A professora Flávia Mazitelli (à esquerda) acompanhou a parte de educação da pesquisa que resultou no guia.
Foto: Arquivo pessoal / Secom Unb
A professora Flávia Mazitelli (à esquerda) acompanhou a parte de educação da pesquisa que resultou no guia.
Por Gabriela Cardoso* Secom Unb - 29/01/2025 07:21:07 | Foto: Arquivo pessoal / Secom Unb
Ao longo de dois anos, projeto tratou temas em oficinas com estudantes de ensino médio e professores da rede pública. Produto final pode auxiliar abordagens em sala de aula.
Um projeto de pesquisa liderado pela UnB, com apoio das secretarias de Educação e de Saúde do Distrito Federal e do Ministério da Saúde, realizou uma série de oficinas e atividades com jovens estudantes e professores da rede pública de ensino do DF entre 2022 e 2024. O objetivo, compreender como esse público entende e lida com temas diversos relacionados à sexualidade e saúde reprodutiva, a fim de sistematizar as melhores abordagens para o assunto nas escolas.
Como resultado, acaba de ser publicado o livro digital Adolover: um guia para educação integral em sexualidade na escola , que pretende auxiliar a disseminação das informações sem tabu, propondo até mesmo dinâmicas e interações. Intitulada Produção e translação do conhecimento na validação de ações de promoção, prevenção e atenção à saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens no DF , a pesquisa teve a coordenação geral da professora do Instituto de Psicologia (IP) Larissa Polejack e foi dividida em três partes: saúde, educação e extensão.
Flávia Mazitelli, professora da Faculdade de Ciências e Tecnologias em Saúde (FCTS) — campus UnB Ceilândia, integrou a equipe da pesquisa em educação, realizada com 64 alunos do primeiro ano do ensino médio e 35 professores de dois colégios públicos de Ceilândia. De acordo com a docente, a pesquisa surgiu para validar uma metodologia de educação integral em sexualidade, a fim de que se abrisse um novo caminho para abordar questões de saúde sexual e reprodutiva com adolescentes.
“A gente esquece da dificuldade que muitas famílias têm em abordar o tema. Além do fato que nem sempre a família é um lugar seguro”, observa Mazitelli, acerca da experiência. Para ela, o ambiente escolar deve ser entendido como um espaço seguro para trabalhar sexualidade, amor próprio e autoestima.
O projeto de pesquisa da UnB realizou 13 oficinas em dois colégios públicos de Ceilândia. Foto: Arquivo pessoal
Os temas foram abordados por meio de oficinas. Além disso, o projeto realizou testagens para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e HIV.
Cinco oficinas de capacitação foram feitas com os professores. A partir da demanda deles, estratégias de abordagem do tema e metodologias de ensino foram discutidas.
O projeto realizou oito oficinas com os estudantes e as temáticas foram decididas a partir das necessidades trazidas por eles: autoestima; violências, identidade de gênero e orientação sexual; respeito à diversidade; protagonismo juvenil; métodos contraceptivos; redes de apoio e proteção.
DINÂMICA – Para Isabella Barbosa, graduanda de Ciências Sociais e participante do projeto, as oficinas foram importantes para “jovens se compreenderem enquanto indivíduos na sociedade”. Para ela, a dinâmica mais emblemática foi a de identidade de gênero, que envolveu matemática e a compreensão do tema.
Para a dinâmica, foram feitos dois círculos no chão com conjuntos numéricos e uma tabela com os símbolos no quadro. A turma foi dividida em dois grupos, cada aluno deveria escolher o conjunto com o qual se identificava e, após instruções da mediadora, que representava a sociedade, ir para o círculo que continha o símbolo.
Após estarem dentro ou fora do desenho, os alunos foram convidados a refletir se aquele era o local que realmente se identificavam, pois os círculos representavam os gêneros feminino e masculino, com estereótipos atribuídos a eles, e fora do círculo seriam a intersecções possíveis.
A maioria dos alunos não ficou confortável onde estava e trocou de lugar. “Foi uma forma de demonstrar como funciona a imposição do padrão de gênero”, lembra Isabella.
IMPACTO – Além de levar o conhecimento acerca de educação sexual, o projeto proporcionou o contato de jovens da periferia com a UnB. Carlos Eduardo Resende Lima, participante das oficinas no Centro de Ensino Médio 12 e visitas à Universidade de Brasília, contou que, após o projeto, “o sonho de ter um diploma da UnB só se intensificou”.
A pesquisa multidisciplinar foi financiada por meio de emenda parlamentar da deputada federal Érika Kokay (PT/DF) e contou com 16 discentes dos cursos de Psicologia, História, Ciências Sociais, Terapia Ocupacional, Saúde Coletiva, Ciência Política e seis docentes, de Saúde Coletiva, Terapia Ocupacional e Psicologia, além da colaboração da Faculdade de Ciências da Saúde (FS).
A partir da análise da coleta de dados em campo, questionários respondidos por alunos e professores e outros registros, o relatório final da pesquisa foi feito. Com base nele, o livro Adolover: um guia para educação integral em sexualidade na escola foi desenvolvido.
Publicado pela Editora Rede Unida, o guia é voltado para educadores e conta com metodologias de ensino da temática e adaptações das oficinas para diferentes realidades. Está disponível de forma gratuita para download.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
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