Por Maria José Rocha Lima: Amador Amadeu – Pela Liberdade de Expressão!

Dissertação de mestrado intitulada A Edição e Crítica Filológica de Pau e Osso S/A do Amador Amadeu: O Teatro Amador em Cena foi defendida no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia em 2014

Por Maria José Rocha Lima: Amador Amadeu – Pela Liberdade de Expressão!
Por Maria José Rocha Lima: Amador Amadeu – Pela Liberdade de Expressão!

Por Maria José Rocha Lima - 22/02/2025 07:51:05 | Foto: Reprodução

Entre 1975 e 1978, integrei o Grupo de Teatro Amador Amadeu, um dos mais destacados no cenário baiano da época. O Serviço Nacional de Informações (SNI) registrou suas atividades, mas foi a acadêmica Carla Ceci Rocha Fagundes quem transformou a trajetória do grupo em uma dissertação de mestrado intitulada A Edição e Crítica Filológica de Pau e Osso S/A do Amador Amadeu: O Teatro Amador em Cena, defendida no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia em 2014. Embora o foco da dissertação não fosse a liberdade de expressão, o trabalho acabou revelando “um período no qual imperava o cerceamento às liberdades, tanto individuais quanto coletivas”.

Ao entrevistar os atores Rogério Menezes e Fernando Fulco, a pesquisadora evidenciou o desejo dos integrantes do Amador Amadeu de disseminar a reflexão e atingir as camadas marginalizadas da sociedade. Assim como outros grupos amadores, o Amador Amadeu lutou para produzir e encenar seus textos, destacando-se pelo engajamento social e político.

O grupo era composto por Rogério Menezes (diretor e líder), Fernando Fulco, Maria José Rocha Lima (Zezé Rocha), Paulo Bittencourt, Walter Seixas, Lúcia Bastos, Rosa Bastos, Aydil Goret, Tina Melo e Jota. Entre os espetáculos encenados estão Pau e Osso S/A (criação coletiva), Gran Circo Raito de Sol ou Gran Circo Latino Americano (criação coletiva), O Cabaret O Segredo de Laura apresenta: Xô, Galinha Show (criação coletiva) e Senhor Puntilla e o Seu Criado Matti (de Bertolt Brecht).

O primeiro texto produzido pelo grupo foi Pau e Osso S/A, em 1975. Ambientada em um supermercado, a peça abordava os problemas sociais do Brasil, uma atitude ousada no contexto político da época. O texto sofreu censura, com trechos vetados, e a apresentação foi liberada apenas para maiores de 14 anos.

Em 1976, o grupo produziu Gran Circo Raito de Sol ou Gran Circo Latino Americano, utilizando o circo como cenário para narrar situações sociais. Os trapezistas simbolizavam os trabalhadores da construção civil, e o globo da morte representava os ônibus do bairro da Liberdade. O texto, criado a partir de improvisações dos atores, passou mais de cinquenta dias em avaliação pelos órgãos censórios e foi completamente vetado por ser considerado “muito realista”. A estreia, marcada para o dia 22 de outubro de 1976, no Centro Comunitário IAPI, foi cancelada, gerando revolta no público, que organizou um abaixo-assinado pedindo a liberação do espetáculo.

Em 1978, o Amador Amadeu encenou sua última peça, O Cabaret O Segredo de Laura apresenta: Xô, Galinha Show. A apresentação foi autorizada com restrições, permitindo apenas a entrada de maiores de 18 anos. Segundo Rogério Menezes (2013), o espetáculo foi “propositalmente um happening anarquista que se pretendia demolidor”. O diretor, já afastado do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), declarou ter uma visão crítica e irada em relação aos comunistas em geral. Assim, se a anarquia já estava presente nas produções anteriores, em Xô, Galinha Show houve uma radicalização desse posicionamento.

Em 1979, conforme já era esperado desde a encenação de Xô, Galinha Show, o grupo encerrou suas atividades. Rogério Menezes, fundador e líder do Amador Amadeu, afirmou: “Propositadamente, quis encenar Xô, Galinha Show como se fosse (e foi) um atestado de óbito do Amador Amadeu. Já não acreditava mais que nós, aquele bando de porra-loucas, poderíamos mudar o mundo”. Assim, o Amador Amadeu saiu de cena, deixando seu legado na história do teatro baiano e na luta pela liberdade de expressão.

[1] Maria José Rocha Lima (Zezé Rocha) é professora, mestre em Educação, doutora em Psicanálise. Foi deputada estadual de 1991 a 1999, presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira e ex-atriz do teatro amador.

Comentários para "Por Maria José Rocha Lima: Amador Amadeu – Pela Liberdade de Expressão!":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório