Por Miguel Lucena: Bye, bye, Cacá Diegues

Adeus aos pequenos espetáculos, adeus ao circo, adeus às ruas cheias de vida. A caravana partia enquanto o Brasil estacionava diante da tela, absorvendo a nova forma de entretenimento

Por Miguel Lucena: Bye, bye, Cacá Diegues
Por Miguel Lucena: Bye, bye, Cacá Diegues

Por Miguel Lucena - 14/02/2025 21:25:28 | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Cacá Diegues sabia que tudo era finito. Em sua obra, filmou o Brasil em transformação, flagrou o instante em que o passado começava a se dissolver diante do presente e registrou o quanto a modernidade engolia a tradição. Em Bye Bye, Brasil (1979), sua câmera acompanhou os artistas mambembes da Caravana Rolidei, que cruzavam um país onde a magia dos palcos de lona perdia espaço para a hipnose da televisão. O Brasil mudava, e Cacá Diegues, com seu olhar sensível, soube capturar essa despedida melancólica e, ao mesmo tempo, fascinante.

Adeus aos pequenos espetáculos, adeus ao circo, adeus às ruas cheias de vida. A caravana partia enquanto o Brasil estacionava diante da tela, absorvendo a nova forma de entretenimento. Mas a arte de Cacá Diegues não era apenas sobre despedidas. Era também sobre encontros, sobre o que fica no coração dos que seguem viagem. Ele nos ensinou que, apesar das mudanças, sempre há beleza nos momentos vividos.

Cacá Diegues não apenas filmou o Brasil — ele o compreendeu. Em Tieta do Agreste (1996), sua adaptação do romance de Jorge Amado, mergulhou na cultura nordestina, dando vida ao choque entre o conservadorismo e a liberdade, entre o desejo reprimido e a afirmação da própria identidade. Suas histórias transitavam entre a dureza da realidade e o brilho da poesia, um reflexo do país contraditório e vibrante que ele tanto amou.

Agora, é Cacá Diegues quem se despede. Mas seu cinema permanece, pulsante como o riso de um palhaço no picadeiro, forte como o vento que sopra pelas estradas, poético como o último aceno de uma caravana que parte. Sua obra, assim como o Brasil que ele filmou, é feita de movimento, de idas e vindas, de chegadas e despedidas.

Bye, bye, Cacá Diegues. O espetáculo continua.

Comentários para "Por Miguel Lucena: Bye, bye, Cacá Diegues":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório