'Alguém vai ter que criar a manga do amor', diz economista sobre tarifa de Trump

 'Alguém vai ter que criar a manga do amor', diz economista da Ceagesp sobre tarifa de Trump

 'Alguém vai ter que criar a manga do amor', diz economista sobre tarifa de Trump
 'Alguém vai ter que criar a manga do amor', diz economista sobre tarifa de Trump

Gabriela Cecchin, São Paulo, Sp (folhapress) - 01/08/2025 10:18:42 | Foto: Isac Nóbrega - PR

Com a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos à manga brasileira, um dos cenários possíveis é que o consumidor brasileiro encontre a fruta mais barata no varejo durante o segundo semestre deste ano. A medida foi anunciada nesta quarta-feira (30) pelo presidente Donald Trump e poderia aumentar a oferta do produto no mercado interno.

Para equilibrar a situação, uma das alternativas seria aumentar a demanda pelo produto, tal como aconteceu com o morango durante a febre da sobremesa coberta por brigadeiro branco e calda de açúcar.

"Alguém vai ter que criar, por exemplo, a manga do amor, a geleia de manga, um desafio de quem consegue tirar mais rápido o caroço da manga, essas tendências para aguentar o volume da produção", brincou Thiago de Oliveira, chefe da seção de economia da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), durante entrevista à Folha na terça-feira (29), em meio a expectativas sobre o anúncio de Trump.

Segundo ele, as mangas colhidas e comercializadas no mercado nacional já estão com 30% de redução de preços. A safra da variedade tommy, muito exportada para o país norte-americano, já deve começar em agosto.

"Com essa questão do morango do amor, é interessante pensar no novo poder que a mídia tem sobre os preços. Antes, era só o clima, quando o calor intenso afetava as safras, por exemplo. Agora há um novo mecanismo", acrescenta Oliveira.

O preço do morango quase dobrou no atacado na semana de pico do morango do amor, e o volume de vendas chegou a quintuplicar para alguns vendedores da Ceagesp. Essa febre aconteceu bem na véspera do início da colheita da safra e só trouxe benefícios aos produtores, que já esperavam uma baixa nos preços.

"Por sorte. Se fosse no começo de junho, ia engrossar um pouco mais o caroço, como a gente diz por aí, porque não ia ter morango o suficiente", afirma o economista.

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CONFEITEIRAS JÁ PREPARAM A MANGA DO AMOR
A possibilidade da "manga do amor" não está tão distante da realidade. Na falta de recursos para comprar grande quantidade de morangos (ou somente pela preferência de sabor), algumas pessoas já optaram por utilizar ingredientes mais acessíveis, como banana, abacaxi -e até mesmo a manga.

"Eu sou completamente apaixonada por manga, então queria fazer algo que juntasse a trend do momento com a fruta que amo, aí tive a ideia de fazer a versão manga do amor", conta a criadora de conteúdo Laura Tavares de Faria, 27.

Para ela, o modo de preparo é igual ao do morango do amor, mas com a manga. "A única diferença é que, para a calda, eu usei o açúcar cristal já colorido, então não tive que fazer o processo de colocar corante na calda e o vinagre, que normalmente é o que é feito", explica.

A chef Miriele Milani, 34, da Milani Pink Doceria, considera a manga e o morango uma "combinação perfeita", e por isso teve a ideia de juntar as tendências. "Fizemos uma receita de teste e a nossa surpresa foi maravilhosa, na minha opinião ganha da tradicional", afirma.

Ela recomenda preparar o brigadeiro com fruta fresca no recheio, para realçar o sabor da manga e deixar a massa mais cremosa e macia para manusear.

Mas nem todos gostam de comer manga com açúcar -e muito menos com brigadeiro, que tem leite, e alguns acreditam que "manga com leite" pode matar.

A empresária e videomaker Beatriz Costa, 25, por exemplo, segue a linha da maçã do amor tradicional, sem o brigadeiro branco. Ela fez a manga do amor pela primeira vez em julho do ano passado, antes mesmo de se falar do morango, e recomenda deixar a manga por um tempo no congelador, para ajudar a fixar a calda.

Já Iara Lúcia Pinheiro, 32, empresária, compartilhou a receita salgada que sempre esteve acostumada a fazer:
"Titulei como manga do amor pelo motivo de estar viral o morango do amor. Mas é simplesmente uma manga verde com sal e pimenta. Nós aqui do Nordeste amamos comer assim", comenta Iara.

PREÇO DA MANGA VAI BAIXAR MESMO?
A baixa nos preços, porém, ainda não é uma garantia. Isso porque o setor já sinalizou que alguns produtores poderiam deixar as frutas apodrecerem no pé para evitar custos com transporte e mão de obra.

"Caso a manga que seria destinada para exportação fique no Brasil, isso poderia reduzir os preços no limiar entre o custo de produção e transporte para comercialização. Aí seria o caos instaurado. As pessoas passando fome e a fruta apodrecendo no pé. Poderia causar pragas, afetar a safra seguinte", diz Oliveira. O principal produtor de manga no país é o Vale do São Francisco, e os custos logísticos do Nordeste até o Sudeste ou Sul seriam um problema.

Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) não acreditam na possibilidade de redirecionar as exportações para outros mercados. A Europa já estaria cheia de manga nos meses de setembro e outubro, lotada com outras variedades da fruta. Na Ásia, há o problema logístico, considerando que o alimento é bastante perecível, e poderia chegar mais caro e com menos qualidade ao mercado.

No ano passado, o Brasil exportou 36,8 mil toneladas, ou US$ 45,8 milhões em mangas para os Estados Unidos, o que representa quase 15% do total da produção. Manga, uva e frutas processadas (como o açaí) compõem 90% do total de frutas exportadas ao país norte-americano.

Economistas ouvidos pela Folha acreditam que deve existir uma desinflação no mercado para os produtos taxados, ao menos durante o segundo semestre deste ano.

VEJA OUTRAS FRUTAS QUE PODEM VIRAR TENDÊNCIA
Há, ainda, quem prefira outros sabores da sobremesa, como a uva, o abacaxi, o açaí e até o tomate. A chef Miriele Milani já testou maracujá, pistache e mexerica.

As frutas não entraram na lista de quase 700 exceções das tarifas de Trump, e talvez fiquem mais baratas nos próximos meses.

Sanções a Moraes e tarifaço são crise inédita entre Brasil e EUA e teste para Lula

GUSTAVO ZEITEL, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As sanções econômicas e políticas impostas ao Brasil pelo presidente americano Donald Trump instauram o pior momento nas relações diplomáticas entre os países desde a ditadura militar brasileira, afirmam especialistas.

Adotando a perspectiva da política interna, a capacidade de negociação do presidente Lula mostrará se o governo vai conseguir manter o ambiente favorável até as eleições, com a retórica da soberania nacional. Ao mesmo tempo, os efeitos econômicos e a intransigência de Trump podem deixar o Planalto em uma situação delicada.

Nesse cenário, a insatisfação popular só aumentaria. Professor de ciência política da USP (Universidade de São Paulo), José Álvaro Moisés diz que a opção de Lula por negociar está de acordo com seu perfil conciliador. "Se existe um debate hoje sobre ligar ou não ligar para Trump, isso mostra que Lula vai querer negociar. Mas ele vai querer discutir nos termos dele, e não se deixar humilhar como ocorreu com Zelenski", afirma Moisés, referindo-se ao bate-boca entre o presidente dos EUA e o líder da Ucrânia, em Washington, no início do ano.

"Trump já fez um favor ao projeto de reeleição de Lula. Agora Lula pode mostrar que a família Bolsonaro depende de uma figura externa a ponto de aceitar prejuízos ao país. Essa aliança Bolsonaro-Trump pode afetar o Brasil de uma maneira negativa, e eles não vão estar nem aí."
Nessa negociação, uma das prioridades do governo, afirma o cientista político, é ter mais clareza sobre o motivo das sanções, além da suposta perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje réu no STF (Supremo Tribunal Federal) pela trama golpista de 2022.

Moisés lembrou, por exemplo, a manifestação feita pelo encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, sobre o interesse que a Casa Branca tem em explorar as terras raras brasileiras. O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo desses minerais, importantes para o setor tecnológico.

"A ingerência de Trump mostra que ele pertence a uma facção política e ideológica que não tem nenhum respeito às regras conquistadas, depois de guerras", diz Moisés, acrescentando que suas sanções se inscrevem num contexto de recessão democrática pelo mundo. "Líderes autoritários costumam mirar sempre o Poder Judiciário."
Nesta semana, Trump assinou o decreto que implementou uma sobretaxa de 40% às mercadorias brasileiras e elevou o valor total para 50%. Mesmo que tenha poupado quase 700 produtos, o café e a carne foram algumas das exportações incluídas no tarifaço.

Em paralelo, a maioria dos ministros do STF está proibida de entrar em território americano. Conforme anunciado na quarta (30), Alexandre de Moraes foi punido com a Lei Magnitsky, sanção financeira contra corruptos ou pessoas que tenham atentado contra os direitos humanos. As relações diplomáticas entre ambos os países duram 200 anos. Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, os EUA foram a primeira nação a estabelecer, em 1815, um consulado por aqui, no Recife.

Mais tarde, também foram ágeis no reconhecimento da Independência do Brasil. No sentido inverso, o Brasil foi o único país da América do Sul a enviar tropas para a Segunda Guerra Mundial, o que iniciou uma parceria entre os dois Exércitos.

Mesmo que os EUA não admitam até hoje, um ponto de inflexão ocorreu na ditadura, quando os americanos apoiaram o golpe de 1964.

Para Carlos Poggio, professor de relações internacionais da PUC-SP, a crise atual é a mais aguda desde a redemocratização e não pode ser comparada com o episódio de espionagem da então presidente Dilma Rousseff (PT), durante o segundo mandato de Barack Obama, em 2013.

"Estamos no pior momento das relações entre os países", diz Poggio. "O Brasil ficou numa situação muito complicada. O Itamaraty precisa continuar tentando negociar, buscando saber o que querem os EUA, se é comercial ou político. Sabemos que aplicar sanções não traz efeitos positivos", conta Poggio, acrescentando que a popularidade de Lula pode crescer, mas que, visando a eleição, tudo dependerá de sua capacidade de negociar.

"Lula pode se colocar como um líder, mas a comunidade internacional anda muito amedrontada com a ofensiva de Trump."

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