Filme brasileiro 'O Último Azul' leva o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim

Por que o Festival de Berlim premia cineastas com um Urso de Ouro?

Filme brasileiro 'O Último Azul' leva o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim
Filme brasileiro 'O Último Azul' leva o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim

Berlim, Alemanha (folhapress) - 23/02/2025 10:49:14 | Foto: © GUILHERMO GARZA/DESVIA

O filme "O Último Azul", do cineasta Gabriel Mascaro, ganhou o Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim, na tarde deste sábado (22), considerado o segundo maior prêmio do evento, atrás apenas do Urso de Ouro, que foi para o norueguês "Drommer", de Dag Johan Haugerud.

O Brasil já levou o Urso de Ouro em duas ocasiões -com "Central do Brasil", em 1998, de Walter Salles, e com "Tropa de Elite", em 2008, de José Padilha.

O filme de Mascaro, com Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, imagina um país que despacha idosos a partir dos 75 anos para colônias, que soa como eufemismo de um governo de slogans e publicidade. A protagonista, Tereza, vivida por Weinberg, prestes a ser exilada, resolve fazer uma coisa que nunca fez na vida e, para tanto, parte em uma jornada pelo único caminho clandestino que lhe restou, os rios amazônicos.

Com uma participação pontual, Santoro dá lastro internacional ao filme no papel de Cadu, um barqueiro que aparece no caminho de Tereza. A obra, exibida nos primeiros dias do evento, era uma das favoritas da competição, liderando em avaliações positivas nas tabelas de críticas de revistas como a Screen International.

Entre os outros premiados, o chinês Huo Meng levou o Urso de Prata de melhor direção por "Living the Land", enquanto o romeno Radu Jude, veterano do festival, ganhou o prêmio de melhor roteiro por "Kontinental '25".

No flanco das atuações, o Urso de Prata de atuação principal foi para Rose Byrne, por "If I Had Legs I'd Kick You", enquanto Andrew Scott foi eleito o melhor coadjuvante, por "Blue Moon", de Richard Linklater.

O júri desta edição foi presidido por Todd Haynes, autor de "Segredos de um Escândalo", e tinha como membros o diretor franco-marroquino Nabil Ayouch, a atriz chinesa Fan Bingbing, a figurinista alemã Bina Daigeler, o cineasta argentino Rodrigo Moreno, a crítica de cinema americana Amy Nicholson e a atriz alemã Maria Schrader.

Na competição principal da Berlinale, o Brasil também já foi destaque com o Grande Prêmio do Júri, espécie de segundo lugar, quando "A Queda", de Ruy Guerra e Nelson Xavier, foi laureado em 1978. Três brasileiras levaram o prêmio de melhor atriz –Fernanda Montenegro, por "Central do Brasil", Marcélia Cartaxo, por "A Hora da Estrela", em 1986, e Ana Beatriz Nogueira, por "Vera".

Já os curtas nacionais "Ilha das Flores", de 1990, e "Manhã de Domingo", em 2022, venceram a principal competição do evento.

Nesta edição, "A Hora do Recreio", documentário da diretora brasileira Lúcia Murat, ganhou uma menção especial do júri jovem da mostra Generation, voltada ao público infantojuvenil.

Conheça os vencedores da competição principal do Festival de Berlim deste ano a seguir.

Urso de Ouro
"Drommer", de Dag Johan Haugerud
Grande Prêmio do Júri
"O Último Azul", de Gabriel Mascaro
Prêmio do júri
"El mensaje", de Iván Fund
Melhor direção
Huo Meng, por "Living the Land"
Melhor atuação principal
Rose Byrne, por "If I Had Legs I'd Kick You"
Melhor atuação coadjuvante
Andrew Scott, por "Blue Moon"
Melhor roteiro
Radu Jude, por "Kontinental '25"
Melhor contribuição artística
Lucile Hadzihalilovic pelo conjunto do filme "La Tour de Glace"

Por que o Festival de Berlim premia cineastas com um Urso de Ouro?

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE, BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Vencedores do Festival Internacional de Cinema de Berlim são laureados na competição oficial com Ursos de Ouro e de Prata. Mas de onde veio o urso?
O animal está em quase todos os cantos da capital alemã. É o símbolo afetivo e oficial da cidade-estado, estampado até em sua bandeira e em inúmeras estátuas. A origem remonta ao século 13, quando a cidade se estabeleceu no cruzamento de duas grandes rotas comerciais, às margens do rio Spree. Ainda havia ursos em boa parte da Europa, mas o nome não é derivado do bicho, mas sim o contrário.

O nome Berlim tem origem eslava e raiz na palavra correspondente a pântano, o que bate com a característica geográfica do norte da Alemanha, de terras baixas. A proximidade com o "Bär" do alemão, de sonoridade parecida com o "Bear" do inglês, fez o resto do trabalho. No próprio século 13 a figura do urso já aparecia no brasão da cidade, crescendo em popularidade desde então.

Uma das perguntas mais frequentes relacionadas à Alemanha no Google é se existem ursos no país. Não há, eles são considerados extintos desde o século 19, como em boa parte do território europeu. Em 2006, Bruno, um jovem macho vindo da Áustria, virou sensação, mas causou tantos transtornos na Baviera que acabou abatido por caçadores.

Também nos anos 2000, seguindo uma onda mundial de arte de rua, Berlim ganhou centenas de versões coloridas em fibra de vidro do Buddy, um urso com braços levantados, em sinal de amizade e otimismo. Sobrevivem até hoje em vários cantos da capital alemã.

O Urso de Ouro da Berlinale surgiu junto com o festival, criado em plena guerra fria para dar peso institucional a Berlim Ocidental, então cercada pela Alemanha Oriental e por tropas soviéticas. A escultura foi inspirada em uma obra de 1932 de Renée Sintenis, artista plástica que ficou popular e rica vendendo pequenas versões do bicho, de 15 cm, antes da Segunda Guerra.

A atual versão é dos anos 1960, quando o urso ganhou uma característica significativa: no lugar de ter o braço direito levantado, como no brasão da cidade, agora é o esquerdo que fica mais alto. Qualquer relação com o caráter político do festival, assim visto desde sua criação, parece mais do que coincidência.

Desde 2010, o Urso de Ouro da Berlinale, de bronze e folheado a ouro, tem 20 cm de altura e quatro quilos de peso. E coleciona uma lista histórica de premiados, que vai de Ingmar Bergman a Pier Paolo Pasolini, de Rainer Werner Fassbinder a Paul Thomas Anderson.

Walter Salles, com "Central do Brasil", de 1998, e José Padilha, com "Tropa de Elite", de 2008, são os únicos diretores brasileiros com filmes laureados em Berlim. Gabriel Mascaro concorre neste ano com "O Último Azul". O resultado será anunciado neste sábado (22).

Além do Urso de Ouro, a Berlinale distribui Ursos de Prata em sete categorias, incluindo o Grande Prêmio do Júri, que funciona como uma espécie de segundo lugar.

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