De acordo com dados preliminares do projeto, houve melhoria de 40%, em média, na razão de mortalidade padronizada.
Foto: Departamento de Comunicação Social Prefeitura de Itabuna
De acordo com dados preliminares do projeto, houve melhoria de 40%, em média, na razão de mortalidade padronizada.
Cláudia Collucci, São Paulo, Sp (folhapress) - 05/01/2025 12:00:37 | Foto: Departamento de Comunicação Social Prefeitura de Itabuna
Um projeto de telemedicina em UTI (unidade de terapia intensiva), liderado pelo InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo, com apoio do Ministério da Saúde, mostra melhoria nas taxas de mortalidade e redução do tempo de permanência do paciente em terapias intensivas do SUS (Sistema Único de Saúde).
A iniciativa, chamada de TeleUTI Conectada, envolve capacitações virtuais e presenciais, discussões clínicas e monitoramento remoto de UTIs públicas em cinco regiões do país, a partir de dados em tempo real de sinais vitais, de ventilação mecânica e de medicamentos infundidos, entre outros parâmetros.
De acordo com dados preliminares do projeto, houve melhoria de 40%, em média, na razão de mortalidade padronizada (SMR) das oito UTIs participantes em relação à média dos hospitais públicos brasileiros (0,83 contra 1,40).
Segundo Carlos Carvalho, diretor da divisão de pneumologia do InCor e da Saúde Digital do HC, a melhoria ocorreu mesmo diante de um cenário de pacientes mais graves atendidos pelas UTIs do projeto.
Nelas, a média do Saps 3 (Simplified Acute Physiology Score), que avalia a gravidade dos pacientes, foi de 62 pontos, o que indica uma gravidade 25% superior à média nacional dos hospitais do SUS -de 46.
Carvalho diz que outro resultado relevante foi uma diminuição do tempo de ventilação mecânica do paciente, o que permitiu uma saída mais rápida da UTI. "Isso acaba liberando vaga para quem estava à espera de um leito no pronto-socorro. No final, é como tivéssemos construído dois leitos a mais."
Os bons resultados do projeto contrariam de certa forma as conclusões de um estudo publicado em outubro que demonstrou que o uso da telemedicina em UTI não contribuiu com o tratamento de pacientes internados nem reduz o tempo de hospitalização.
Porém, os próprios autores ponderaram que a pandemia ocorreu durante a realização do trabalho, o que pode ter influenciado nos resultados, e que há diferentes formas de fazer telemedicina. Por isso, seria preciso mais pesquisas para encontrar o melhor modelo e perfil de UTI para receber a tecnologia.
Para Carvalho, a TeleUTI Conectada tem diferenciais em relação ao modelo avaliado no estudo, como oferta de capacitação mais intensiva. Além de treinamento por vídeo, há reuniões virtuais semanais com a equipe médica, fisioterapeutas e enfermagem, discussão clínica de casos mais graves e sugestão de mudanças de conduta clínica.
"A gente viu que só montar vídeos e deixá-los para as equipes assistirem não é a melhor maneira. Não ter discussão de casos nos fins de semana também não é bom. O nosso funcionamento é sete dias por semana."
Visitas presenciais às UTIs participantes do projeto também foram importantes, segundo ele. "Ensinamos in loco algumas técnicas que as equipes estavam com dificuldades. Alguns queriam discutir mais tratamentos de sepse, outros, ventilação mecânica, e assim por diante", conta.
O projeto do InCor começou como uma resposta à pandemia de Covid em 2020, período em que muitas unidades públicas entraram em colapso e a taxa de mortalidade disparou. À época, um levantamento da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) constatou que a mortalidade de pacientes com Covid internados em UTIs privadas foi de 30%, enquanto em UTIs públicas chegou a 53%.
Durante a pandemia, o InCor tinha uma teleUTI de adultos que apoiava hospitais públicos no manejo de pacientes críticos. Diante do aumento das taxas de mortalidade materna, foi criado um outro braço, uma teleUTI obstétrica, para atender gestantes e puérperas. Nos primeiros seis meses, a iniciativa reduziu quase pela metade (47,6%) a razão de mortalidade materna nas UTIs dessas instituições.
Carlos Carvalho conta que no período da pandemia foram observados vários entraves que levaram a equipe a buscar uma forma de integrar as informações. Por meio de um outro projeto apoiado pelo governo paulista e empresas de tecnologia, foi desenvolvida então uma forma de conectar os aparelhos da UTI para que esses dados pudessem ser monitorados a distância.
"Conseguimos conectar as bombas de infusão com os remédios que o paciente toma, o monitor multiparamétrico com todos os dados vitais, o ventilador mecânico etc. A gente foi conectando tudo isso e conseguiu colocar, no mesmo segundo, em um painel só. É como se a equipe [do InCor] entrasse no quarto do paciente aonde quer que ele estivesse."
Os resultados preliminares do projeto foram apresentados no mês passado ao Ministério da Saúde e, devido aos bons resultados, está em discussão uma nova fase ampliada, envolvendo mais 12 UTIs e cinco UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento), além de 15 unidades de terapia intensiva voltadas a gestantes graves.
Para o médico intensivista Ederlon Rezende, que coordena um programa da Amib que monitora UTIs brasileiras, a realidade das unidades de terapia intensiva hoje é marcada por falta de organização, de busca de qualidade e de otimização de processos.
"Se você tem um projeto que vai usar a tecnologia para facilitar o trabalho da equipe, e se eu puder associar a isso conceitos de organização, de gestão, de coleta de dados, de uso de indicadores, de treinamento e qualificação das equipes, isso com certeza vai nos ajudar", afirma.
No entanto, ele lembra que, mesmo com essas tecnologias e o aumento de leitos e de profissionais intensivistas nos últimos anos, a distribuição ainda é muito heterogênea no país. "Falta equidade, acesso para quem depende do SUS, principalmente no Norte e no Nordeste."
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