Além disso, o árabe é uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e representa um elo cultural e religioso entre as nações árabes e islâmicas, influenciando políticas regionais e globais
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Além disso, o árabe é uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e representa um elo cultural e religioso entre as nações árabes e islâmicas, influenciando políticas regionais e globais
Agência Sputnik Brasil - 23/12/2024 09:34:04 | Foto: © PxHere
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas explicam a origem da influência da língua árabe no português e no espanhol e destacam a importância geopolítica do idioma.
Nesta quarta-feira (18) é celebrado o Dia da Língua Árabe. O idioma é falado por cerca de 400 milhões de pessoas, em mais de 20 países, abrangendo uma região rica em recursos naturais essenciais, como o petróleo e o gás natural. Essa região é estratégica para a economia global, impactando na segurança energética e nas relações internacionais.
Além disso, o árabe é uma das seis línguas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e representa um elo cultural e religioso entre as nações árabes e islâmicas, influenciando políticas regionais e globais. A importância geopolítica da língua árabe é reforçada por sua capacidade de mediar diálogos e acordos internacionais, promovendo a cooperação em questões de segurança, economia e cultura.
A origem da língua árabe está ligada à religião islâmica, como aponta ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Claude Hajjar, psicanalista, autora do livro "Imigração árabe: 100 anos de reflexão", editora do site Oriente Mídia, pesquisadora de temas do Oriente Médio e conselheira da presidência da Federação de Entidades Americano-Árabes (Fearab).
"O [idioma] árabe vai começar junto com o islamismo. Nos séculos VI, VII, você tinha a presença da língua árabe na Arábia Saudita e em algumas tribos árabes nômades. Com o advento do islamismo e a construção de todo um sentido político e religioso […], você tem no Alcorão a presença da língua árabe como obrigatória e não traduzível naquele momento. Então o Alcorão coloca o idioma árabe como um idioma sacro, praticamente, que não pode ser traduzido, uma coisa que mudou completamente a partir dos séculos XIX, XX. Nós passamos a ter, no século XX, principalmente, traduções do Alcorão para o português e outros idiomas", explica.
Hajjar afirma que, embora a situação tenha mudado posteriormente, os séculos em que a língua árabe foi exclusiva no Alcorão acabaram fazendo do idioma um fator agregador no sentido islâmico-religioso. Nesse contexto, ele se tornou dominante no chamado Crescente Fértil, região que abrange os territórios de Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Chipre e partes da Síria.
Ela explica que o idioma passou a ter contexto comercial durante a década de 1970, por conta das transações envolvendo petróleo.
"Começou a ser muito importante o idioma árabe, porque naquela época o inglês nos países árabes ainda não era predominante. Então, se você queria fazer negócio com os países árabes, você precisava falar o árabe. E não só falar o árabe, como entender hábitos, costumes: como você vai se comportar; como você vai comer — com a mão direita, com a esquerda —; se você senta no chão, não come, come junto, no mesmo prato, come separado, garfo e faca; ou então se você coloca um lenço na cabeça; ou se uma mulher cumprimenta um homem ou não cumprimenta", afirma.
Segundo Hajjar, com o tempo isso mudou, pois muitos dos árabes passaram a querer fazer negócios em inglês.
Ela afirma que não há resistência quanto à língua árabe no Ocidente, pois o idioma sempre foi visto como algo que evoca mistério e magia. Porém ela frisa que o que existe é o impedimento do idioma por questões geopolíticas.
"O impedimento aqui de as gravadoras [ocidentais] não permitirem que ela [língua árabe] se divulgue muito. Talvez exatamente para não mostrar um árabe civilizado, para mostrar um árabe menos civilizado."
Ela afirma que para compreender a geopolítica, sobretudo envolvendo o Oriente Médio, é preciso buscar notícias em sites de língua árabe, pois traduções ou notícias veiculadas por portais ocidentais podem trazer uma interpretação errada ou mesmo enviesada.
Qual a raiz da influência da língua árabe no português?
Ao podcast Mundioka, Muna Omran, cofundadora e pesquisadora sênior do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio (GEPOM), afirma que a influência da língua árabe está presente no português falado no Brasil.
Omran cita como exemplo as palavras "azeite", que vem do árabe "al-zait"; "algodão", que vem de "al-qutn"; "açougue", que vem de "as-suq"; e "azulejo", que vem de "al-zulaich".
Ela explica que a influência do árabe na língua portuguesa remonta à chegada dos árabes na península ibérica, no século VIII, na época do reino dos Visigodos.
"Quando acontece a morte do rei godo Vitisa, que era o rei godo em 710, pela ausência de herdeiros, Rodrigo, que era o último rei godo, assume. E aí começa a disputa pelo poder, a instabilidade política. E quem vai reunificar [a península ibérica], quem vai entrar e organizar essa disputa é Tariq ibn Ziyad, que era um general muçulmano, que vai enfrentar o rei Rodrigo, e finalmente os árabes se instalam na península ibérica."
Omran afirma que esse contato levou à influência do árabe no espanhol e no português, já que os árabes permaneceram por nove séculos na península ibérica. Ela enfatiza que essa influência ocorreu de forma natural.
Ela acrescenta que essa influência é diferente da observada em outras culturas ocidentais, que impunham suas línguas e seus costumes aos povos dominados.
"Os árabes, ao chegarem na península ibérica, eles não impuseram a sua cultura, eles não impuseram o seu idioma. Ela [influência] foi acontecendo naturalmente e se adaptando, entrando nas entranhas, por exemplo, da língua portuguesa. Então o português continua a falar português. O árabe se adequa ali, eles foram trazendo algumas contribuições. Situação contrária a países do Ocidente, que têm o desejo do imperialismo, da colonização, que impuseram a língua do colonizador. É o caso do Brasil, é o caso dos países das Américas, é o caso dos países da América Latina. O português, os espanhóis, eles impuseram, eles destruíram, acabaram com as populações nativas", afirma Omran.
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