Fliparacatu faz conviverem grandes escritores em ritmo de calmaria em Minas Gerais

Cada autor faz da mesa um momento de exposição de suas ideias.

Fliparacatu faz conviverem grandes escritores em ritmo de calmaria em Minas Gerais
Fliparacatu faz conviverem grandes escritores em ritmo de calmaria em Minas Gerais

Isadora Laviola, Paracatu, Mg (folhapress) - 09/09/2025 08:14:12 | Foto: © FESTIVAL LITERÁRIO INTERNACIONAL DE PARACATU/DIVULGAÇÃO

Festivais literários se espalham pelo Brasil nos mais diversos formatos. Para leitores, costumam ser de correria entre diferentes programações e longas filas. Para escritores, de encontros apressados, debates amontoados e entrevistas em sequência.

Mas não é assim que funciona no Fliparacatu, que realizou sua terceira edição na cidade de Minas Gerais onde "há um sol para cada cabeça", como diz a brincadeira local. O calor, porém, não vem só do sol, mas da acolhida, como disse o autor convidado Jamil Chade.

Pensado por Afonso Borges, o mesmo gestor cultural por trás dos similares Fliaraxá, Flitabira e Flipetrópolis, o Fliparacatu tem como diferencial a convivência que promove para escritores e leitores. O evento, patrocinado pela Kinross via Lei Rouanet, se concentra na praça central de Paracatu. Segundo a organização, reuniu 35 mil pessoas na edição que aconteceu de 27 a 31 de agosto.

Com exceção de uma programação com autores regionais em uma via paralela e oficinas acontecendo em um endereço no final da rua, a maior parte do festival se concentra numa mesma quadra.

A Casa do Autor, restrita apenas a convidados e funcionários do evento, demonstra a proposta do Fliparacatu de ser um festival "feito para o bem-estar dos autores", nas palavras de Borges. No ambiente comunitário, os convidados fazem as refeições juntos, autografam livros uns dos outros e terminam todos os dias do evento com saraus onde cantam, tocam instrumentos e dançam.

O clima é como o de uma "confraternização de firma", mas entre aqueles que exercem o trabalho muitas vezes solitário de escrever. Ali autores se conhecem e se reencontram -muitos já estiveram em outras edições dos festivais de Borges, como Renato Noguera, Geni Núñez e Eugênio Bucci, que diz que o gestor cultural "promove trocas muito raras entre grandes escritores."
Borges conta que formou esse grupo mais fiel por critérios comuns como ideais de democracia e liberdade. "Todos são antirracistas e compõem um bloco de esquerda e democrático", afirma ele.

Ao ser questionado se o viés político unânime impede a diversidade do evento, ele responde: "Eu quero trazer um autor de direita, mas me aponte um que consegue dialogar".

Nesta terceira edição, ele pensou a programação gratuita junto a um grupo de curadoria formado pelos autores Bianca Santana, Jeferson Tenório, Sérgio Abranches e Leo Cunha, responsável pela programação infantil.

As mesas do Fliparacatu se desenrolam mais como aulas do que bate-papos. Borges conta que, ao convidar um autor para compor a programação, ele dá ao convidado a oportunidade de refletir sobre o que pode agregar ao tema proposto.

Na prática, cada autor faz da mesa um momento de exposição de suas ideias, estudos e também de seu livro mais recente. Com os livros e nomes dos autores expostos nas mesas, os encontros se tornam acessíveis para qualquer passante.

Nesta última edição, autores aproveitaram para divulgar novos projetos. Carla Madeira e Ana Maria Gonçalves leram trechos de seus próximos romances e Míriam Leitão contou sobre um romance feminista que está escrevendo, que pode ou não ser publicado.

Gonçalves e Valter Hugo Mãe foram os autores homenageados dessa edição e também figuraram no topo das listas de autores e obras mais vendidas na livraria do festival. Eles dividiram a última mesa do evento, que lotou as 400 cadeiras do Teatro Afonso Arinos e seu entorno.

Os dois fizeram a plateia rir ao discutir a menopausa e emocionaram ao trocar presentes. Ela leu uma carta para ele e ele a regalou com o Sankofa, símbolo de origem africana que representa a memória e foi desenhado pelo autor português, inspirando também a identidade visual desta edição do festival.

Além de assistir às mesas, crianças e adolescentes paracatuenses também puderam participar do festival com suas próprias histórias. No último dia, uma premiação reconheceu estudantes da região que criaram desenhos e textos em torno dos temas da edição, sendo aplaudidos no palco por autores consagrados.

Durante a cerimônia, que já é tradição do evento, Eliana Alves Cruz se surpreendeu com o texto de uma das participantes por sua qualidade e lembrou o incentivo que teve como escritora ao receber um prêmio de terceiro lugar por uma redação que fez na escola.

O prêmio, segundo Afonso Borges, é um dos "segredos do festival". "O Fliparacatu não é pensado para o autor ou para a literatura, ele é feito para a cidade."

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