A União Europeia foi destino de 3% das exportações de carnes brasileiras de janeiro a outubro deste ano, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). O bloco europeu comprou 67 mil toneladas de carne bovina.

A França, país de origem do grupo Carrefour, que puxou um boicote às carnes produzidos no Mercosul, bloco do qual o Brasil faz parte, respondeu por 0,02% das vendas externas brasileiras até outubro. Nos primeiros dez meses de 2024, o país europeu comprou 314 toneladas de carnes brasileiras.

A China, principal destino das carnes bovinas produzidas no Brasil, comprou 1 milhão de toneladas -o país responde, sozinho, por quase 50% das carnes brasileiras vendidas ao exterior.

Na última semana, duas grandes redes varejistas com sede na França, Carrefour primeiro e depois a Intermarché, anunciaram que deixariam de comprar carne de países do Mercosul, em reação ao avanço das tratativas por acordo entre o bloco econômico sul-americano e a União Europeia.

A Embaixada do Brasil na França disse nesta segunda que é falsa a declaração de que haveria risco de "saturação no mercado francês por uma produção de carne que não respeita suas exigências e normas", em resposta a declarações feitas pelo presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, ao anunciar a medida em redes sociais.

A França não aparece nem mesmo entre os dez maiores compradores de carnes do Brasil, o que torna limitado o impacto econômico da medida.

A decisão de boicote pela Carrefour seria restrita, inicialmente, às lojas da França. O aceno aos agricultores franceses respingou no Brasil, onde a rede foi pega de surpresa e já sente os efeitos do incidente: lojas em São Paulo começam da registrar ruptura depois que JBS e Masterboi suspenderam fornecimento à rede.

O Carrefour opera no Brasil sob três marcas. Além da rede que leva o nome do grupo, também o Sam's Club e o Atacadão.

Segundo o relatório de resultados do terceiro trimestre, são 1.041 lojas em operação no país. O grupo teve receita consolidada total de R$ 28,3 bilhões no período e lucro líquido de R$ 221 milhões.

A França é refratária à negociação com a União Europeia. Segundo o ministro brasileiro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, atinge também o comércio de aves.

A União Europeia consome 6,5 milhões de toneladas de carne bovina ao ano, segundo a Embaixada do Brasil na França. Desse total, apenas 5% é importado. "A Europa exporta mais carne bovina do que importa. A cota de carne bovina destinada ao Mercosul corresponde a apenas 1,5% do consumo europeu", diz a embaixada em nota.

No ano passado, combinados os 27 países do bloco, a União Europeia comprou 77,6 mil toneladas de carne bovina brasileira. Em 2022, foram 85,3 mil toneladas. Nos dois anos, o bloco figurava como o quinto destino com maior volume de compras do produto brasileiro atrás de Egito e Hong Kong, em 2022, e de Chile e Hong Kong, em 2023.

Em 2024, os Emirados Árabes estão assumindo o posto de terceiro comprador em volume.

A Abiec, que reúne 43 empresas do setor no país, responsáveis por 98% da carne negociada para mercados internacionais, diz que a decisão do Carrefour é infundada e desprovida de coerência