

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