Brasil bate recorde de passageiros internacionais, mas especialistas apontam potencial pouco explorado

O levantamento foi feito pela Folha com base em informações da Anac.

Brasil bate recorde de passageiros internacionais, mas especialistas apontam potencial pouco explorado
Brasil bate recorde de passageiros internacionais, mas especialistas apontam potencial pouco explorado

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O levantamento foi feito pela Folha com base em informações da Anac.

Nicholas Pretto E Paulo Ricardo Martins, São Paulo, Sp (folhapress) - 24/12/2024 10:07:23 | Foto: Divulgação

O número de passageiros que embarcaram em voos internacionais partindo ou chegando no Brasil superou neste ano o patamar pré-pandemia e alcançou um novo recorde para o século. De janeiro a outubro, o país contabilizou cerca de 19,79 milhões de viajantes nesse perfil, um aumento de 17% na comparação com o mesmo período de 2023.

O levantamento foi feito pela Folha com base em informações da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e considera rotas com ao menos 400 passageiros pagos anuais, incluindo partidas e chegadas, em voos regulares. Viajantes em voos que fazem escala no Brasil sem imigrar não foram incluídos.

Especialistas afirmam que a alta reflete uma trajetória de recuperação após o baque sofrido pelo setor na pandemia. Segundo eles, porém, o segmento internacional está aquém do seu potencial.

Na visão do economista José Roberto Afonso, o país tem um mercado ainda muito concentrado na América Latina, com rotas volumosas direcionadas, sobretudo, aos países vizinhos.

Neste ano, o número de passageiros em voos para o Chile teve o maior crescimento absoluto entre os países analisados. Entre os dez destinos que mais cresceram, aparecem também Argentina, Peru, Colômbia e Uruguai.

"É um mercado pequeno e ainda muito preso à América Latina, nos vizinhos. É uma aviação internacional com um forte componente regional", afirma Afonso.

Ao considerar a variação percentual, destinos como África do Sul e República Dominicana se destacam. Desde 2023, a companhia aérea dominicana Arajet passou a operar voos entre o Brasil e o país caribenho -inicialmente para a capital, Santo Domingo. Neste ano, a empresa iniciou a operação de um trajeto entre São Paulo e Punta Cana. Também em 2023, a South African Airways lançou voos conectando a África do Sul e o Brasil.

No geral, as viagens com partida ou destino aos Estados Unidos concentram a maior parte dos passageiros internacionais (mais de 3,4 milhões neste ano). Em 2024, o país norte-americano foi o terceiro com maior ganho absoluto de viajantes em trajetos para o Brasil na comparação com 2023. Foram 274,1 mil passageiros a mais.

"Certamente tem muito mais a ver com brasileiro indo para lá do que americano vindo passar férias no Brasil. O país precisa fazer um esforço monumental para melhorar a sua capacidade de atração de turistas", diz Afonso.

Juan Sarmiento, diretor de economia e estatística da Alta (Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo), diz que, na América Latina , o setor aéreo vem registrando um crescimento mais forte do que em regiões como Europa e América do Norte. Segundo ele, os mercados europeu e norte-americano são mais maduros e, por isso, o crescimento não é tão significativo.

De acordo com dados da entidade, o número de viagens per capita na América Latina é de 0,64 viagens por ano. No Brasil, o número cai para 0,47 viagens per capita. Nos EUA e na Europa, o índice é superior a 2,5.

A espanhola Iberia diz que neste ano os voos da empresa entre Espanha e Brasil vão somar 470 mil assentos disponibilizados em 2024, um aumento de 51% na comparação com o ano anterior e de 12% em relação ao período pré-pandemia. De acordo com a companhia, as rotas para cidades brasileiras tiveram protagonismo em 2024 e são destinos estratégicos.

À reportagem, o diretor de operações da Iberia, Ramiro Sequeira, diz que brasileiros estão viajando bastante à Espanha, a passeio e também com a intenção de morar no país. "Estamos a apostar forte no mercado brasileiro."
Na visão de Carlos Antunes, diretor para as Américas da portuguesa TAP, a variação cambial e a recente desvalorização do real são fatores a serem levados em consideração na política de precificação da companhia.

"Na nossa opinião, o passageiro brasileiro não deixa de viajar pela desvalorização cambial. Mas, sim, é um viajante que precisa de estabilidade para saber com o que pode contar e planejar a sua viagem. A oscilação do câmbio, quando perde valor, costuma postergar decisões de compra", afirma.

Nos últimos meses, a TAP lançou rotas ligando Portugal a Florianópolis e a Manaus.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, afirma que o mercado ainda sofre as consequências dos atrasos na entrega de aeronaves, que vêm afetando as cadeias de produção do setor aéreo nos últimos anos. Segundo ele, essa é uma barreira para um aumento significativo do número de rotas com destino ao Brasil.

Neste último ano, apesar do crescimento no volume de passageiros em voos internacionais, a quantidade de países conectados com o Brasil por via aérea permaneceu o mesmo de 2023. São, ao todo, 31 países. Em 2015 e em 2016, eram 40.

Para Adalberto Febeliano, especialista em aviação civil, o Brasil precisa investir em produtos turísticos melhores, incluindo hotéis e programas turísticos, e melhorar a segurança pública. "Fazendo uma analogia, nós temos uma matéria-prima de qualidade incrível que não se transforma num turismo de alto valor agregado."

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