Bolsonaro apresentou minuta de golpe a comandantes das Forças Armadas, diz PF

General mobilizou golpistas para criar 'cenário caótico' 2 dias antes de diplomação de Lula, diz PF

Bolsonaro apresentou minuta de golpe a comandantes das Forças Armadas, diz PF
Bolsonaro apresentou minuta de golpe a comandantes das Forças Armadas, diz PF

Foto: © VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

General mobilizou golpistas para criar 'cenário caótico' 2 dias antes de diplomação de Lula, diz PF

Demétrio Vecchioli, Brasília, Df (folhapress) - 28/11/2024 09:11:24 | Foto: © VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

General mobilizou golpistas para criar 'cenário caótico' 2 dias antes de diplomação de Lula, diz PF

THAÍSA OLIVEIRA, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Contas de WhatsApp vinculadas ao general da reserva Mario Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), encaminharam mensagens para criar um "cenário caótico" em Brasília dois dias antes da diplomação de Lula (PT) e forçar as Forças Armadas a agir.

O comunicado identificado pela Polícia Federal convocava os manifestantes para uma manifestação em 10 de dezembro de 2022. Lula foi diplomado em 12 de dezembro de 2022 -data antecipada em uma semana a pedido da campanha do presidente eleito diante dos protestos golpistas em frente a quartéis.

O texto compartilhado pelo WhatsApp em 2022 dizia ser preciso fazer "a maior mobilização da história do Brasil" em 10 de dezembro "para que o cenário caótico estabelecido a nível nacional seja impossível de ser resolvido sem a convocação das Forças Armadas".

A mensagem também orientava as pessoas a repassarem a convocação individualmente e apagarem depois: "Depois de mandar essa mensagem e se certificar de que as pessoas a receberam, apague-a. Para que não fique registrado em nenhum WhatsApp. Chegou a hora, povo brasileiro".

"A investigação identificou mensagens que foram encaminhados entre contas de WhatsApp vinculadas ao próprio general Mario Fernandes, possivelmente com o intuito de preservar o conteúdo e dificultar a identificação do interlocutor da mensagem", diz o relatório da PF divulgado nesta terça-feira (26).

No dia em que Lula foi diplomado, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, incendiaram veículos, tentaram arremessar um ônibus de um viaduto, espalharam botijões de gás pela cidade e cercaram o hotel onde ele estava hospedado.

Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano para golpe, diz PF

CÉZAR FEITOZA, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro liderou a trama golpista no final de 2022, e a ruptura democrática não foi concretizada por "circunstância alheias à sua vontade", disse a Polícia Federal no relatório final da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.

"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz.

As informações estão no relatório final da investigação da PF sobre tentativa de golpe de Estado em 2022. As conclusões da investigações foram entregues na quinta-feira (21) ao STF (Supremo Tribunal Federal) e tornadas públicas pelo ministro Alexandre de Moraes nesta terça-feira (26).

O relatório foi enviado para análise da PGR (Procuradoria-Geral da República). O órgão é o responsável por avaliar as provas e decidir se denuncia ou não os investigados.

Segundo a corporação, os 37 envolvidos cometeram três crimes: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, desconsiderando os agravantes.

Bolsonaro negou na segunda-feira (25) que tivesse conhecimento sobre planos apurados pela PF para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes. "Esquece, jamais. Dentro das quatro linhas não tem pena de morte", afirmou.

O ex-presidente, porém, confirmou que discutiu com aliados e militares a possibilidade de decretar estado de sítio após a derrota na disputa eleitoral de 2022 –o que, para Bolsonaro, não configuraria golpe nem crime.

"Tem que estar envolvidas todas as Forças Armadas, senão não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando", disse Bolsonaro.

"Da minha parte nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse pedir golpe para mim, ia falar, tá, tudo bem, e o 'after day'? E o dia seguinte, como é que fica? Como fica o mundo perante a nós. (...) A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário."
A investigação da Polícia Federal mostrou que, no fim de 2022, o então presidente Bolsonaro, aliados e militares passaram a discutir minutas de decreto golpistas com o objetivo de anular o resultado das eleições presidenciais, sob a falsa alegação de fraudes nas urnas eletrônicas.

Os textos passaram por mudanças ao longo de novembro e dezembro, algumas feitas por ordem de Bolsonaro. Com o texto alinhado entre aliados, o então presidente convocou os chefes das Forças Armadas para sondar o apoio dos militares à proposta golpista.

Em depoimento à Polícia Federal, o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, disse que o general Freire Gomes, à época comandante do Exército, chegou a dizer que prenderia Bolsonaro se ele avançasse com os intentos golpistas.

"Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", disse Baptista Júnior em depoimento.

O único chefe militar que apoiou os planos de Bolsonaro foi o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Segundo a PF, ele colocou as tropas à disposição do ex-presidente para a consumação do golpe de Estado. O almirante ficou em silêncio diante da Polícia Federal.

Mesmo após a negativa dos chefes do Exército e da Aeronáutica, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, fez novos apelos para os comandantes das Forças Armadas. O militar foi a peça principal do governo Bolsonaro no ataque às urnas eletrônicas.

A Polícia Federal descobriu na reta final do inquérito que o general da reserva Mario Fernandes, que trabalhava no Palácio do Planalto, elaborou um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. Ele conseguiu apoio de outros militares, que executaram parte do planejamento.

O documento com o passo a passo do plano golpista foi impresso por Mario no Palácio do Planalto com o título "Punhal Verde Amarelo". Ele previa a participação de seis pessoas, com celulares descartáveis e formatados, e o uso de armamento exclusivo do Exército para o assassinato das autoridades.

O plano ainda previa outras possibilidades de execução dos alvos, como o uso de artefatos explosivos e envenenamento em evento público.

As investigações apontaram uma estrutura por meio de divisão de tarefas, com a existência dos seguintes grupos:
Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado Núcleo Jurídico Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas Núcleo de Inteligência Paralela Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas O lado golpista de Bolsonaro é conhecido de longa data.

Saudosista da ditadura militar (1964-1985), ele reiterou ao longo de anos sua tendência autoritária e seu desapreço pelo regime democrático. Negou a existência de ditadura no Brasil e se disse favorável a "um regime de exceção", afirmando que "através do voto você não vai mudar nada nesse país".

Na Presidência, deu a entender em 2021 que não poderia fazer tudo o que gostaria por causa dos pilares democráticos. "Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil."
Lula derrotou o então presidente Bolsonaro em 2022 após uma acirrada disputa de segundo turno. Durante seu mandato e após a derrota, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas.

Bolsonaro questionou a legitimidade das urnas, ameaçou não entregar a Presidência a Lula após a derrota eleitoral, atacou instituições como o STF e o TSE e estimulou a população a participar de atos golpistas

Bolsonaro apresentou minuta de golpe a comandantes das Forças Armadas, diz PF

Foi o próprio Jair Bolsonaro (PL), então presidente da República, quem apresentou em 2022 a minuta do golpe aos comandantes da Forças Armadas, de acordo com a Polícia Federal.

No relatório, a PF diz que o general Marcos Antonio Freire Gomes, então comandante do Exército, afirmou como testemunha que "participou de reuniões no Palácio do Alvorada após o segundo turno e que Bolsonaro apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei de Ordem), Estado de Defesa e Estado de Sítio."
No depoimento, Freire Gomes afirmou também que foi convocado por Bolsonaro, por meio do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, a comparecer a reunião no Alvorada no dia 7 de dezembro.

O comandante do Exército confirmou a presença de Nogueira, do comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, e do então assessor para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins.

Freire Gomes confirmou que, durante a reunião, foi apresentado material apreendido no celular do ajudante de ordens Mauro Cid, que decretava estado de sítio e, ato contínuo, uma Operação de Garantia da Lei de Ordem.

"Após a leitura do documento Felipe Martins se retirou da sala, ficando apenas os militares e o presidente Jair Bolsonaro. Por fim, Freire Gomes relatou que o presidente Jari Bolsonaro informou que o documento estava em estudo e reportaria a evolução aos comandantes", diz a denúncia.

A investigação sobre a trama golpista teve seus principais avanços em fevereiro deste ano. A PF realizou na época a maior operação deste caso, mirando Bolsonaro, aliados e militares envolvidos em discussões para viabilizar um golpe de Estado.

Os planos discutidos no Palácio da Alvorada no fim de 2022 miravam a edição de um decreto que anularia o resultado das eleições presidenciais, sob a falsa alegação de fraudes nas urnas eletrônicas.

Em março deste ano, os então comandantes Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica) confirmaram que o plano foi apresentado por Bolsonaro. Segundo o brigadeiro, o general Freire Gomes chegou a dizer que prenderia Bolsonaro se ele avançasse com os intentos golpistas.

O lado golpista de Bolsonaro é conhecido de longa data.

Saudosista da ditadura militar (1964-1985), ele reiterou ao longo de anos sua tendência autoritária e seu desapreço pelo regime democrático. Negou a existência de ditadura no Brasil e se disse favorável a "um regime de exceção", afirmando que "através do voto você não vai mudar nada nesse país".

Na Presidência, deu a entender em 2021 que não poderia fazer tudo o que gostaria por causa dos pilares democráticos. "Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil."
Lula derrotou o então presidente Bolsonaro em 2022 após uma acirrada disputa de segundo turno. Durante seu mandato e após a derrota, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas.

Bolsonaro questionou a legitimidade das urnas, ameaçou não entregar a Presidência a Lula após a derrota eleitoral, atacou instituições como o STF e o TSE e estimulou a população a participar de atos golpistas.

PF diz que Bolsonaro saiu do país no fim de 2022 para evitar prisão e aguardar desfecho do 8 janeiro

CAIO CRISÓSTOMO, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - No relatório final sobre a trama golpista, a Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados deixaram o Brasil no fim de 2022 para evitar uma prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas no dia 8 de janeiro de 2023.

Segundo a PF, Bolsonaro tinha conhecimento dos atos do 8 de janeiro e mantinha contato com os financiadores dos acampamentos em frente aos quartéis.

"Apesar de não empregado no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, Jair Bolsonaro, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 ( "festa da Selma")", diz um trecho do relatório final da PF.

Para sustentar a alegação do conhecimento de Bolsonaro sobre o 8 de janeiro, os investigadores da PF usam uma troca de mensagens do então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, com o também militar Sérgio Cavaliere –ambos indiciados.

Segundo o relatório da PF, em um diálogo realizado em 4 de janeiro de 2023, Cavaliere questiona Cid se há algo para acontecer. Em resposta, o então ajudante de ordens de Bolsonaro encaminha duas mensagens que foram apagadas e complementa que é algo "bom".

"No dia 04/01/2023, Cavaliere pergunta se "Ainda tem algo para acontecer?", referindo-se, possivelmente, a uma ruptura institucional. Mauro Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas. Diante do conteúdo das mensagens apagadas, Cavaliere indaga: "Coisa boa ou coisa horrível?" e em seguida diz: "Bom". Mauro Cid em resposta à pergunta de Cavaliere diz: "Depende para quem. Para o Brasil é boa", diz o relatório da PF sobre o diálogo.

A PF afirma ainda que núcleos próximos de Bolsonaro mantinham frequentes contatos com os financiadores dos acampamentos em frente aos quartéis que culminaram no atos do 8 de janeiro.

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