Presença e responsabilidade
Felipe De Carvalho / Agência Onu News - 16/11/2025 11:24:13 | Foto: © Unfccc/Diego Herculano
Representantes do povo Munduruku, da Amazônia, bloquearam entrada principal da Zona Azul, a área reservada a negociadores; demandas incluem fim de projetos que impactam territórios indígenas; CEO da conferência chamou atos de legítimos e disse que governo está escutando manifestantes; jovens indígenas ressaltam importância de manifestações e da presença de povos tradicionais na reunião internacional.
Na manhã desta sexta-feira, cerca de 90 indígenas da etnia Munduruku, realizaram um protesto pacífico bloqueando a entrada principal da Zona Azul da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP30, que está sendo realizada em Belém. A Zona Azul é a área exclusiva para negociadores e outros participantes credenciados.
O acesso pelo portão principal ficou interrompido por cerca de uma hora e o exército foi convocado para reforçar a segurança. Os Munduruku são indígenas da Amazônia e vivem, na maioria, em três estados: Amazonas, Mato Grosso e Pará.
Atos “legítimos”
Segundo agências de notícias, os manifestantes protestavam contra projetos do Governo do Brasil, que podem afetar povos indígenas que vivem na bacia dos rios Tapajós e Xingu. Eles também exigiam o fim de atividades extrativistas que atingem territórios indígenas.
Em conversa com jornalistas, a diretora-executiva da COP30, Ana Toni, afirmou que os manifestantes tinham demandas sobre políticas nacionais. Eles foram encaminhados para uma reunião com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e com a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva.
Ana Toni chamou os atos de “legítimos” e disse que o governo está empenhado em escutar os manifestantes. Ela lembrou que a COP30 tem mais de 900 indígenas credenciados, um aumento expressivo em relação aos 300 inscritos na conferência do ano passado, em Baku no Azerbaijão.
Presença e responsabilidade
Em conversa com a ONU News, a jovem indígena Amanda Pankará, do povo Pankará, do Estado de Pernambuco, afirmou que a COP30 representa um espaço onde a questões indígenas estão tendo mais visibilidade, especialmente o papel do grupo na proteção e a sustentabilidade de diversos biomas.
Para ela, as manifestações são válidas, pois apesar de ampla, a presença dos povos indígenas poderia ser ainda maior.
“Nós teríamos muito mais a contribuir se mais pessoas indígenas estivessem compondo essas mesas, essas discussões. De fato, nós precisávamos que mais parentes estivessem aqui nesses espaços. E essas reinvindicações são válidas, claro. Nós estamos reivindicando direito à terra, direito à vida e, como eu falei anteriormente, nós que fazemos essa barreira de proteção, então nós queremos ser ouvidas de fato. Então, estar aqui hoje, representando aqueles que não tiveram a oportunidade de estar é reforçar ainda mais a nossa presença e responsabilidade”.
Declaração e compromisso
A CEO da COP30 disse que em um encontro realizado na quinta-feira, muitas lideranças indígenas afirmaram que esta é a conferência mais inclusiva da qual participaram.
Já o jovem indígena chileno Emiliano Medina, do povo Mapuche, que compareceu à reunião, disse que nela os povos indígenas revisaram uma declaração reforçando ainda mais o compromisso de combater a crise climática.
Ele disse que protestos como esses são uma forma de incidência para apresentar demandas e afirmar que certas políticas são ineficazes. Medina adicionou que manifestações semelhantes têm sido realizadas em todas as partes do mundo por comunidades afetadas pelas mudanças climáticas.
“A COP na Amazônia é para escutar essas vozes”
Na conversa com jornalistas, Ana Toni enfatizou que o Brasil tem uma “democracia forte” que permite diferentes formas de protesto, dentro e fora da conferência.
Segundo ela, a escolha de organizar a conferência na Amazônia foi justamente para permitir uma ampla participação de povos indígenas, algo que não seria possível caso o evento fosse no Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília.
A representante brasileira assegurou que a voz dos manifestantes está sendo ouvida e que durante a COP30 provavelmente haverá outras manifestações.
Para ela, o sentido de fazer uma conferência na Amazônia é justamente escutar esses clamores.
*Felipe de Carvalho é enviado especial da ONU News à COP30, no Brasil.
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