Um artigo publicado na revista científica Nature Scientific Reports , em 10 de março de 2021, elaborado pelas pesquisadoras do Instituto Arara Azul, Eliane Vicente e Neiva Guedes, traz um alerta sobre as ameaças à biodiversidade pantaneira, nesse caso específico, da contaminação por agroquímicos de uma espécie símbolo do Pantanal, a Arara-azul
Por Sandro Menezes Silva E Isamara Carvalho Ferreira – Ufgd/fcba / Documenta Pantanal - 02/05/2021 18:03:22 | Foto: UFGD/FCBA
Um artigo publicado na revista científica Nature Scientific Reports , em 10 de março de 2021, elaborado pelas pesquisadoras do Instituto Arara Azul, Eliane Vicente e Neiva Guedes, traz um alerta sobre as ameaças à biodiversidade pantaneira, nesse caso específico, da contaminação por agroquímicos de uma espécie símbolo do Pantanal, a Arara-azul – Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790).
Vale destacar que, quando foram iniciadas as ações de conservação da Arara-azul que deram origem ao Instituto Arara Azul, em meados dos anos de 1980, a população da espécie no Pantanal Sul era estimada em 2.500 indivíduos, e hoje essa população é de aproximadamente 6.500 indivíduos. A captura de animais para o comércio ilegal e a destruição e degradação de hábitats continuam sendo as principais ameaças à espécie, mas outras ameaças, como a contaminação por agroquímicos, não podem ser desconsideradas. Essas substâncias, usadas na agricultura com diferentes finalidades, têm efeitos diversos sobre os organismos vivos, podendo manifestarem-se imediatamente após o contato primário, por ingestão de água ou alimentos contaminados, ou então terem efeito cumulativo, quando há concentração das substâncias nos organismos dos níveis mais altos da cadeia trófica. As consequências dessas substâncias sobre os organismos vivos, em médio e longo prazo, incluem alterações comportamentais, no desenvolvimento e nos ciclos biológicos, podendo afetar diretamente os processos reprodutivos.
Por Sandro Menezes Silva e Isamara Carvalho Ferreira – UFGD/FCBA
Um artigo publicado na revista científica Nature Scientific Reports , em 10 de março de 2021, elaborado pelas pesquisadoras do Instituto Arara Azul, Eliane Vicente e Neiva Guedes, traz um alerta sobre as ameaças à biodiversidade pantaneira, nesse caso específico, da contaminação por agroquímicos de uma espécie símbolo do Pantanal, a Arara-azul – Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790).
Vale destacar que, quando foram iniciadas as ações de conservação da Arara-azul que deram origem ao Instituto Arara Azul, em meados dos anos de 1980, a população da espécie no Pantanal Sul era estimada em 2.500 indivíduos, e hoje essa população é de aproximadamente 6.500 indivíduos. A captura de animais para o comércio ilegal e a destruição e degradação de hábitats continuam sendo as principais ameaças à espécie, mas outras ameaças, como a contaminação por agroquímicos, não podem ser desconsideradas. Essas substâncias, usadas na agricultura com diferentes finalidades, têm efeitos diversos sobre os organismos vivos, podendo manifestarem-se imediatamente após o contato primário, por ingestão de água ou alimentos contaminados, ou então terem efeito cumulativo, quando há concentração das substâncias nos organismos dos níveis mais altos da cadeia trófica. As consequências dessas substâncias sobre os organismos vivos, em médio e longo prazo, incluem alterações comportamentais, no desenvolvimento e nos ciclos biológicos, podendo afetar diretamente os processos reprodutivos.
No caso específico dos organofosforados, avaliados nesse trabalho, os efeitos são menos severos quando comparados com outros grupos de produtos, como organoclorados e carbamatos, mas a alta solubilidade em água desses produtos pode ampliar a área de contaminação, especialmente em uma área úmida como o Pantanal, chegando até três anos seu tempo de permanência no ambiente.
O artigo traz um estudo qualitativo, e, portanto, não tem a pretensão de demonstrar um processo de contaminação química extensiva no Pantanal, no qual foram analisados três indivíduos de Arara-azul. Dois desses indivíduos foram encontrados vivos, porém com sintomas de alteração neurológica, em uma fazenda no Pantanal cujo proprietário é veterinário, em 2014. Um terceiro indivíduo foi encontrado já morto e não foi incluído nessas análises, embora tenha sido avaliado quanto ao seu estado geral. Após os indivíduos encontrados vivos morrerem, foram necropsiados pelos especialistas do Instituto Arara Azul, e amostras de fígado, baço e estômago, incluindo a moela, foram enviados para exames laboratoriais, no Centro de Assistência Toxicológica da UNESP-Botucatu, em São Paulo.
A necropsia mostrou alterações nos pulmões que sugerem morte por falência cardíaca, além de hematomas externos, que sugerem um quadro de ataxia causada pelo agente químico, no caso, o Mevinphos (Phosdrin), que apresentou valores considerados altos no material visceral analisado em laboratório. Na moela de um dos animais necropsiados havia restos vegetais semelhantes a gramíneas, o que indica uma tentativa de automedicação. Essas análises também mostraram que não houve registro de contaminação dos órgãos examinados de outros grupos de agroquímicos, o que não deixa de ser uma boa notícia.
As autoras destacam que esse evento de contaminação não é usual, pois em 30 anos de pesquisa na região nunca haviam registrado eventos similares; também ressaltam que há possibilidade de ter sido uma contaminação pontual, provavelmente resultante da falta de cuidado na aplicação do produto, na região em que os animais foram encontrados. Portanto, apesar de preocupante, não é possível afirmar, ao menos com base nesse trabalho, que há uma contaminação extensiva por agroquímicos na região. Ainda assim a publicação serve de alerta para o potencial risco que práticas agrícolas inadequadas representam para a biodiversidade do Pantanal.
São apresentadas evidências científicas de contaminação de várias espécies de aves por agroquímicos em diferentes partes do mundo e, destacando que as aves apresentam adaptações que as deixam vulneráveis à contaminação, como o alisamento das penas com o bico, propiciando que produtos químicos sobre as penas entrem em contato direto com o tegumento e com o trato digestivo, constituídos por tecidos com alta permeabilidade aos diferentes grupamentos químicos usados nos produtos agrícolas.
Em um paralelo com as abelhas, que somente em 2020, em quatro estados brasileiros, mais de quinhentos milhões de indivíduos foram mortos devido ao uso de agroquímicos, conclui-se que a vida selvagem tem estado cada vez mais exposta aos agroquímicos, e, infelizmente, as consequências dessa exposição não têm sido monitoradas com a devida necessidade, o que, em muitos casos, ocasiona uma subnotificação de eventos de mortalidade relacionada à contaminação química nos ambientes naturais. Se para as abelhas há vários relatos nesse sentido, para animais de outros níveis da cadeia trófica há a necessidade de realizar o monitoramento do uso dessas substâncias e seus efeitos, especialmente numa região com características tão peculiares como o Pantanal; evitar o uso próximo a áreas pristinas que ainda conservam ambientes importantes para as diversas espécies da fauna e da flora pantaneira é importante, assim como difundir boas práticas produtivas, menos impactantes e mais eficientes do ponto de vista da busca pela sustentabilidade nas atividades agropecuárias na planície pantaneira.
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Fontes:
Guedes, N. M. R., & Azul, C. D. P. A. (2004). Araras azuis: 15 anos de estudos no Pantanal. Simpósio Sobre Recursos Naturais e Sócio-Econômicos do Pantanal Embrapa Pantanal, Corumbá, Brazil , 53-61. Disponível em https://www.researchgate.net/profile/Neiva_Guedes/publication/240620078_ARARAS_AZUIS_15_ANOS_DE_ESTUDOS_NO_PANTANAL/links/55d2138908aec1b0429dce3e/ARARAS-AZUIS-15-ANOS-DE-ESTUDOS-NO-PANTANAL.pdf
Paumgartten, F. J. (2020). Pesticides and public health in Brazil. Current Opinion in Toxicology , 22 , 7-11. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S246820202030005X?casa_token=yiq2dixrgwMAAAAA:pAeVGfYQRNJGFNoANN53NA_oPXeu_sBoB1XIB7_dfSuGWCosuT5YsY8Zh_43ZCM1sylowmbgSTk
Scherer-Neto, P., Guedes, N. M. R., & Toledo, M. C. B. (2019). Long-term monitoring of a hyacinth macaw Anodorhynchus hyacinthinus (Psittacidae) roost in the Pantanal, Brazil. Endangered Species Research , 39 , 25-34. Disponível em http://www.int-res.com/articles/esr2019/39/n039p025.pdf
Vicente, E. C., & Guedes, N. M. (2021). Organophosphate poisoning of Hyacinth Macaws in the Southern Pantanal, Brazil. Scientific reports , 11 (1), 1-6. Disponível em https://www.nature.com/articles/s41598-021-84228-3
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