Em 2025 eu desejo que você resista!

Em 2025 eu desejo que você seja resistência sim, não resiliência

Em 2025 eu desejo que você resista!
Em 2025 eu desejo que você resista!

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Em 2025 eu desejo que você seja resistência sim, não resiliência

Por Naiara Lira - Portal Bdf - 07/01/2025 17:35:19 | Foto: Reprodução

Feliz Ano Novo de novo! E mais uma vez a minha geração millenium faz planos de não desistir. Aumenta a dose da medicação, volta a se matricular na academia e calcula como sobreviver a centenas de horas de trabalho nos próximos anos, almejando uma ascensão social que garanta um futuro com mais estabilidade financeira.

Segundo um levantamento feito pela Interplayers - um hub de negócios voltados ao setor de saúde e bem-estar - publicado pela VEJA em outubro de 2024: “As vendas de medicamentos para o tratamento de depressão no Brasil cresceram 16% entre agosto de 2023 e julho de 2024, em comparação com os 12 meses anteriores (...) Já no primeiro semestre deste ano, entre fevereiro e julho, o salto foi de 21%. Como consequência, houve crescimento também do faturamento relacionado à venda dos antidepressivos, com aumento de 21% nos 12 meses analisados e de 22% no acumulado do ano.”

Não se engane, aquele amigue que parece não se abalar com nada, tem grandes chances de estar medicado. Como diz um hino cristão que cantei muito na infância, “nos recônditos da alma, dores há que não se veem”.

Por isso, desejo que em 2025 você desista desse futuro muito doido que venderam pra gente na base do “trabalho duro”. Desista de pelo menos 10 daqueles 15 trabalhos que você planejou e seja generosa com você! Terceirize bem uns 4 daqueles 9 projetos que você ainda está trabalhando e diga para as pessoas: “eu não estou dando conta”, aos primeiros sinais de fadiga. Muita gente não vai entender, fato, mas aí já não é problema seu.

Em 2025 eu desejo que você seja resistência sim, não resiliência.

De acordo com o dicionário Michaelis On-line, resistência é a “capacidade que uma força tem de se opor a outra” enquanto resiliência é a “capacidade de rápida adaptação ou recuperação”. Chega né?! Já passou da hora das trabalhadoras e trabalhadores brasileires se revoltarem contra as condições de trabalho e a quase inexistente distribuição de renda. Pelo fim da escala 6x1.

Em 2025 desejo que você resista aos projetos de privatização da Rodoviária do Plano Piloto e dos estacionamentos comerciais, a tal da “Zona Verde”, que ganhou repercussão midiática mais recentemente. Segundo matéria do Correio Braziliense de dezembro de 2024, “serão 55 mil vagas nas áreas mapeadas. Os preços serão de R$ 4 para carros e R$ 2 para motos (por hora)”.

Me lembro que no início dos anos 2000 tentaram privatizar os estacionamentos do Setor Comercial, mas dia sim, dia não, o espaço amanhecia com as cancelas quebradas e dezenas de panfletos do Movimento Passe Livre (MPL) pregados. Já se vão 20 anos que a patifaria descansou nesse aspecto e agora ensaia um retorno. Brasília é uma das raras, talvez a única, capital em que os estacionamentos públicos ainda são realmente públicos.

Segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), conforme matéria do Brasil de Fato DF, o objetivo da privatização é disponibilizar vagas de estacionamento para diminuir o tempo de procura, aumentar a rotatividade e melhorar a mobilidade do trânsito de Brasília.

Dá até dor de barriga ler uma cretinice dessas. A verdade é que, mais uma vez, esse projeto só esculhamba mais ainda a vida do trabalhadores do DF. Ou ninguém calculou os R$ 900 na conta mensal de quem vai de carro pro trabalho cinco vezes por semana e passa 10h diárias (8h de trabalho + 2h de almoço)? E para onde vai o dinheiro recolhido? Além do bolso de algum bilionário?

Porque eu não sei você, mas eu não ouvi falar em dobrar a frota de ônibus, nem em levar o metrô até Planaltina e muito menos ouvi falar em tarifa zero nos transportes públicos para o DF e entorno. Porque sem nada disso, falar em “melhorar a mobilidade do trânsito de Brasília” é apenas fazer uma piada de mau gosto.

Então não, chega de resiliência.

Em 2025 eu desejo que a semente da resistência seja plantada no seu e no meu coração, para que a gente se revolte e se revolte muito! Aproveitando que o planeta da transformação (Plutão) se encontrou com o signo da revolução (Aquário) e que os dois vão ficar namorandinhos pelos próximos 20 anos.

Em 2025 eu desejo que você se lembre das histórias de quem comprou lote no início dos anos 2000 por R$ 15 mil no Lago Sul, chácara por R$ 10 mil na Granja do Torto e assim por diante. Lembra também daquelas lendas de que os apartamentos das 400 no Plano Piloto foram construídos pensando nas trabalhadoras domésticas e porteiros que trabalhavam na casa dos moradores das 200, 100 e 300. Lembra disso a próxima vez que você for pagar o aluguel e se revolte com a sua realidade.

Em 2025 eu desejo que tenhamos força, vontade e aquela dose mínima de desespero, só o suficiente para fazer girar a roda do destino e tirar nossa cara da lama. Infelizmente, enquanto a gente for resiliente e, na base da medicação, segurar as rachaduras do sistema, ele não vai ruir e muitas pessoas vão continuar trabalhando até a morte.

Uma matéria da BBC de agosto de 2024, disse que em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout e que esse era o maior número dos últimos dez anos do Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo a publicação, "o aumento ocorreu, principalmente, durante a pandemia do coronavírus. De 178 afastamentos por burnout , em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%. Em uma década, o número de afastamentos por este motivo cresceu quase 1.000%”

Eu, Naiara Lira, sou uma dessas 421 pessoas. Nunca mais. 2025 é ano de desistir e resistir!

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* Naiara Lira é atriz, cantora e produtora cultural na capital.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino

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